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Uma mulher multifacetada

Uma mulher multifacetada

Quando adolescente, sonhou em ser médica, mas quiseram os incontornáveis desígnios do destino que Paula da Vera Cruz fosse professora. Mais ainda: ela é artesã, modista e sindicalista, mas isso não a impede de dar um bom passo de dança ou de alegrar os tímpanos de quem ouve a sua linda voz…

Maria Paula Helena da Vera Cruz, de seu nome completo, tem 51 anos de idade. Nasceu algures na cidade de Maputo, numa família de professores. Os pais são naturais da província de Inhambane, a sul do rio Save e é na “terra de boa gente” onde jazem os seus ancestrais.

O seu pai sempre teve a paixão pelo sacerdócio, razão pela qual na sua juventude entregou-se a um seminário onde viria a formar-se como padre. Porque esta opção não foi bem acolhida pela sua progenitora (por ser o único filho), que o aconselhou a desistir, uma vez que não poderia casar-se, muito menos ter filhos.

Por respeitar a mãe, ele interrompe a formação no seminário e ingressa num instituto de formação de professores. Durante o exercício da sua actividade, conheceu Luísa da Conceição Samuel, também professora, com quem se casou e teve 12 filhos, dos quais cinco mulheres, sendo uma delas Maria Paula.

O percurso do pai terá influenciado sobremaneira os sonhos e as escolhas de Maria Paula da Vera Cruz, hoje professora. “Para além de professor, o meu pai formou-se em enfermagem, daí que o meu sonho tenha sido ser médica. Como não consegui realizá-lo, abracei a carreira de docência”.

Corria o ano de 1984 (depois de quatro anos de formação) quando Maria Paula da Vera Cruz começou a leccionar a cadeira de Matemática no ensino secundário, embora tenha inclinação para Biologia e Química.

Maria Paula afirmou que na verdade ela é uma professora- -educadora, porque mais do que transmitir o conhecimento científico, ela tenta ensinar os valores humanos, éticos e morais aos seus alunos, bem como aos seus filhos e demais pessoas.

“Esta profissão não pode cingir-se apenas ao ensinar a ciência, é necessário que tenhamos em conta o lado comportamental das pessoas. Os professores têm de contribuir para a preservação e o respeito pela dignidade humana”.

“Ensino aos meus filhos e aos meus alunos a humildade, o amor ao próximo, mas também o amor pela ciência, pelo saber. O conhecimento científico sem o lado humano não vale quase nada. As pessoas devem saber como se comportar na sociedade. A dignidade humana passa por uma forma de ser e estar socialmente aceite”, considera.

As filhas seguiram-lhe os passos

Maria Paula é casada e mãe de quatro filhos (dois casais). As duas filhas, inspiradas na mãe, também escolheram o professorado como profissão. “Uma delas lecciona numa das escolas da província de Maputo e a outra decidiu abdicar da carreira para seguir outras áreas de actividade”.

Actualmente, dedica parte do seu tempo à actividade sindical e a áreas ligadas à educação e promoção da rapariga na escola, o que fez com que deixasse de dar aulas. “Por estar filiada à Organização Nacional dos Professores e por ter outros compromissos, já não conseguia estar presente na escola. Para não comprometer a formação dos alunos, preferi interromper, temporariamente, a carreira”, justifica-se.

Na Organização Nacional dos Professores (ONP), um sindicato do qual Maria Paula faz parte desde 1984, ela tem-se esmerado, em coordenação com outros companheiros em prol de uma boa qualidade de vida e de trabalho para os professores.

O objectivo principal desta organização que existe há mais de 30 anos é velar pelos interesses e anseios dos professores, cujo papel ainda que indispensável na formação do homem novo tem sido nos últimos dias desprezado e não reconhecido por parte de alguns sectores da sociedade.

Para além de ser membro da ONP, Maria Paula é funcionária da Direcção Provincial de Educação de Maputo e coordenadora do Comité da Mulher e do Jovem Professor, um braço da ONP que foi criado com o objectivo de garantir a equidade de género entre professores, e contribuir para o afastamento de estereótipos que tendem a inferiorizar a mulher.

“Pretendo estudar a psique dos (meus) alunos”

Depois de vinte anos de docência, o “normal” para uma pessoa seria dar-se por satisfeita e começar a preparar-se para descansar, mas com Maria Paula foi diferente.

Ela voltou ao banco da escola em 2004, concretamente à Universidade Pedagógica, onde se formou em Psicologia Escolar para, segundo diz, “munir-me de ferramentas que me permitam estudar a psique dos alunos. É preciso identificar o que ocorre nas mentes dos nossos alunos.

Por vezes, o mau aproveitamento destes não resulta apenas de questões externas, tais como a qualidade do ensino, mas também de problemas ou traumas que eles possam ter e que são provenientes de outros foros. Infelizmente muitas pessoas, incluindo os professores, olham as coisas ao alto, não procuram identificar o móbil de alguns comportamentos de estudantes ou alunos”.

Mulher empreendedora

Nos seus tempos livres, Maria Paula tenta fazer de tudo um pouco. Para além de confeccionar panos para decoração de eventos, ela é artesã. Faz peças de bijutaria. “São as minhas paixões. Gosto também de cantar, embora não o faça há muito tempo. Fiz parte de grupos corais na minha juventude”.

A necessidade de formar um homem que saiba ser e estar na sociedade

Questionada sobre qual o estágio actual da qualidade de ensino em Moçambique, não teve “papas na língua” e disse que o ensino (só) tem qualidade quando forma cidadãos que sabem estar e ser na sociedade. “A qualidade de ensino não pode ter como instrumento de medição os números, o mero alcance das metas, mas sim a maneira como os estudantes assimilam as matérias. A qualidade passa por munir os formandos de ferramentas para que possam fazer face aos desafios que a vida impõe”.

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