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Agora, antes que seja tarde demais

Nesta minha curta experiência como “colunista” para a qual fui desafiado pel’@ Verdade (fui mais eu que a desafiei em boa verdade) tenho-me esforçado por abordar temas universais. Mas acima de tudo, que digam alguma coisa. Ao comum dos mortais. Que façam pensar os poucos que se perdem na leitura destas linhas. Que por um instante as pessoas saiam deste quotidiano idiótico, em que todos vivemos, e parem nem que seja um segundo para pensar. No que fazemos de nós. E do que gira à nossa volta.

Nesta fase de individualismo angustiante que o mundo vive, numa espécie de egoísmo camuflado em que apenas nos preocupamos com a materialidade própria, se podemos contribui com alguma coisa, que o façamos. Nem que seja chatear a consciência de cada um. A começar pela própria. Numa coluna de jornal. Sou crítico em relação ao mundo actual. Defendo uma teoria ridícula, que eu próprio construí, que o mundo evolui até ao limite da regressão. E segundo os meus cálculos (cientificamente inqualificáveis), uma espécie de sexto sentido feminino na versão masculina, estamos quase lá. Vamos voltar aos primórdios da vida em sociedade.

A ganância do consumo tornou-nos pessoas desinteressantes. Desinteressadas da essência da vida. A ambição passou de saudável a desmedida. De mudar de casa. De trocar de carro. Para a qual nos empenhamos. Com os bancos. Que agora nos pedem de volta e não temos como pagar. Foi a este limite que chegámos. E agora vamos voltar para trás. A culpa não é de nada nem de ninguém, senão da nossa própria e fraca consciência. Dessa onde tento chegar. À sua, e à minha. Toda a gente sabe fazer contas. Especialmente do dinheiro que não tem.

Andámos, por isso, todos a enganar a nós próprios. Teremos de consumir de maneira diferente. Viver apenas com aquilo que temos. De trabalhar de outra forma. Empenhadamente e não apenas por dinheiro. Prescindir de confortos. Ambicionar coisas mais terrenas. Ideais perdidos. Trocar o carro pela felicidade. A vontade de uma casa maior pela alegria de viver.

A viagem de sonho, por uma noite em família. A arrogância da ostentação dos bens adquiridos pela amizade. E de nos sentirmos bem com isso. Chegou a hora de nos chamarmos à razão. De deixarmos de nos encostar à parede, à espera de que o mundo mude. Que o faça por nós. Sozinho. Chegou a hora de largar a esperança de que alguém tenha pena de nós. E nos dê abrigo.

Chegou a hora de construirmos nós próprios o nosso abrigo. Se nos queremos abrigar. Chegou a hora de pôr as mãos na terra se temos fome. De não esperar que nos dêem de comer. Chegou a hora de percebermos que o Estado não pode fazer tudo por todos. Por muita asneira que faça. Chegou a hora de nos focarmos naquilo que realmente interessa. Chegou a hora de olhar para o sucesso de uns e ficar contentes com isso. Sem camuflar a inveja que nos rói a alma. Chegou a hora de educar os nossos filhos. De lhes dizer que não. De ter coragem de o fazer. E estar plenamente consciente de que a razão está do nosso lado. De os chamar à razão. De não nos conformarmos porque não lhes tivemos mão. Chegou a hora de alargarmos os horizontes. De conseguir ver mais ao largo. Perifericamente.

Desfocar do nosso umbigo. E perceber que, à nossa volta, há muito quem agradeça a nossa ajuda. Que está disposto a lutar. Por uma oportunidade. De não ter fome. De poder trabalhar. De sair de um destino menos feliz, que por azar e apenas por isso, a vida lhe reservou. Chegou a hora de nos tornarmos homens e mulheres de Verdade. Que se emocionam. Que se preocupam. Que seguem ideais. Que sabem que o melhor caminho nem sempre é o mais fácil. Para o comum dos mortais. E para os filhos dele. Chegou a hora de perceber que há vida para além do capital. Que nem só do dinheiro se faz a vida.

Chegou a nossa hora. Agora. Antes que seja tarde demais.

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