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Ciclismo: Uma modalidade esquecida em Nampula

Ciclismo: Uma modalidade esquecida em Nampula

A fraca massificação do ciclismo, na cidade e província de Nampula, está a deixar desgastados os poucos praticantes, que continuam a dar o melhor de si com vista a não deixar que este desapareça daquela parcela do país. A falta de torneios, bicicletas e outros meios para a prática desta modalidade desportiva são apontados como os principais motivos que concorrem para a sua eventual extinção.

Não obstante a situação, os atletas ainda procuram meios para sobreviver no actual cenário de abandono. Tal é o caso de Florindo Bernardo, de 40 anos de idade, ou simplesmente Fenda, como é tratado pelos seus admiradores. Ele nasceu no distrito de Meconta, província de Nampula, e é um dos poucos praticantes que amam e praticam o ciclismo todos os dias com vista a imortalizar esta modalidade.

Fenda abraçou esta actividade desportiva em 1997, época em que abriu a sua oficina de reparação de bicicletas para garantir o sustento da sua família. Com o andar do tempo, foi juntando alguns acessórios, tendo montado a sua própria bicicleta, que viria a servir para a prática da modalidade. Volvidos seis anos, ele sentiu que tinha vocação para o ciclismo, daí que o tenha começado a levar a sério. O ciclista chegou a percorrer longos distâncias (mais de 72 quilómetros), como é o caso de Nampula-Meconta, Nampula-Rapale/Namaitha.

Em 2003, Fenda fez parte do grupo de 22 ciclistas fundadores da Associação Provincial de Ciclismo, número este que conheceu um aumento significativo nos primeiros anos após a sua criação e uma baixa substancial nos últimos tempos por falta de apoios financeiro, material e moral. Devido a estes factores, presentemente a agremiação dirigida por Emilton Estevão conta com 10 membros activos que praticam esta modalidade por “amor à camisola”. “Eu pratico o ciclismo porque gosto e acho que nasci ciclista, porque se não fosse isso já teria abandonado à semelhança do que fizeram os meus amigos”, disse.

O nosso interlocutor disse que, ao longo dos anos em que se dedica ao ciclismo, já ganhou vários prémios como resultado da sua participação em diversas provas, uma das quais realizada em 2005 pelo Banco de Moçambique (BM) em Nampula, por ocasião da celebração do seu aniversário. O ciclista ficou na primeira posição, tendo voltado a conquistar o primeiro lugar em duas léguas consecutivas promovidas pela Petromoc. No ano passado, aquando da celebração dos 57 aniversário da cidade de Nampula, ele voltou a vencer.

“Aqui em Nampula estamos mal em termos de premiações. Dos prémios que já recebi nenhum deles me deixou com boas recordações, se não o do dia da cidade de Nampula que era apenas uma bicicleta doada por uma operadora de telefonia móvel. Mas também acabei por vender a bicicleta no valor de 1500 meticais por não ser adequada à prática da modalidade, afirmou, tendo acrescentado que: “Quanto ao resto, os valores variavam entre 750 e 2500 meticais. Mas será que vamos melhorar a prática desta modalidade com incentivos magros que não estimulam os atletas?”.

Problemas que prejudicam a carreira

A falta de bicicletas apropriadas à prática desta modalidade é um dos factores que concorre para a desistência de um número significativo de praticantes a nível da cidade de Nampula. Apesar de ter recebido de um amigo de nacionalidade portuguesa uma bicicleta, Florindo Bernardo disse que o ciclismo enfrenta muitas dificuldades. Ele afirmou que, neste momento, a associação provincial na qual está filiado conta com 10 bicicletas, porém, a sua maioria não está adequada à prática de desporto e, como se não bastasse, algumas encontram-se avariadas.

A falta de pistas para treinos e de apoio financeiro e material fazem com que o ciclismo não conheça as mudanças a nível da província, sobretudo na capital provincial de Nampula. “Apesar de não estar a receber apoio em termos de material por parte da associação, não vou desistir. Vou continuar a trabalhar para levar o ciclismo em Nampula a bom porto”, salientou.

Num outro desenvolvimento, Fenda mostrou-se desapontado com a federação moçambicana da modalidade, pelo facto de esta não ter cumprido com o calendário da realização do campeonato nacional referente à edição 2013, cujo palco seria a província de Nampula. Aquele organismo invocou a falta de fundos para a materialização da competição.

Bernardo disse que foi uma situação frustrante ao longo da sua carreira, uma vez que, além da sua preparação pessoal, a associação local teria feito vários pedidos de apoio para a realização da prova, por sinal a primeira na história do ciclismo na capital do norte. “Eu desenvolvi muita actividade em preparação desta prova que resultou em nada. Na verdade, houve falta de interesse por parte da federação em ver num bom caminho a massificação da modalidade em todos os pontos do país”, lamentou.

Ambições

Quase todos os atletas de diferentes modalidades sonham em estar presentes nos grandes eventos do país. Florindo Bernardo não é excepção. Com 40 anos de idade, ele tem o sonho de prestar serviços à selecção nacional de ciclismo, com vista a representar o país além-fronteiras. “Mas não quero também lá estar sem nenhum rendimento, tal como acontece aqui em Nampula, em que mesmo com premiações não dá para adquirir material para a modalidade ”, disse a terminar.

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