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Uma idosa de fibra

Uma idosa de fibra

Em Maputo, senão um pouco por todo o Moçambique, onde a vida está cada vez mais difícil, não é comum chegar-se aos 100 anos de vida. O @Verdade descobriu, no bairro Machava 15, no município da Matola, uma idosa de 102 anos, que vive numa situação precária.

Maria Dzimba é mãe de duas fi lhas, das quais uma faleceu. Natural da província de Gaza, chegou a Maputo ainda jovem (não sabe ao certo com quantos anos de idade). A residir no bairro Machava 15, ela é a face de uma história marcada por incertezas e tristezas.

A viver com a fi lha, o neto (casado) e a bisneta, Maria Dzimba debate-se com um sofrimento que teima em não passar. A sua casa, de construção precária, já documenta as desumanas condições por que passa esta pacata família.

A nossa equipa de reportagem soube da idosa que depois de ela se separar do marido, há 20 anos, a vida não passa de uma eterna miséria. Pior ainda, em 2007 perdeu uma lha que tomava conta de si.

“Agora sinto-me quase desamparada, não tenho quem pelo menos garanta a alimentação a mim e ao meu pequeno agregado. Eu já não consigo andar, nada posso fazer para desenrascar o pão de cada dia”.

A sua vida resume-se em acordar e dormir. Mensalmente, recebe uma pensão de 130 meticais do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Este valor, segundo a rma, é irrisório para suprir as suas necessidades, sendo a alimentação uma delas.

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“Porque na falta do melhor, o pior serve, no fi m de cada mês, vou com a minha lha ao INSS, onde levantamos as nossas pensões porque ela também é idosa. No total, recebemos 260 meticais, correspondentes a dois meses. Nós já lhes dissemos que o dinheiro que nos dão não serve para nada, mas os funcionários dizem que a única alternativa que temos é conformarmo-nos porque eles não decidem nada”, conta.

E as forças lá se foram!

Maria Dzimba recorda que nos tempos passados, quando ainda dispunha de forças, fazia da machamba a sua fonte de alimentação.

“Eu passava quase todo o tempo na machamba, cultivava grandes extensões de terra e sem nenhum problema. Nasci numa família pobre e sem a mínima esperança de que a vida um dia nos pudesse fazer sorrir. Com a idade, a vida tornou-se mais difícil ainda. Estamos entregues à nossa sorte”.

A sua lha, de 76 anos de idade, de nome Mariana Mula, está, diga-se, quase condenada a não sair de casa para tentar ajudar no sustento da família, uma vez que tem de estar sempre de olhos postos na sua mãe, cuja idade avançada a deixa numa condição de debilidade.

“Mas, nalgumas vezes, faço trabalhos domésticos na vizinhança. No lugar de me pagarem em dinheiro, dão-me alguns produtos alimentares, como arroz, milho, pão, entre outros”, afi rma.

Ambas nunca estudaram. Mais, nunca exerceram uma actividade que lhes pudesse garantir uma terceira idade digna. “Dedicávamo-nos à agricultura de subsistência. Se tivéssemos tido um trabalho formal estaríamos a viver do dinheiro da reforma”.

Este cenário faz-lhes pensar em regressar à sua terra natal, Bilene Macia, província de Gaza, embora já não acreditem ser capazes de praticar a agricultura. “Estando lá, talvez as condições mudem. Em Maputo há dinheiro para quem trabalha, é assim como funcionam as coisas. É por isso que queremos voltar à nossa origem”.

Sobre(viver) de caridade

Uma vez que a pensão de 130 meticais que ela recebe do Instituto Nacional de Segurança Social é insigni ficante, a família Dzimba tem de contar com a boa vontade dos vizinhos.

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“Se até hoje continuamos vivas é graças ao espírito de solidariedade por parte de alguns vizinhos que partilham o pouco das suas refeições connosco. Mas isso não acontece todos os dias porque eles também têm as suas famílias por cuidar. A minha lha tem ajudado. Ela faz trabalhos nas machambas de algumas pessoas, em troca de dinheiro, embora não o faça sempre devido à idade”.

Nos dias em que os vizinhos não têm algo para oferecer, a situação torna-se mais crítica. Vezes há em que passam o dia sem comer. A consequência mais visível disso é o estado de debilidade e subnutrição em que ambas se encontram.

Uma casa à espera de uma oportunidade para desabar

Quando o @Verdade se fez à residência de Maria Dzimba, foi difícil acreditar que a família dela faz parte de muitas que quando dizem que têm uma casa é a um cubículo que se referem. O pouco caniço e as estacas que suportam o abrigo estão degradados.

Porque a casa não tem nenhuma divisão, tiveram de interligar algumas peças de roupa para poderem criar um quarto. Se os 102 anos da nossa entrevistada não fossem marcados por este calvário, aí sim, haveria motivos para sorrir.

“Eu rezo para ter vida e não para angariar apoio das pessoas. Se assim fosse, não teria chegado a esta fase. A minha idade significa um manancial de histórias por contar às novas gerações”.

Infelizmente o meu neto nunca teve um emprego, se não os biscates que tem feito para ganhar a vida. “Todos nós vivemos numa tremenda miséria. Embora ele (o neto) viva na casa ao lado, temos partilhado o pouco que ele consegue”, diz Maria.

O que (não) fazem os dirigentes!

Diante desta realidade, era de se esperar que as estruturas do bairro ou instituições de direito fizessem algo para poupar esta idosa dos dissabores da vida, mas estas mantêm-se indiferentes, mesmo sabendo que ela recebe uma quantia irrisória, que o Instituto Nacional de Segurança Social chama de pensão.

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Podiam, por exemplo, coordenar com o Instituto Nacional de Acção Social no sentido de inscrevê-la num dos centros ou serviços sociais onde, mensalmente, pessoas da terceira idade e vulneráveis recebem alimentos de primeira necessidade.

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