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Os bons subversivos!

Os bons subversivos!

Estão decididos a apoiar, continuamente, os orfanatos e a pessoa idosa, no país. Mas a sua missão é difundir a mensagem sobre a paz e o amor, desaconselhando a má governação e os seus afins. Estes artistas, rappers e rastas, desenvolvem a sua actividade através da música – o Reggae and Hip Hop – ao vivo. Com o nome dos referidos géneros, há dois anos construíram um movimento artístico bimensal que, em Fevereiro, se materializou pela quarta vez. Nesta edição, travamos uma cavaqueira com o seu coordenador Ras Gotas. Acompanhe…

@Verdade: Como é que nasce a ideia de associar o Reggae ao Rap tendo em conta que, durante muitos anos, estes géneros musicais “andavam” isolados um do outro?

Ras Gotas: O Reggae and Hip Hop é um movimento negro que gera benefícios para o continente africano – porque nós estamos a exibir e a valorizar a (nossa) negritude. Se formos a analisar a situação destes estilos de música, nos anos que correm, vamos perceber que são discriminados. A maior percentagem de pessoas que vai às casas de pasto, a fim de ver um concerto de Reggae, é estrangeira. Eles sabem que o Reggae possui a mensagem Rastafari. É neste sentido que estamos à procura de revolucionar o Reggae e o Hip Hop Underground aqui, no nosso país, ao mesmo tempo que queremos internacionalizá- lo.

@Verdade: Quando é que surge essa ideia?

Ras Gotas: Criámos o conceito há dois anos e começámos a trabalhar no projecto Reggae and Hip Hop em 2013, quando realizámos a primeira edição em Junho. Neste momento estamos na quarta. A programação é bimensal.

@Verdade: Como é que, inicialmente, a ideia de partilhar o mesmo palco foi acolhida pelos artistas que exploram estes géneros musicais distintos?

Ras Gotas: É muito fácil unir os negros a partir de algo que lhe diz respeito – o Reggae e o Hip Hop – porque, na verdade, quem cria barreiras para que África não esteja unida são os governos estrangeiros. Além do mais, eu, por exemplo, venho da linhagem do Hip Hop Underground. Eu era rapper da Brooklyn Weapons, mas o movimento Rastafari conquistou o meu coração. Estou muito bem informado em relação aos dois movimentos, dentro dos quais conheço muitos jovens activos, com muita vontade de trabalhar. As únicas coisas que fizemos têm a ver com a criação de uma banda para acompanhar os artistas de ambos os movimentos que – agora – se tornaram uma única família: Reggae and Hip Hop.

@Verdade: Então, Ras Gotas é o fundador do movimento Reggae and Hip Hop?

Ras Gotas: O correcto é dizer o organizador é o Ras Gotas e os seus parceiros da Black Liberation.

@Verdade: Qual é o grande diferencial deste movimento em comparação com a situação anterior à sua criação?

Ras Gotas: Na verdade, logo no início, o movimento Reggae and Hip Hop teve uma boa reacção dos artistas envolvidos porque estava a propor uma actuação musical ao vivo – o que pressupõe o advento de um nível muito diferente do que se conhecia como Hip Hop no país. É tradição do Reggae cantar-se ao vivo. Portanto, a ideia acabou por ser bem-vinda aos rappers que encontraram espaço para mostrar o que sabem fazer – ao vivo. Notámos que o artista se torna mais profissional quando actua com banda. E é disso o que precisamos – o profissionalismo.

Já não estamos a fazer simplesmente o Rap, mas estamos a produzir música, envolvendo todo o seu abecedário que é algo que muitos produtores do Hip Hop não conhecem. Muitas vezes, os produtores do Hip Hop harmonizam os sons e as batidas, incluindo o “base” e tudo o resto, formam no “fruity loops”, e entregam ao MC para “dropar” – o que não é correcto. Um produtor de especialidade precisa de conhecer o abecedário musical. Se não se conhece o abecedário musical é impossível produzir uma música com padrões de qualidade internacional.

@Verdade: Promover concertos de Hip Hop ao vivo, em Maputo, é uma prática que rompe radicalmente com a tradição – o Playback. Fale-nos das primeiras experiências relacionadas com esta “ruptura e continuidade”.

Ras Gotas: Este movimento é muito forte porque conseguimos sensibilizar os rappers e os rastas para uma iniciativa a longo prazo. Isso significa que eu, Ras Gotas, posso vir a abandoná-lo, mas ele não irá parar. Então, quando é assim, é muito fácil que as pessoas acatem a mensagem disseminada nesse meio porque contém a verdade. Por exemplo, nós não pagamos directamente aos rappers – estamos a falar dos cachês. No entanto, através do After Work Party, criámos as condições a fim de que estes ganhem algum dinheiro do obtido nas actividades desenvolvidas pela banda Black Liberation. Trata-se de um dinheiro que se destina aos artistas. Angariámos algum valor monetário através do produto Quem Sabe Faz ao Vivo para internacionalizar o movimento Reggae and Hip Hop.

@Verdade: Como é que isso funciona? De onde é que vem o dinheiro? Dos ingressos?

