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Toma que te dou: Eis que estamos diante da gritante falta de respeito pelos nossos ídolos

Estamos em presença de uma beleza extraordinária. Decorre o ano de 1996. Em Atlanta. Nos Estados Unidos da América. E a maior lenda do boxe, Muhamad Aly, tem os braços trémulos, levando nas mãos a tocha olímpica para assinalar a abertura dos Jogos Olímpicos de Verão, e marcar os 100 anos deste evento mundial que, de dois em dois anos, congrega os maiores astros do planeta para celebrarem o desporto em todas as suas vertentes.

Aly sofre de Parkison, despeja a chama num espectáculo comovente, e, a América inteira e o mundo todo, ajoelham-se, rendidos, diante do cometa, que vai marcar o início de um espectáculo que era tido como inexcedível pelos próprios americanos e pelos cépticos.

Mas, como é óbvio, os “ianques” e os cépticos enganaram-se: houve outros Jogos Olímpicos que puseram, a todos, de boca aberta e de olhos desorbitados. Pelo espectáculo que nos ofereceram. E um deles foi o último, realizado na China.

Mas eu usei esta entrada, este mito divino mundial do boxe, apenas para lembrar os recentes Jogos Africanos realizados em Maputo. Na verdade faltou-nos a consciência. O patriotismo. O respeito por aqueles que serão, sem qualquer penumbra, os nossos reais ídolos.

Esperava ver, ao lado do Presidente Armando Guebuza, na tribuna de honra, durante a abertura do certame, figuras como Nuro Americano, Ângelo Gerónimo, Chinguia, Luís, Ramos, Belmiro Simango, Benilde Nhalivilo, Aníbal Manave, Luís Cezerilo, Canton, Orlando Conde, Gil Guiamba, Arsénio Esculudes, só para dar alguns exemplos.

Esses é que são o orgulho do nosso desporto – para além da Lurdes Mutola que é um caso recente e indiscutível –, aqueles que levantavam estádios inteiros e pavilhões e que deixaram os seus nomes, indeléveis, na história do desporto moçambicano.

Ignorar essas estrelas será, no mínimo, uma gritante falta de respeito para com os nossos ídolos. E eu, particularmente, não vou culpar o nosso Presidente Armando Guebuza que, como é óbvio, não é nenhum sabe-tudo. É por isso que precisa de assessores.

Então! Que país é este que funciona sem referências? Será que não se lembram daquela misteriosa “sapatada” do guarda-redes Filipe, em defesa da bandeira nacional jogando pela selecção contra a Líbia em pleno Estádio da Machava? São essas imagens que deviam ter passado no “spot” publicitário do Hino dos Jogos Africanos.

O que devia ter estado lá seriam os espectaculares jogos de basquetebol com o Helder Nhandamo “Cobra”, Ilídio Mueteque, Aurélia Manave, Esperança Sambo, as vigorosas entradas de Dover, no futebol, de Chiquinho Conde, Boror, Nico “Danger Man”, as estiradas inesquecíveis de Zé Luís “O Gato”, e de outros astros que fazem parte de uma imbeliscável vitrina de ouro.

Devíamos ter visto, naquele “spot”, as incursões ascendentes da selecção nacional de hóquei em patins, hoje cotada como uma das melhores do mundo, e, mesmo assim, o Governo moçambicano não está a dar cavaco a esta dádiva. São estes, os nossos ídolos no desporto, que podem inspirar a juventude a ser como eles. Ou mais do que eles. Para gáudio da nossa história colectiva.

Paradoxalmente vimos, nesse mesmo “spot”, o Primeiro-Ministro Aires Aly, a inspeccionar as instalações que acolheram os Jogos Africanos. Não tenho nada contra aquele dirigente de proa, até tenho, particularmente, muito respeito por ele. Ele pode ter os seus dotes para a Política, mas no desporto!!!

Pois é: é tempo de começarmos a resgatar o nosso passado com muito respeito, sob o risco de as gerações vindouras não saberem que neste país tivemos jogadores de ouro, que trouxeram glórias para Moçambique. É ou não é?

Um abraço com cheiro a sal da Baía de Inhambane.

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