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Leonel Manhique: o novo “rei” do basquetebol moçambicano

Leonel Manhique: o novo “rei” do basquetebol moçambicano

Entre os dias 11 e 20 de Abril do ano em curso, o nosso país testemunhou a abertura de uma nova página no basquetebol sénior feminino. Leonel Manhique, que antes era – para o público no geral – um ilustre desconhecido, passou a figurar no topo da lista dos treinadores de elite desta modalidade em Moçambique, depois de conquistar o Campeonato Nacional de Basquetebol ao comando do Clube Ferroviário de Maputo.

Leonel Rodolfo Manhique é um jovem basquetebolista de 31 anos de idade. Iniciou a carreira de treinador na Escola Secundária da Matola, há sensivelmente 14 anos. No escalão de formação, em que sempre esteve associado às escolas, aquele jovem técnico venceu cinco das sete edições do Torneio Inter-Escolar, denominado “Basket Show”. Em 2014, concretamente no passado mês de Abril, Manhique, ao serviço da equipa feminina do Ferroviário de Maputo, acabou com a hegemonia da Liga Muçulmana e de Nazir Salé, conduzindo aquele conjunto à conquista do Campeonato Nacional de Basquetebol do escalão sénior feminino. É com este basquetebolista que o @Verdade conversou nesta semana.

@Verdade (@V) – Como é que se sente depois de se sagrar campeão nacional de basquetebol sénior feminino, ao comando técnico do Ferroviário de Maputo?

Leonel Manhique (LM) – Muito satisfeito e realizado. Foi o corolário do trabalho que tenho vindo a realizar neste clube há sensivelmente dois anos. Quando fui nomeado treinador principal, esta equipa era ainda muito jovem e abandonada. Precisava de estar unida e tecnicamente preparada, o que fui capaz de fazer.

@V – Muitos ficaram surpresos com este título. Será que o mister ficou também, depois de derrotar a poderosa Liga Muçulmana treinada por Nazir Salé?

LM – Como disse anteriormente, este título surge como prémio do trabalho que temos vindo a fazer desde 2012. Aqueles que nos acompanham de perto não ficaram espantados. Pelo contrário. Entenderam, tal como eu, que é o reconhecimento do meu empenho, dos meus colegas da equipa técnica, das minhas jogadoras, bem como do colectivo de dirigentes do Ferroviário de Maputo.

@V – Significa que esperava conquistar este título?

LM – Nós entrámos para vencer o Campeonato Nacional. Sabíamos, de antemão, que teríamos duas equipas fortes como adversárias, nomeadamente a Liga Muçulmana e Politécnica. Mas, graças à leitura dos jogos e ao trabalho de casa que íamos fazendo ao longo da competição, nós conseguimos superar os obstáculos e erguer o título no fim.

@V – Quais foram os grandes segredos para esta conquista?

LM – Nós somos mais do que uma equipa. Somos um grupo, uma família. Esse é o grande segredo. Mas, tecnicamente, favoreceu-nos bastante na conquista deste título o nosso empenho, visto que fazíamos treinos bidiários e tridiários nalguns casos. Devo dizer, igualmente, que a chegada de Gerson Novela para ocupar o cargo de treinador adjunto fortaleceu-nos ainda mais.

@V – Derrotou, na partida final, um colega de profissão com um percurso que se confunde com a história do basquetebol moçambicano sénior feminino. Sente-se, neste momento, o melhor treinador de Moçambique?

LM – Olha, eu já venci treinadores mais velhos e outros com uma larga experiência nesta modalidade. Não comecei neste Campeonato Nacional. Portanto, para mim, roubar o título à Liga Muçulmana e a Nazir Salé foi algo normal, fruto do processo de trabalho, embora todo o trabalhador no desporto alimente o desejo de sempre vencer os melhores.

@V – Sendo um treinador jovem, como é que consegue dividir o balneário com jogadoras que pertencem à sua geração, talvez algumas mais velhas, como são os casos de Rute Muianga e Zinóbia Machanguana?

LM – Não se pode considerar isso uma dificuldade, como também não devem existir problemas por orientar jogadoras mais velhas. Essas, a quem te referes, por exemplo, são atletas com uma larga experiência no basquetebol e talvez com uma idade superior à minha. Mas, o mais importante aqui, é saber manter um bom ambiente de trabalho em que elas saibam respeitar os princípios do treinador e este, por sua vez, que tenha paciência para ouvir e acatar as ideias delas. Ao longo destes dois anos, eu dei total liberdade para que elas possam opinar sobre qualquer ideia que estivéssemos a pôr em prática de forma errada. E devo confessar que isso ajudou bastante na criação de um grupo forte e coeso como o nosso. Ou seja, este título é também graças à experiência das minhas jogadoras.

