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Selo: Fórum da Revolução Verde de África, escrito por Strive Masiyiwa

A minha especialização está no desenvolvimento de negócios, não no cultivo de culturas agrícolas. Porém, não é preciso ser um agricultor, um cientista do solo ou um especialista em política para saber que a agricultura é simplesmente fundamental para o futuro da África.

Como é que, afinal, isto pode não ser o caso? A agricultura continua a ser, de longe, a maior indústria e maior empregadora do nosso continente. Embora tenha havido um notável sucesso de muitos outros sectores, a agricultura ainda é responsável por quase 40 por cento do PIB dos países Africanos e o meio de subsistência de sete em cada dez pessoas.

Resultados obtidos na Ásia e na América Latina mostram igualmente que o aumento da produtividade agrícola é um poderoso motor para o desenvolvimento económico mais amplo.

É por isso que o encontro em Moçambique, ao longo dos próximos dias, de muitos dos líderes do nosso continente do sector agrícola é tão importante. O Fórum da Revolução Verde de África a ter lugar em Maputo tem por objectivo encontrar formas de acelerar a transformação da agricultura em todo o continente.

O objectivo não é apenas produzir alimentos suficientes para os 240 milhões dos nossos concidadãos que ainda não têm o suficiente para comer, mas, a longo prazo, exportar o excedente da produção para o resto do mundo, aumentando, assim, as receitas e combater a fome global. Ao fazer isso, vamos impulsionar o já impressionante crescimento económico do nosso continente e, sobretudo, garantir que ele seja amplo e bastante compartilhado.

Embora seja uma meta ambiciosa, apesar de todos os desafios que terão de ser superados, estará seguramente ao nosso alcance. Afinal de contas, a África conta com 60 por cento de terras aráveis não cultivadas a nível global e, em muitas partes do nosso continente,conta igualmente com água abundante para irrigação sustentável. Temos, também, uma população jovem, enérgica e cheia de recursos, que, com o apoio adequado, pode transformar a produção agrícola.

As boas notícias são que este apoio está finalmente a começar a ser facultado. Os governos em toda a África estão a dar prioridade à agricultura e ao desenvolvimento rural. O Programa Integrado da União Africana para o Desenvolvimento da Agricultura em África – assinado em Maputo há uma década – tem dado um importante impulso e coesão a estes esforços.

Vimos também novas parcerias e iniciativas inovadoras a ser lançadas pela AGRA – Aliança para a Revolução Verde em África – para colocar o exército de pequenos agricultores do nosso continente no centro da transformação que precisamos.

Incidindo sobre os pequenos agricultores não significa que as grandes fazendas comerciais não têm também um grande papel a desempenhar. Ao colocarem-se no centro da comunidade agrícola local, como muitos já fazem, pode reanimar a agricultura. Ao contrário, é um reconhecimento simples e pragmático de que é apenas o desbloquear do potencial de 33 milhões de pequenas propriedades do nosso continente e as melhorias daí resultantes e à escala necessária.

São os pequenos agricultores que, afinal, produzem a maior parte dos alimentos em África. E é através de os ajudar, de ajudar as famílias e as comunidades a prosperar que poderemos ter o maior impacto na disseminação da prosperidade.

Em todo o continente, o trabalho da AGRA está a ajudar a fazer a diferença a partir do campo para o mercado, aumentando as colheitas, melhorando a cadeia de abastecimento, proporcionando novos investimentos, desenvolvendo novos negócios e aumentando o rendimento. Mais de 400 novas variedades de culturas, por exemplo, foram especificamente desenvolvidos em África para condições únicas do nosso continente.

Os agricultores africanos e empresas agrícolas têm sempre demonstrado que se lhes dermos a oportunidade eles vão agarrá-la com ambas as mãos. Precisamos agora de fornecer essas oportunidades para mais agricultores e comunidades.

Então, como é que vamos realizar essa ambição? A minha experiência de fazer negócios em África, ao longo de décadas, ensinou-me que não há motor do progresso mais poderoso que combinar os poderes complementares do sector público e privado. Eles podem criar uma verdadeira parceria com os governos e fornecer política correctas, quadros jurídicos e financeiros correctos em que o dinamismo do sector privado pode prosperar.

Construir e fortalecer as parcerias público-privadas é o foco principal do Fórum, esta semana. Em particular, a discussão vai-se centrar nas formas de atrair novos investimentos e crédito para a agricultura.

Essa mudança é uma necessidade urgente, pois os mecanismos de financiamento existentes ainda continuam a falhar na resposta às necessidades. O investimento na tão importante indústria permanece bem abaixo do que é necessário para trazer uma mudança radical na produção. E enquanto a agricultura é responsável por cerca de 40 por cento do PIB de alguns países africanos apenas 0,25 por cento dos empréstimos bancários vai para os pequenos agricultores. O resultado é que os agricultores e pequenas agro-empresas lutam para obter o financiamento para investir em novas sementes, fertilizantes e equipamentos.

Mas, juntando os pequenos produtores, podemos reduzir os riscos e aumentar as economias de escala para tornar estes clientes mais atraentes aos que fornecem o crédito. A inovação tecnológica também pode ser usada para reduzir custos e atender a estas necessidades de investimento e de crédito. A África já está a criar uma liderança mundial no sector bancário móvel – um sector que conheço bem – e há ainda muito mais que podemos fazer nesta área.

Através da criação de novas parcerias público-privadas, podemos garantir que a agricultura Africana atinja o seu rico potencial por forma a aumentar a produção de alimentos e conduzir a prosperidade. Na verdade isso já está a acontecer em áreas tão diversas como finanças inovadoras, melhorando a armazenagem e financiamento de projectos de irrigação. Precisamos de encontrar maneiras de ampliar estas iniciativas.

As sementes do sucesso já estão plantadas. O desafio em Maputo esta semana em diante é fornecer as condições onde eles se possam desenvolver.

 

Escrito por Strive Masiyiwa, o Presidente da Econet Wireless e Vice-Presidente do Conselho de Administração da Aliança para uma Revolução Verde em África, um Co-patrocinador do Fórum da Revolução Verde em Africa a decorrer esta semana em Maputo, Moçambique.

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