Camilo Antão perdeu a corrida eleitoral para a sua própria sucessão na presidência da Federação Moçambicana de Voleibol (FMV). Foi esta a grande decisão tomada na assembleia-geral ordinária daquela agremiação, que no último sábado (16) reuniu as oito associações provinciais que compõem a instituição e convidados.
Trinta e três anos depois, o voleibol do país pode abrir uma nova página nos seus destinos com a eleição, no passado sábado, de Khalid Cassam para presidente daquela agremiação desportiva. Cassam, antigo atleta e dirigente desta modalidade na cidade de Maputo, derrotou Camilo Antão que concorria para a sua própria sucessão, naquilo que seriam mais quatro anos de direcção desportiva.
No escrutínio, que contou com a participação das oito associações, nomeadamente da cidade de Maputo, da província de Gaza, de Inhambane, de Manica, de Sofala, da Zambézia, de Nampula e de Cabo Delgado, os dois concorrentes saíram empatados na primeira volta, tendo-se, a seguir, recorrido ao voto de qualidade do presidente da mesa da assembleia-geral, como manda o artigo 23, no seu número seis do Regulamento Eleitoral daquela federação.
Abílio António Pica, que não pretendia votar por pertencer ao elenco directivo ora apresentado por Camilo Antão, tentou esquivar-se exigindo uma segunda volta, vontade rejeitada pelos participantes por constituir uma grave violação ao Regulamento Eleitoral. Esta ocorrência levantou um debate aceso e intenso dentro da sala, com alguns ânimos exaltados.
Aliás, diga-se em abono da verdade, foi graças à intervenção de Domingos Langa, representante do Conselho Nacional dos Desportos que o regulamento foi cumprido. O presidente da mesa nada mais fez senão “apunhalar” pelas costas Camilo Antão, ao entregar os destinos do voleibol do país a Khalid.
Momentos estranhos
Durante a assembleia-geral, que durou três horas acima do previsto, o @Verdade registou algumas situações esquisitas relativamente ao objectivo que reuniu oito associações provinciais numa das estâncias turísticas da capital do país.
A primeira foi quando o presidente da Associação de Voleibol da Zambézia, Romão César, alegou problemas familiares para pedir a todos os presentes que lhe cedessem um telefone para efectuar uma ligação para a sua esposa que se encontrava doente. Camilo Antão cedeu o seu próprio telemóvel e o dirigente saiu para o exterior da sala para proceder à tal chamada telefónica, acompanhado pelo então presidente da FMV.
Questionado sobre o assunto, Romão disse à nossa equipa de reportagem que não aconteceu nada de mais entre ele e o ex-presidente da federação, que só precisava mesmo de efectuar uma chamada telefónica urgente. Contudo, deixou-nos com uma frase inacabada, ao não responder à nossa pergunta de insistência: “eu podia sair daqui rico…!”
Outro acontecimento curioso deu-se na casa de banho, à hora do intervalo que antecedeu o pleito eleitoral, envolvendo o presidente da Associação Provincial de Manica, Lucas Chiguma, o da Zambézia, Romão César, e, uma vez mais, Camilo Antão. Coincidência ou não, o certo é que os dois primeiros acederam ao local, seguidos por Antão.
Apercebendo-se da presença de um dos repórteres do @Verdade, o representante de Manica saiu às pressas como se estivesse atrasado para o pleito e os outros dois continuaram como se não se conhecessem, com Camilo a perguntar a Romão: “como vai o voleibol de praia na Zambézia?”
Já na hora da apresentação dos manifestos eleitorais, Khalid solicitou o seu envelope à mesa e mostrou aos presentes que o mesmo tinha sido violado, numa abusiva violação do Regulamento Eleitoral, que determina que as listas e os manifestos eleitorais devem ser depositados no Comité Olímpico Nacional, e que somente devem ser abertos durante o acto eleitoral. Mesmo assim, Khalid aceitou apresentar o seu manifesto, ciente do que teria acontecido com o seu envelope.
Irregularidades detectadas no relatório
Apesar da aprovação do relatório de actividades, que continha alguns vícios contestados pelos convidados que não se calaram perante tamanha falsidade descrita naquele papel, o secretário-geral da FMV, Pelágio Pascoal, não teve tarefa fácil no que diz respeito ao relatório de contas.
Não obstante ter apresentado o mesmo de uma forma resumida, em apenas cinco linhas, Pelágio não reuniu consenso e deixou Camilo Antão desorientado ao ser chumbado por unanimidade. É que no relatório descritivo, distribuído entre os participantes, as irregularidades eram bastantes, a começar pelos cheques inexistentes que dão conta de pagamento de actividades da federação que nunca chegaram a existir.
O mesmo não mencionou o valor que a federação recebeu do Governo e nem dos patrocinadores e, dado curioso, é que em 2010 aquela agremiação funcionou com um orçamento de 944 262 meticais, cujos valores foram consumidos na totalidade, deixando os cofres da federação vazios para o ano seguinte. O mesmo, estranhamente, sucedeu em 2011 e 2012, cujos orçamentos foram de 4 438 236 meticais e 1 426 318. 62 meticais, respectivamente.
Com a reprovação, a Camilo Antão foi dado um prazo de duas semanas para apresentar um relatório de contas com probidade, sob pena de ser solicitada uma auditoria independente, segundo vincaram alguns dirigentes provinciais.