Ras Gotas: Sim! Os nossos concertos rendem o suficiente porque conseguimos pagar os custos dos ensaios, pagar os artistas, bem como financiar a vinda de músicos estrangeiros. Por exemplo, agora, estamos com o Black Soldier que é um músico que vem de Cape Town. Há duas semanas esteve cá uma cantora dinamarquesa cuja permanência em Moçambique foi financiada por nós, a partir do dinheiro que as nossas actividades geram.

@Verdade: Sob o ponto de vista de mensagem, existe alguma ideologia associada a este tipo de actuação artístico-musical?

Ras Gotas: Nutrimos o povo com uma mensagem de paz, amor, solidariedade e compreensão. Por exemplo, a maioria das composições dos rappers está contaminada de palavrões – o que nós censuramos. Queremos disseminar conteúdos sobre a luta contra a pobreza, a prostituição e a corrupção. Estamos contra a má governação em África e em Moçambique.

@Verdade: Os shows do Reggae and Hip Hop envolvem muitos artistas, em contra-senso, decorrem em espaços com uma capacidade reduzida para acolher uma grande moldura humana. Quer comentar?

Ras Gotas: Realizamos estes concertos no Bar Gil Vicente, porque esta casa é que patrocinou a iniciativa através do equipamento e do seu espaço, embora este seja pequeno para acolher todos os seguidores do nosso movimento. Infelizmente, ainda não temos dinheiro suficiente para arrendarmos o palco do Centro Cultural Franco-Moçambicano ou organizar o evento na Praça da Independência ou no Estádio da Machava. No entanto, temos capacidades para o efeito. O que precisamos de fazer – e já iniciámos – é mostrar, primeiro, o nosso trabalho e potencial às empresas capazes de financiar a nossa iniciativa. De todos os modos, antes de a nossa obra mostrar sinais seguros de maturidade ninguém poderá querer financiá-lo.

@Verdade: Fale-nos sobre o acesso ao financiamento para a materialização do Reggae and Hip Hop.

Ras Gotas: Um bom projecto cultural não precisa de favores, no entanto, deve ser capaz de se sustentar com fundos próprios, a fim de que o patrocinador o aprecie e, se achar pertinente, o financie. Tenho a certeza de que muitas empresas e estâncias turísticas – porque o nosso movimento também é turístico – podem patrociná-lo. Mais de 50 porcento das pessoas que consomem o nosso produto são constituídas por turistas. De todos os modos, nós ainda não solicitámos o financiamento de nenhuma empresa ao nosso projecto – o que não significa que não precisamos. Achamos que se as empresas o apreciarem poderão contactar-nos para o efeito.

@Verdade: Existe um propósito especial associado à quarta edição do Reggae and Hip Hop?

Ras Gotas: Vamos gravar o primeiro disco de Reggae and Hip Hop, ao vivo, em Moçambique. Além do mais, neste país, nunca tivemos uma banda que acompanha os rappers e os rastas em concerto. A nossa é a primeira. Portanto, chegou a hora de gravarmos o primeiro trabalho discográfico e é possível que o mesmo seja publicado na África do Sul, onde o nosso movimento é bem recebido. Em função dos resultados que o disco gerar, iremos produzir o primeiro DVD, num evento a acontecer no Centro Cultural Franco-Moçambicano.

@Verdade: Que outros ideais se associam ao Reggae and Hip Hop?

Ras Gotas: O nosso movimento é revolucionário e pretende levar- -nos a despertar a juventude contra a criminalidade, o consumo de drogas e a prática da prostituição. O nosso movimento congrega mais de 250 jovens numa só noite e, como discutimos a mensagem da paz e do amor, estes jovens multiplicam a nossa mensagem nos seus bairros. Temos notado que, nos últimos tempos, os problemas que o país enfrenta cegam a vista das pessoas, fazendo-as pensar que as verdadeiras dificuldades da nação advêm da tensão político-militar, quando, na verdade, sofremos por causa da prostituição, da criminalidade, do consumo de drogas, da corrupção, da discriminação, da embriaguez e da falta de união. Então, sempre que se consegue unir, pelo menos 250 jovens, no mesmo espaço, a mensagem dissemina-se muito rapidamente.

@Verdade: Enfrentam alguma dificuldade na produção do Reggae and Hip Hop?

Ras Gotas: Gastamos muito dinheiro a financiar os ensaios dos artistas envolvidos e a fazer a publicidade. Há pessoas que não vão trabalhar por causa das actividades afins desenvolvidas no contexto da produção do evento. De todos os modos, notamos alguns progressos que se explicam através do crescimento da nossa audiência. Além do mais, nós não tínhamos espaço em Moçambique para falar sobre os nossos projectos na Imprensa. Conquistámos muitos seguidores. O nosso espaço está a ampliar-se porque há pessoas que nos compreendem.

@Verdade: Que planos há para o futuro?

Ras Gotas: Queremos continuar a prestar apoio aos orfanatos e à pessoa idosa – no contexto da nossa responsabilidade social. Queremos continuar a plantar árvores nas escolas e nos postos de saúde, incluindo a construção de latrinas melhoradas onde for necessário.

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