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Paúnde tropeça nas vírgulas e é substituído por Eliseu Machava

A Frelimo reuniu-se na sua III Sessão Ordinária do Comité Central na cidade da Matola durante a qual, para além de eleger o seu candidato às presidenciais de 15 de Outubro, teve de escolher o seu novo secretário-geral, em substituição de Filipe Paúnde, que colocou o cargo à disposição devido à polémica que caracterizou o processo de indicação dos pré-candidatos, embora este alegue que tomou aquela decisão para preservar a sua honra e a imagem do partido por causa dos ataques que supostamente vinha sofrendo na Imprensa. E a “sorte” recaiu sobre Eliseu Machava, actual governador da província de Cabo Delgado.

Os momentos da escolha destes (candidato e secretário-geral) foram, de resto, os mais altos da III Sessão do Comité Central que durou quatro dias e que é descrito pelos membros do partido como um encontro de fortificação de laços entre os camaradas. Também não é para menos. Numa altura em que opinião pública fala de facções e alas no seio do cinquentenário partido, os discursos oficiais revelam o esforço que é empreendido para o retorno à unidade interna dos militantes da organização e dar a impressão de que está tudo bem.

Aliás, o presidente da Frelimo, Armando Guebuza, dando azo à ideia de haver divisões no seio da organização, apelou à coesão dos militantes do partido como forma de reforçar a vigilância contra aqueles que possam tentar desvirtuar ou subverter as suas normas de funcionamento. Para Guebuza, a coesão interna dos militantes é o meio pelo qual o partido estará sempre em melhores condições de “cerrar as suas fileiras” contra todas as forças que procuram semear suspeitas, confusão e desentendimentos no seu seio e desviar-lhe do que é essencial neste momento: vencer as próximas eleições de 15 de Outubro.

“Coesos complementamo-nos na construção dessa vitória e projectamos uma Frelimo à altura dos desafios que a governação em Moçambique coloca ao nosso maravilhoso povo”, disse, sublinhando que essa mesma coesão “reforça a vigilância contra aqueles que possam tentar desvirtuar ou subverter as normas de funcionamento do partido, as mesmas que têm garantido a vitalidade, popularidade e acutilância política dos nossos órgãos”.

Por outro lado, Guebuza defende que a unidade nacional não tem que significar a eliminação da diversidade, mas, contrariamente a isso, as diversidades étnica, linguística, racial e religiosa reflectem a riqueza da matriz identitária que alicerça e consolida a Nação moçambicana.

“Entre nós, não é problema que cada um de nós pertença a este ou aquele grupo étnico ou fale esta ou aquela língua moçambicana, ou professe esta ou aquela religião. O problema começa quando cidadãos com interesses contrários à nossa convivência sã e à unidade nacional procuram manipular essas nossas diferenças como forma de nos dividir”, explicou Guebuza para em seguida sentenciar: “Minar a unidade nacional significa, em última análise, destruir a própria Nação”.

Diante disso, Guebuza considera ser fundamental a luta contra o tribalismo, o racismo, o regionalismo, o amiguismo e o nepotismo no seio do partido. Prosseguindo, afirma ser necessário que cada militante do partido faça uma introspecção quotidiana sobre como tem estado a contribuir para o reforço da unidade nacional, tanto em palavras assim como em actos.

A reunião do Comité Central foi antecedida por dois outros encontros de órgãos sociais da Frelimo, nomeadamente a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) e a Organização da Juventude Moçambicana (OJM), tendo sido no primeiro de onde saiu a decisão de integrar mais pré-candidatos na corrida para a eleição do candidato do partido. Essa decisão veio precipitar a retirada estratégica de Filipe Paúnde do cargo de secretário-geral do partido, por meio de um pedido de demissão apresentada por si ao CC, logo no primeiro dia da sessão.

Queda de Paúnde

Filipe Chimoi Paúnde ex-secretário-geral da Frelimo, alegando falta de condições morais, colocou o seu lugar à disposição no primeiro dia da III Sessão Ordinária do Comité Central. Paúnde vinha sendo alvo de pesadas críticas por parte de membros de renome no seio do partido, entre outras figuras, por defender a ideia de não haver espaço para a submissão de mais candidaturas para eleição do candidato presidencial.

