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Município de Maputo faz vista grosa à poluição sonora

Município de Maputo faz vista grosa à poluição sonora

Em Maputo e noutros centros urbanos de Moçambique, certos munícipes, sem consciência cívica, desrespeitam as normas de convivência social. Cada um faz o que lhe convém e, consequentemente, gera-se um caos mas as autoridades baldam-se. É neste estado que as coisas estão, há dois anos, no quarteirão 45, no bairro de Hulene “B”, na cidade de Maputo, onde uma cidadã, que responde pelo nome de Sofia Guerreiro Ali, de 38 anos de idade, se queixa de poluição sonora, mas as estruturas da zona e a edilidade são de tal sorte inertes, que não conseguem impedir que tal aconteça.

Sofia Guerreiro é natural da cidade da Beira, província de Sofala, e fixou-se naquele quarteirão há dois anos. Desde essa altura, ela nunca teve sossego em virtude de o seu vizinho, identificado pelo nome de Ricardo, estar a perturbar o seu descanso e relaxamento com o som do seu aparelho sonoro. Das vezes que ela reclamou de poluição sonora junto do seu contíguo, ouviu palavras indecentes e até chegou a ser ameaçada de expulsão caso continuasse a insistir no assunto.

A nossa entrevista queixa- -se, sobretudo, do facto de o nível do som do aparelho do seu vizinho ser potencialmente agressor aos ouvidos e impede a sua concentração, daí que ela receia que a situação lhe possa causar problemas cardiovasculares e psíquicos, por exemplo. Segundo Sofia, o jovem que promove tal ruído responde pelo nome de Ricardo, é pai de dois filhos menores e trabalha como cobrador num meio de transporte semicolectivo, vulgo “chapa”.

O indivíduo em alusão perturba igualmente o descanso de muita gente naquele quarteirão. As estruturas do bairro e o município de Maputo têm conhecimento do caso – que é frequente nas primeiras da manhã e à noite – mas mostram-se impotentes. @ Verdade contactou o visado para perceber por que razão causa poluição sonora e a sua resposta foi, de forma insolente, de que o aparelho é dele e toca a música na sua residência; por isso, ele pode fazer o que lhe apetecer e à altura que quiser. Sofia assegurou-nos de que o jovem tem agido da mesma forma em relação a outras pessoas que reclamam do mesmo problema.

Os líderes do bairro nada fazem e alegam também que Ricardo tem o direito de fazer o que lhe convém porque está em sua casa e paga todas as taxas à edilidade. Contrariamente ao que seria de esperar, ela não sentiu que estivessem em curso diligências com vista a resolver a situação de que se queixa. Sofia foi aconselhada a deixar os moradores “em paz” e foi enxovalhada publicamente durante uma reunião que tinha sido convocada supostamente para dirimir a questão.

“O chefe do quarteirão acusou-me de estar a incomodar as pessoas com as minhas reclamações e disse que elas estavam cansadas de ouvir as mesmas coisas. E que eu devia mudar de bairro caso não quisesse ouvir mais barulho”, narrou a nossa interlocutora. Orlando Mondlane, chefe do quarteirão 45, disse-nos o seguinte: “O que esta senhora disse não constitui verdade. A intenção dela é manchar a reputação das pessoas”.

Por sua vez, o secretário do bairro Hulene “B”, Chivambo Tai, disse à nossa Reportagem, de forma rude, que o caso relacionado com a poluição sonora de que Sofia se queixa já foi resolvido numa reunião entre os habitantes do quarteirão; por isso, “não vejo razões de queixa, agora”.

Face a esta situação, Sofia contactou as autoridades policiais do Distrito Municipal KaMavota e garantiu que falou directamente com o comandante cujo nome não avançou, que não se pronunciou sobre o assunto. Enquanto isso, alguns moradores que vivem nas proximidades da casa de Ricardo, os quais falaram sob anonimato alegadamente por temerem represálias, indicaram que a poluição sonora já é um assunto que está a colocar os residentes do local de costas voltadas com o próprio chefe do quarteirão. Orlando Mondlane é que promove a desordem por estar a favor das arbitrariedades daquele jovem.

Um residente considerou que o principal problema é que as pessoas não respeitam as normas e estas não funcionam porque as autoridades municipais e do bairro são apáticas. “O que se sabe é que nas zonas residenciais, por exemplo, não se deve “bombar” música em tom alto antes das 06h00 e depois das 21h00. Mas neste quarteirão acontece o contrário e ninguém faz nada”.

O assunto é antigo mas não se tomam medidas

Em relação ao problema a que nos referimos, Joshua Lai, porta-voz do Conselho Municipal de Maputo, reconheceu que o caso já tem “barba branca”. Houve intervenção da Polícia Camarária e parecia que o assunto estava resolvido; por isso, lamenta o facto de a situação prevalecer.

“O som tira o sossego dos munícipes, agrava os problemas cardiovasculares e provoca surdez, daí que serão tomadas medidas para devolver a tranquilidade aos moradores. O que acontece é que os munícipes têm medo de denunciar este tipo de infracções, o que de alguma maneira dificulta o nosso trabalho”, disse Lai, para quem as multas aplicadas resultantes da poluição sonora variam de 2.000 a 5.000 meticais. Mas nem assim as pessoas mudam de atitude. Na prática, a distância entre o que o nosso interlocutor diz e o que acontece no terreno é abismal.

Para justificar a inoperância e a incúria da Polícia Camarária, ele considerou que Ricardo sofre de alguns distúrbios mentais porque não se compreende que depois de ter sido advertido, por várias, vezes continue a cometer o mesmo erro. A Polícia Municipal apela aos munícipes para que denunciem casos similares através dos números 823355 ou 843355.

No Aeroporto o barulho prevalece

A 03 de Julho último, o @Verdade reportou outra situação relacionada com poluição sonora no bairro do Aeroporto “B”, onde a edilidade era acusada de não dar conta do recado, apesar das várias denúncias feitas. Volvidos dois meses, o problema mantém-se: um estabelecimento destinado à venda de bebidas alcoólicas e outros produtos, denominado Mandela`s Place, continua a gerar descontentamento entre os moradores devido ao facto de determinados jovens se concentrarem no local durante horas a fio a “bombar” (conforme a gíria juvenil) música enquanto se embriaga.

O som é sempre alto e incomoda todos os que se encontram nas redondezas, para além de não se respeitar a dor de gente enlutada. Há dias, faleceu uma miúda que vivia nas proximidades do sítio mas a sua família e as pessoas que foram manifestar as suas condolências não escaparam da situação deprimente.

Tal como nos disseram no passado, os residentes daquele ponto da cidade de Maputo explicaram que a farra dos referidos jovens começa, quase sempre, à meia-noite de sexta-feira e continua pela madrugada até ao raiar do sol de sábado. Nessa altura, Lai reconheceu o caso, falou sobre as multas e, como sempre, voltou a acusar os munícipes de não denunciarem. Contudo, apesar de ele estar a par do assunto, até hoje, nada foi resolvido. Os “zaragateiros” continuam a fazer sofrer os moradores e estes parecem estar entregues à sua sorte…

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