Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Irmãos procuram a mãe desaparecida

Irmãos procuram a mãe desaparecida

Órfão de pai, Antónia Gonçalves, de 17 anos de idade, desistiu de frequentar a 8ª classe para se dedicar a trabalhos domésticos com vista a criar três irmãos, dos quais o mais novo tem apenas seis anos de idade, em virtude de a mãe, Julieta Soares, lhes ter abandonado, estando desaparecida desde 2013, pouco tempo após a morte do seu marido. Zito Gonçalves e Felisberto Gonçalves, de 15 e 13 de idade, respectivamente, estão, também, prestes a deixar de estudar devido à falta de condições para se manterem na escola.

Julieta Soares saiu de casa, no bairro T3, no município da Matola, numa manhã com o seu novo consorte supostamente para fazer compras algures na capital do país. Entretanto, desde esse dia nunca mais foi vista pelos filhos nem por outro membro da família. O homem com quem deixou o seu lar, cuja residência é desconhecida pelos petizes, também não é visto desde aquela data.

Volvidos alguns dias de ausência, as buscas pela progenitora não surtiram nenhum efeito, porém, os menores mantêm a esperança de encontrá-la. Os quatro miúdos ficaram desesperados, ao que se seguiu uma vida de privações, sobretudo de falta de comida. Como alternativa, Antónia Gonçalves abandonou o banco da escola para lutar pela sobrevivência dos irmãos. Hoje, ela tornou-se chefe de família e clama por apoio.

À nossa reportagem, a miúda disse que não tem a quem recorrer para alimentar os seus dependentes. Dentre os parentes, somente um dos tios efectua visitas ocasionais e sempre que estiver em condições deixa alguns produtos alimentares para os seus sobrinhos confeccioná-los. As pessoas mais próximas das crianças estão horrorizadas com a atitude de Julieta Soares, que supostamente abandonou os filhos de forma deliberada.

A adolescente disse ao @Verdade que é difícil relatar a situação em que ela e os irmãos mais novos se encontram. Eles dependem de pequenos trabalhos remunerados para se alimentarem e a sua sobrevivência tem sido um combate diário, por isso, a incerteza em relação ao futuro é evidente em cada obstáculo. Antónia, Zito e Felisberto acordam cedo para realizarem trabalhos tais como lavar a loiça e limpar o lixo nos domicílios dos vizinhos em troca de um prato de comida e algum dinheiro para satisfazerem fazerem face a outras necessidades.

Os dois rapazes mais velhos, que nunca pensaram nisso antes, agora gerem o pouco dinheiro proveniente dos biscates pensando no dia de amanhã. Entretanto, devido às dificuldades que tendem a aumentar a cada dia que passa, os miúdos pretendem arrendar dois compartimentos do seu domicílio com três quartos para melhorarem a sua renda. Com o pai falecido e a mãe em parte incerta, as crianças a que nos referimos estão à deriva. Segundo Antónia Gonçalves, o seu pai perdeu a vida em 2012.

Desde essa altura, a família começou a passar mal porque o progenitor era a única pessoa que trabalhava. Volvidos alguns meses, a viúva manteve uma relação amorosa com um homem que lhe prometia casamento e com o qual fugiu. O visado frequentava a habitação e era tratado pelos miúdos como padrasto. A rapariga é notavelmente uma pessoa destroçada e sem palavras.

O seu maior pesadelo é ver a adolescência e a infância passarem-lhe ao lado, sem escola e privada de brincar como as crianças da sua idade. Ela contou que não tem com quem dividir a árdua tarefa de proteger e educar os irmãos mais novos. A miúda disse, também, que é preciso redobrar a atenção para cuidar do menino de seis anos de idade cujo acesso à escola é ainda incerto, apesar de ter idade para estudar.

“Eu gostaria de saber um dia por que razão a minha mãe nos deixou nesta situação”. Para a nossa interlocutora, é doloroso perder um pai e pouco tempo depois ser abandonada pela própria progenitora sem pelo menos um adeus. Antónia Gonçalves considerou que a dor de ter uma mãe em parte incerta equipara-se a de ser órfão de progenitor. Decorridos meses, Julieta Soares não dá notícias, o que leva os filhos a pensarem sempre no pior.

Apesar de os rapazes não saberem realmente por que motivos foram deixados à sua sorte pela própria mãe, eles lembram-se de algumas vezes que a senhora se queixava das dificuldades impostas pela vida e manifestava a intenção de desaparecer sem deixar rasto. Por isso, os meninos acreditam que o desaparecimento de Julieta Soares com o seu suposto cônjuge foi um acto premeditado.

“E no dia em que ela saiu de casa, por volta das 05h:00, enquanto ainda estávamos a dormir, ninguém pensava que fosse para sempre e que estivesse efectivamente com o desejo de fugir. Ela e o homem que frequentava a nossa casa como marido dela disseram-nos que iam fazer compras na cidade. Até hoje, não é fácil aceitar que a nossa mãe nos abandonou”, narrou Antónia Gonçalves, com o rosto banhado de lágrimas.

Para além da saudade da mãe e do desamparo, os miúdos queixam-se de estar a levar uma vida miserável. “Não temos água nem energia e recorremos a velas para iluminar a casa e nos dias em que não temos dinheiro para comprá-las dormimos na escuridão. O que mais me dá pena é o facto de o meu irmão mais novo chorar enquanto chama pela mãe. Já não sei o que dizer ao miúdo para se manter calmo”. Antónia, Zito e Felisberto engrossam a lista das crianças que precocemente se tornaram responsáveis pelo seu sustento, submetendo-se a trabalhos impróprios para a sua idade, o que poderá comprometer a sua saúde e o seu futuro.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!