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Vizinhas assistem a parto de trigémeas no Maxaquene

Vizinhas assistem a parto de trigémeas no Maxaquene

No bairro de KaMaxaquene “A”, uma das zonas pobres da capital do país, um parto realizado em casa, com sucesso, chamou a atenção dos vizinhos que com muita satisfação foram contemplar a vinda ao mundo de Estela, Wanga e Rosa, a 15 de Janeiro do corrente ano. Esta última herdou o nome de uma das “obreiras” do acontecimento, Rosa Francisco Sitóe, de 42 anos de idade. Entretanto, aquilo que poderia ser uma bênção está a transformar-se em pesadelo para os progenitores em virtude de serem ambos desempregados e, por conseguinte, estarem desprovidos de condições para sustentar as recém-nascidas.

As trigémeas são filhas de Gracinda António Rangeiro e João Franco Pueicia, de 31 e 35 anos de idade, respectivamente. Eles já têm três rapazes menores de idade, ou seja, com as recém-nascidas formam três casais. João Pueicia, que vive de pequenos serviços remunerados para sustentar a família, é um pai e quase sem norte. A vida deste agregado tornou-se um verdadeiro drama e os dias que se seguem são enigmáticos, sobretudo para as trigémeas e a mãe que precisam de cuidados redobrados.

A notícia sobre o nascimento de Estela, Wanga e Rosa espalhou- se rapidamente pelo bairro como um rastilho de pólvora e devia ser motivo de felicidade para Gracinda Rangeiro e João Pueicia mas não é o que acontece, pois eles não têm ideia de como irão sustentar os seis filhos. Antes das três gémeas, eles já viviam num espaço bastante exíguo, num cubículo cuja renda não é paga há cinco meses.

Além de outras dívidas desde o dia em que a mulher deu à luz, o jovem contraiu outra dívida no valor de 340 meticais por honrar na secretaria do seu bairro – comprometeu- se pagar até ao dia 30 de Maio próximo – em resultado de uma declaração de residência emitida a seu pedido para efeitos de apoio na Direcção da Mulher e Acção Social, no Distrito Municipal KaMaxaquene. Depois da burocracia naquela instituição do Estado, no dia 22 de Janeiro, João Pueicia foi encaminhado ao Instituto Nacional de Acção Social (INAS), onde recebeu seis latas de leite em pó de 400 gramas cada ( cuja unidade é vendida a 180 meticais no mercado).

Em poucos dias o alimento acabou e, sem alternativas, João Pueicia contactou novamente a instituição cuja vocação é ajudar as pessoas que não têm meios necessários para sobreviver, mas dessa vez ele não teve uma resposta positiva em virtude de, alegadamente, o produto ter esgotado. Volvidos alguns dias, ele foi chamado, de surpresa, para receber o leite.

Contudo, o jovem clama por mais apoios porque o INAS – com tanta gente numa situação igual a que narramos e que carece de auxílio – a qualquer momento pode deixar de ser benevolente. As trigémeas nasceram numa família que se queixa da falta de quase tudo. No dia em que fomos visitar as crianças, no fim da tarde de segunda-feira, 10 de Fevereiro em curso, não havia certeza de que algum alimento seria levado à mesa naquela casa.

Gracinda Rangeiro contou-se que até na altura em que estava grávida fazia das tripas coração, vendendo amendoim, para garantir um prato de comida. O seu marido também fazia “gincanas” para o efeito. Era (é) uma vida de incertezas, que se agravou, agora, com a vinda ao mundo de três meninas, que, pese embora os dias de sofrimento, têm posto os pais e os outros parentes contentes.

“Senti as dores de parto e pensei que fossem as reacções de costume e quando decidi ir ao hospital já não havia tempo para nada. Graças a Deus tive a ajuda dos vizinhos e correu tudo bem”, disse Gracinda Rangeiro. Na verdade, parece estar tudo bem, pelo menos em termos físico, mental e psicológico, pois Rosa, Estela e Wanga respiram saúde mas elas não têm leite para se alimentarem com vista a crescerem robustas. No Hospital Geral de Mavalane, para onde foi levada após o parto, Gracinda Rangeiro recebeu assistência e voltou para casa, débil e sem nada para comer.

Contudo, apesar de que ela precisa de se alimentar para garantir que as filhas tenham o leite do peito com os nutrientes necessários para o seu acrescimento saudável, a senhora disse que não está preocupada com a fome a que está sujeita: “O que me inquieta mais são os meus filhos, principalmente as recém-nascidas.” Aliás, a progenitora narrou ainda que quando se despediu das enfermeiras, estas recomendaram que a progenitora consumisse certo tipo de frutas e outros alimentos que ajudariam na recuperação da sua saúde, mas ela não tem meios para comprá-los.

Gracinda Rangeiro e João Pueicia são naturais de Mugeba, na província da Zambézia. Eles vieram a Maputo na esperança de encontrar meios de sobrevivência mas as suas expectativas foram frustradas pela vida. O casal não tem parentes na capital do país e, mesmo se os tivesse, acredita-se que não seriam de grande utilidade, dadas as dificuldades que caracterizam a vida da maioria das pessoas.

Entretanto, independentemente do “inferno” em que vivemos, há que acreditar que ainda existem pessoas caridosas, as quais, através do número 828052820 podem ajudar a família em causa. João Pueicia não baixou os braços, bateu às portas de várias instituições, expediu cartas expondo a sua caótica situação mas ainda não teve resposta positiva. Se o nascimento de um bebê é sempre uma alegria, o de trigêmeos deve ser comovente.

Lacrimejando, o jovem disse que aceita todo o tipo de auxílio, porém, o ideal para ele seria um emprego. “Não estou em condições de rejeitar nada. Salvem as minhas filhas para que não morram à fome nem vivam na rua por falta de abrigo.” “Quando vi o estado clínico de Gracinda tive medo de realizar o parto sozinha e chamei outra vizinha. Não foi um parto tão difícil, as meninas nasceram saudáveis, foi um momento emocionante mas o que acho lamentável é a pobreza dos pais”, disse ao @Verdade Rosa Francisco Sitóe, de 42 anos de idade.

“Após o nascimento da primeira menina, ao apalpar o ventre da gestante percebi que ainda havia mais alguma coisa. Pedi uma lâmina nova, uma linha, cortei o cordão umbilical da primeira bebé, apertei a barriga da mãe e nasceu a segunda criança. Fiquei surpresa ao constatar que existiam três pessoas no ventre dela. Foi um dia de emoção ao ver as três recém-nascidas”, contou-nos Elina Ernesto Bombe, de 50 anos de idade, que já assistiu partos de mais de 10 mulheres fora de uma unidade sanitária. Elina Bombe disse que perdeu a conta de quantas mulheres já ajudou a darem à luz, mas a emoção é sempre renovada, particularmente perante trigémeos. A primeira pessoa que nasceu com o apoio dela, na província de Gaza, tem 28 anos de idade.

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