“O basquetebol moçambicano está muito, mas muito mal”

@V – Como basquetebolista, qual é a opinião que tem sobre estado do basquetebol moçambicano?

LM – O basquetebol moçambicano está muito mal. Mas muito mal. É preciso que os dirigentes deste país se encontrem para reflectir em torno desta modalidade. O facto de a nossa selecção nacional sénior feminina ser vice-campeã africana e, neste momento, estar a caminho do “Mundial”, não significa que nós atingimos os patamares desejados, ou que somos uma potência internacional, até porque temos o exemplo da selecção masculina que, para mim, espelha a nossa realidade.

@V – Se os feitos da nossa selecção sénior feminina não espelham o nosso basquetebol, então como é que se explica aquela prestação durante o “Afrobasket” de Maputo?

LM – É obra de um indivíduo que está ligado a um clube. Se reparar, vai descobrir que aquela selecção é feita com base numa equipa que também foi campeã africana por duas vezes, seja com o Desportivo de Maputo, seja com a Liga Muçulmana.

 

“Queremos atacar a Taça dos Clubes Campeões de África”

@V – O Ferroviário de Maputo vai representar o país nas eliminatórias de acesso à Taça de Clubes Campeões de África. Está preparado para este desafio?

LM – Nós não vamos dormir à sombra da bananeira. Precisamos de fazer dez vezes mais daquilo que fizemos para conquistar o Campeonato Nacional, se realmente quisermos chegar à fase final da Taça de Clubes. Temos de elaborar um programa de trabalho, faltando cinco meses para o arranque daquele torneio, bem como pressionar a direcção do clube para que enriqueça as posições dois e cinco. Precisamos, igualmente, de desenvolver um trabalho intensivo em relação às nossas bases.

@V – Caso isso não aconteça, o que será do Ferroviário de Maputo nas eliminatórias?

LM – Se planificarmos a nossa participação nas eliminatórias, faltando semanas para que o mesmo decorra, nós só iremos passear. Não restam dúvidas. Mas no que às questões técnicas diz respeito, caso a direcção não consiga reforçar a equipa, nós vamos potenciar a matéria-prima que temos à nossa disposição.

O sonho de Leonel Manhique

– Gostaria de treinar a selecção nacional sénior feminina e vencer o Campeonato do Mundo. Estas são as minhas ambições nesta modalidade. Mas estou ciente do tempo e da experiência que são necessários para o efeito.

O percurso de Manhique até à conquista do Campeonato Nacional de Basquetebol

Leonel Manhique começou a trabalhar na formação a nível das escolas. Iniciou a carreira na Escola Secundária da Matola, tendo sido, inicialmente, treinador-adjunto daquela escola que se sagrou vice-campeã da primeira edição do “Basket Show” em 2007, apesar de o principal ter abandonado o cargo antes do fim da competição. Como treinador, Leonel Manhique deu títulos consecutivos aos “Matolinhas” em 2008 e 2009.

Com a chegada de um novo professor de educação física àquela instituição de ensino, em 2010, o jovem técnico foi obrigado a abandonar a Escola Secundária da Matola para abraçar um novo projecto na maior instituição de ensino secundário em Moçambique, a Josina Machel. Na capital do país, Leonel venceu mais uma edição do “Basket Show”, a de 2010.

No ano seguinte, ele regressou à Matola para orientar a Escola Secundária da Zona Verde, equipa com a qual ergueu dois troféus daquela competição, facto que provou a sua supremacia pois, em sete competições, ele foi vencedor de cinco. Depois desta façanha a nível das escolas, Leonel Manhique foi convidado a treinar o conjunto júnior do Clube Matolinhas tendo, mais tarde, sido convidado para coadjuvar Carlos Aik no comando técnico da equipa sénior masculina de basquetebol do Ferroviário de Maputo, clube vencedor da última edição da extinta Liga Vodacom, em 2011.

“Mais tarde fui convidado para treinar as jogadoras seniores femininas do Ferroviário. Foi um desafio para mim, embora estivesse preparado para liderar a construção de um novo grupo de trabalho”, disse Leonel.

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