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“Xitique” pode amenizar o custo do livro

Engana-se quem pensa que, na capital, o elevado custo do livro e a fraca cultura de leitura são os únicos fenómenos que ensombram o acesso ao conhecimento. A II Feira do Livro de Maputo, recentemente terminada, mostrou-nos outro: as dificuldades que potenciais escritores enfrentam para editar obras originais. De qualquer modo, em relação ao primeiro problema – o elevado custo do livro – Calane da Silva sugere que o “xitique” pode ajudar…

Conforme se constatou na segunda edição da Feira do Livro de Maputo, apesar das promoções, o preço do livro continua assustador para muitos moçambicanos. “Não tenhamos ilusões em relação ao preço do livro, porque os livros não são baratos em nenhuma parte do mundo”, começa por dizer Calane da Silva, para mais adiante afi rmar:

“É preciso ter essa consciência para que possamos criar mecanismos de modo que o livro seja menos caro. Por exemplo, se 20 jovens de um bairro juntarem algum valor em dinheiro, durante algum tempo, podem comprar livros para que todos possam ler.Issochama-se solidariedade na leitura”. As declarações foram feitas no âmbito de uma feira cultural.

Solidariedade na leitura

De qualquer modo, se a conjuntura actual pouco concorre para a aquisição dos livros a preços acessíveis, talvez a experiência de outros tempos seja útil. “No tempo colonial não tínhamos dinheiro. Revendíamos garrafas de refrigerante para comprar livros e partilhávamos com todos – isso chama-se solidariedade na leitura. O problema é que a nossa sociedade ainda não está preocupada com o livro, mas sim com outros prazeres da vida”, comentou Calane.

Aliás, “não pensem que a nossa geração foi uma geração de ricos. Todos nós, a quem actualmente a sociedade chama de escritores conceituados, nem sempre fomos pessoas ricas. Fomos meninos de calças rotas e pés descalços. Mas conseguimos atingir estes patamares através de muito sacrifício e esforço”.

Dispor o conhecimento a todos

Entretanto, se, por um lado, os preços dos livros praticados pelas editoras e livrarias ‘assustam’ o bolso do cidadão moçambicano, por outro, as condições impostas pelas editoras repelem potenciais autores.

Assim, Benjamim Alfredo, autor da “A Lourena de Maputo”, e Ercílio Infante, ambos produtores independentes, são exemplos de escritores e produtores de livro.

E porque de certa forma o “sofrimento na cidade aumenta a criatividade” – como arvora certo adágio popular – um conjunto de jovens poetas das escolas secundárias do distrito Municipal KaMavota, a partir de uma iniciativa cultural, juntaram os seus textos e publicaram uma antologia denominada “Entre nós e as palavras – Antologia I”.

Sob a direcção de um estudante universitário, com o financiamento da Embaixada da Espanha, os estudantes colocaram em montra uma obra. Foi uma das maiores atracções da feira. Afinal, apesar de possuir o mesmo miolo, o livro conta com mil e uma páginas de rostos diferentes, com o agravante de ser feito de papelão, numa clara estratégia de reciclagem de resíduos sólidos.

Na tarde desta sexta-feira, os estudantes publicam a segunda edição da obra com o título “Entre nós e as palavras – antologia II”, num evento a ter lugar na Escola Secundária Eduardo Mondlane no Distrito Municipal KaMavota.

“As diferentes capas expressam o sentimento de cada autor. É o sujeito poético, o estado de espírito”, comenta um dos estudantes mentores da iniciativa.

Com um projecto similar, o Centro de Produção de Artes Dramáticas (CEPAD), no âmbito do Projecto “Ler é Nice”, expõe igualmente obras infanto-juvenis produzidos por estudantes secundários de algumas escolas da cidade de Maputo. Em género de conto, fábula e banda desenhada, os estudantes dirigidos por Paulo Gwambe, do CEPAD, são ensinados a desenvolver o gosto pela escrita e leitura.

Dinâmica da juventude

O evento, que teve lugar em três dias consecutivos, revelou claramente que o mesmo foi possível, graças, grosso modo, à força da juventude. Basta referir que a venda dos livros,recitais de poesia, apresentação de monólogos teatrais, bem como concertos musicais foram algumas das várias actividades executadas por esta camada social.

Faz sentido que, sistematicamente, a organização apele para que os professores, pais e encarregados de educação motivem os alunos a participarem em iniciativas do género.

A promessa

Reconhecendo a remota distância que existe entre o livro e o cidadão, o ministro da cultura, Armando Artur, prometeu criar mecanismos para, a breve trecho, suavizar as difi culdades do acesso àquele material precioso. Afi nal, “uma casa desprovida de livros é uma casa sem cultura e sem desenvolvimento intelectual”.

E mais, sobre o assunto, os mais objectivos sugerem: “É necessário que haja uma empresa pública – editora – que possa pôr o livro no mercado a um preço mais barato. Todavia, isso depende das instituições governamentais”.

Balanço

No local – FEIMA – e durante os três dias, ficámos com a impressão de que quando comparada com a edição do ano passado, a Feira do Livro de Maputo 2011 observou uma redução de visitantes, sobretudo de crianças e de estudantes de ensino secundário geral. Não obstante, a organização faz uma avaliação positiva sobre o evento.

Afinal, enquanto em 2010 o evento decorreu num espaço exíguo – o Jardim dos Professores – tendo abrigado à publicação de menos de cinco obras e acolhido um pouco mais de 15 expositores.

Na edição em 2011, o certame teve lugar num espaço maior. Agregou cerca de 30 expositores, tendo ainda sido palco da publicação de 14 obras literárias. Portanto, há condições sufi cientes para a “Culturando” – entidade mentora da feira – assinalar que “o evento evoluiu signifi cativamente”.

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