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Lanito: Um talento que despertou tarde para o futebol!

Lanito: Um talento que despertou tarde para o futebol!

São poucos os casos de jogadores de uma equipa da segunda divisão que são chamados à selecção nacional. Lanito, avançado do Desportivo de Maputo tornou-se, sem dúvidas, uma raridade quando se olha para os Mambas que, entre os dias 11 de Janeiro e 01 de Fevereiro do presente ano, participaram no Campeonato Africano de Futebol para jogadores internos (CHAN).

Quando chegámos às instalações do Desportivo de Maputo, na manhã de último sábado (22), perguntámos por Alánio Eugénio Mafumo. Todos ficaram atónitos. Alguém chegou a responder-nos que não conhecia o indivíduo em referência. Complicámos propositadamente o nosso próprio trabalho de localizar o jogador e quando decidimos usar o seu nome de guerra, Lanito, indicaram-nos o pavilhão gimno-desportivo, local onde nos aguardava o ídolo alvinegro.

Alánio Mafumo, ou seja, Lanito, nascido a 25 de Maio de 1986 na cidade de Maputo, bairro de Bagamoio, destacou- se no meio de uma equipa unida, sem estrelas e comandada por um treinador de qualidade inquestionável, Artur Semedo, durante o Campeonato de Futebol da Cidade de Maputo e, mais tarde, na fase de apuramento ao Moçambola. O avançado marcou 19 golos e foi, a par de Joca, o melhor marcador daquele conjunto na temporada 2013.

No seio da “nação”, alcunha de guerra dos adeptos do Desportivo, reina a concórdia de que Lanito foi, dentro das quatro linhas, responsável pelo sucesso daquela colectividade que culminou com o regresso à elite do futebol moçambicano. Durante a fase de apuramento para o CHAN, foi a grande a surpresa quando se tornou o primeiro jogador da segunda divisão a ser chamado aos “Mambas”. Ainda esteve presente na fase final daquela competição africana em que Moçambique participou pela primeira vez.

A bola como brinquedo favorito

É apaixonado pelo futebol desde a infância. Lanito afirma, simplesmente, que dá chutos na bola desde pequeno. Não tinha outra ocupação senão jogar, diferentemente dos meninos daquela época que até se dedicavam à “neca”. Conforme afirmam alguns amigos seus, “ele era bom a desequilibrar no “um contra um”, como é hoje. Quando tivesse a bola ninguém lhe parava. Tentávamos, de todas formas, travar-lhe. Até recorríamos à agressão física”.

“Nunca gostei de outra coisa que não fosse o futebol. E isso irritava os meus pais porque, por vezes, não passava as refeições. Lembro-me de que eles iam ao campo para me obrigarem a ir à casa almoçar”, conta Lanito uma parte da sua história de infância, sempre ligada à modalidade. Tudo o que queriam Eugénio Alfredo e Argentina Matavele, pais de Lanito, era que o “menino” apostasse mais nos estudos. Entendiam que o futebol não era uma actividade rentável. Por isso, o atleta passou a praticar a modalidade na “clandestinidade”. “Os meus pais queriam que eu estudasse. Eu queria simplesmente jogar futebol. Sentia-me mal se passasse um dia sem tocar na bola. Então pensei: porque não ir à escola de manhã e de tarde fugir de casa para ir ao campo?”, narra.

Uma estrela descoberta no BEBEC

Foi o Torneio Infanto-juvenil de Futebol, que se realiza todos os anos na cidade de Maputo, que “pontapeou” Lanito ao estrelato. Modesto, ele prefere que se diga que o BEBEC serviu de ponte para a sua entrada no futebol federado pois, depois daquela competição, foi chamado para as escolas de formação do Grupo Desportivo de Maputo. Tudo começou no longínquo ano de 2001, quando Lanito jogava pelo bairro George Dimitrov.

Apesar da derrota averbada na partida da final, diante do Chamanculo por 1 a 0, aquele jogador mereceu nota positiva de Edgar, um treinador de formação e “olheiro” de novos talentos do Desportivo de Maputo. No clube alvinegro, a nova estrela do futebol moçambicano passou por todas as camadas de formação. Foi um jogador notável e o seu talento destacou-se no meio de muitos companheiros, sobretudo ao marcar golos. “Decidi abandonar esta modalidade quando atingi a maioridade. Dei prioridade à escola, conforme recomendavam os meus pais”, afirma.

Em 2006, decididamente Lanito ingressou na faculdade de engenharia para se formar na área electrónica e de telecomunicações. Não havia “meio-termo”, ele tinha de abandonar o futebol e “matar” o sonho de um dia jogar na Europa, para estudar. “Foi muito difícil aceitar a nova realidade. Entenda que o futebol fazia parte de mim. Confesso que fiquei traumatizado, ainda que pudesse jogar no bairro durante o fim-de-semana”, revela. Apesar da manifesta tristeza que invadiu o “ego” de Lanito, que chegou a afectar os amigos, a competência técnica presente nos seus pés continuou a surpreender nos campos pelados do bairro de Bagamoio. Poucos entendiam a situação daquele jogador e muitos chegaram a rotular-lhe de “desperdício” por não estar a brilhar num clube profissional.

O papel do Ferroviário de Maputo no regresso de Lanito

Sem dúvidas, o talento de Lanito era imenso para o futebol dos bairros, entenda-se, o amador. Mas a escola não lhe dava outra alternativa. Só depois de três anos de resistência, concretamente em 2009, é que decidiu regressar ao futebol federado pela porta do Clube Ferroviário de Maputo. Porque foi contratado no meio da época e por três anos, ou seja, na janela de transferência de Junho, foi cedido, a título de empréstimo, ao Textáfrica de Chimoio, que automaticamente se tornou o primeiro clube do escalão sénior que Lanito representou.

Durante as três temporadas, aquele avançado nunca envergou a camisola do Ferroviário de Maputo, apesar de estar vinculado àquela colectividade. De Chimoio foi emprestado ao Incomáti de Xinavane e mais tarde ao Desportivo de Maputo para fortalecer o banco de suplentes de Victor Matine. Neste último clube, já sob orientação de Artur Semedo, Lanito só jogou com alguma regularidade nas derradeiras jornadas do Moçambola, que culminaram com a despromoção daquele gigante em 2012. “Terminou o meu contrato com o Ferroviário de Maputo e o Desportivo abordou-me. Aceitei o desafio de jogar na segunda divisão e não me arrependo da decisão que tomei”, conta.

João Chissano e a sua ida aos Mambas

O treinador do Desportivo de Maputo, Artur Semedo, apostou sobremaneira em Lanito no jogo ofensivo e fez dele a principal estrela do clube alvinegro. Foi graças à mão daquele técnico que ele foi convocado, pela primeira vez em 2013, para a selecção nacional de Moçambique. Para Lanito, ser convocado por João Chissano, seleccionador nacional, significou a concretização de um sonho.

“Entendo que não é qualquer um que deve ir à selecção nacional. Somente vão os melhores. Por isso estou orgulhoso. Para mim, esse é o momento mais alto da minha carreira”, esclarece. Sobre João Chissano, a quem deve gratidão por ter realizado o seu sonho de jogar pela selecção nacional, Lanito entende que “é um grande treinador. Um profissional por excelência que trata todos os jogadores da mesma maneira. Para ele, ninguém é estrela e todos lutamos pelo mesmo objectivo. Se calhar é por ter sido jogador que ele gosta muito de transmitir a sua experiência sobre o futebol”.

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