No auge das críticas, Paúnde disse publicamente que não retirava nenhuma vírgula do que havia dito sobre essa matéria. A prepotência do ex-número dois no “partidão” não agradou os antigos combatentes que, entretanto, na sua reunião de balanço não só exigiram a entrada de mais pré-candidatos, como, praticamente, impuseram a reestruturação do secretariado da organização, argumentando que a equipa então em funcionamento já não demonstrava capacidade para responder aos desafios actuais.

Diante daquela posição, da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), Filipe Paúnde que havia sido eleito para aquele cargo em 2006 e reeleito em 2012, previu a sorte que o destino lhe reservava e, num acto estratégico, colocou o seu lugar à disposição. Na noite de domingo, quarto e último dia do encontro do Comité Central, já com a decisão tomada sobre a saída do Paúnde, este órgão procedeu à eleição do novo SG.

O actual governador da província de Cabo Delgado, Eliseu Machava, em eleição que envolveu 195 votantes conseguiu demonstrar o seu favoritismo e venceu a corrida com 131 votos a favor, equivalentes a 67 porcento, contra 63, correspondentes a 32 porcento obtidos pela concorrente Alcinda de Abreu, ministra da Coordenação para a Acção Ambiental. No entanto, para além destes dois, havia-se candidatado também ao mesmo cargo o actual secretário para Organização do partido, Sérgio Pantie, que, entretanto, desistiu da corrida à última hora.

As razões da sua retirada não foram esclarecidas. Ao governador que dentro de dias terá de deixar este cargo para assumir novas pastas a serviço do partido, apesar de ter tido uma vitória folgada, cabe-lhe agora demonstrar competências no exercício das suas novas funções. O principal desafio do partido, neste momento, é a vitória nas eleições de 15 de Outubro próximo, mas, a par disso, Machava deverá reforçar a coesão interna e lutar pela conquista de mais eleitores. Depois da eleição do novo SG, o presidente do partido, Armando Guebuza, endereçou uma saudação especial a Paúnde “pelo seu excelente desempenho” enquanto ocupava aquele cargo.

“O camarada Paúnde é um grande e incansável quadro do partido. Logo após a sua eleição arregaçou as mangas e começou a trabalhar, com todo o afinco, na implementação de várias decisões tendentes a engrandecer e a fortalecer a gloriosa Frelimo”, referiu Guebuza. Numa moção de saudação dirigida a si, Filipe Chimoio Paúnde é descrito como um dirigente dinâmico, engajado e competente. E atribuem a si as vitórias obtidas durante as eleições intercalares. No tocante a Eliseu Machava, o líder do partido disse que este tem o desafio de valorizar o legado de Paúnde, assim como consolidá-lo e ampliá-lo.

Paúnde mantém a vírgula que precipitou a sua saída

Ávido de dar uma resposta à altura das críticas sofridas, Paúnde, que sempre defendeu a eleição de um candidato presidencial proveniente dos três propostos pela Comissão Política do partido, quando foi anunciado Filipe Nyussi como vencedor declarou à Imprensa: “Já se aperceberam de que a Comissão Política representa o sentimento da população moçambicana? Dos 197 membros do Comité Central, 68 porcento votaram num dos candidatos que a Comissão Política havia apresentado. Estou muito feliz”, disse.

Mas esquece-se Paúnde de que Nyussi só foi eleito na segunda volta e que, apesar disso, não foram todos os que em nele votaram, apenas 135 dos 201 membros. A vitória de Filipe Nyussi representa para Paúnde a reposição da justiça e por isso considera que “a vírgula ficou bem no lugar”. Refira-se que o porta-voz do Comité Central e da Frelimo, Damião José, sempre defendeu que o pedido de demissão de Filipe Paúnde esteve relacionado com o facto de este estar a ser alvo de “difamação na Imprensa”.

Redacção

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