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Uma história abafada pelo turismo

Voltei a confirmar, no último fim-de-semana, que muitos frequentadores da Praia do Tofo, na cidade de Inhambane, não conhecem o Tofinho, famigerado devido ao “Buraco dos Assassinatos”. É aqui onde a PIDE/DGS (Polícia secreta colonial), executava – usando métodos cruéis – os patriotas moçambicanos que reivindicavam a sua independência. Na verdade, é pouco aceitável que pessoas daqui e que frequentam regularmente o “Tofo” não tenham, até hoje, visitado o local. Mas essa é a pura verdade.

Nos fins-de-semana de canícula a praia abarrota. Todos querem ir para lá, e vão, com o objectivo de experimentar a elevada sensação de liberdade, que as ondas do Oceano Índico oferecem. Vão e entregam-se a essa catarse, mas esquecem-se de ir ao Tofinho prestar homenagem aos mártires executados por debaixo do pior sadismo. Entretanto, – à semelhança do que tinha feito anteriormente – voltei ao lugar para relembrar a história.

De longe, a paisagem é magnífica. Parece ser ali o eixo de gravitação de toda a Praia do Tofo. E se a história não for contada, os jovens não vão saber que aquela púrpura toda esconde a sinistralidade da PIDE/DGS. E o que está subjacente é aparentemente isso mesmo: as casas são construídas nas dunas, contra várias críticas feitas oportunamente, sem que, todavia, alguma acção tivesse sido levada a cabo para se inverter a situação.

Hoje, avultam naquele sítio memorável casas de bela arquitectura, lodges e restaurantes, que se misturam com o verde exuberante, arrebatando a vista sem fim. Isto é, o Tofinho, hoje, é mais conhecido por essas construções de turismo, do que pelo seu valor de história. Ou seja, muita gente de posse procura espaço ali para construir seja o que for, aproveitando não só a beleza que o lugar tem, mas, e sobretudo, a tranquilidade.

E nós não estamos contra a construção de edifícios, desde que esses empreendimentos não firam o meio ambiente e respeitem as normas de ordenamento territorial. O monumento construído naquele lugar, no meio de tudo isto, precisa de outros cuidados de manutenção mas o que se vê é que estamos perante uma certa negligência. A pirâmide que simboliza a história em alusão está a ficar corroída pelo tempo, para além de que não tem nenhuma lápide elucidativa. A própria rede que faz o cerco está a cair e o capim está a tomar conta do espaço.

Buraco dos assassinatos

No Tofinho, mais do que o monumento, teremos o local exacto onde os condenados à morte eram executados. Fui para lá com a minha maquineta a tiracolo. Sozinho e logo à entrada, uma placa avisa-nos: “Buraco dos Assassinatos”. A expressão em si arrepiou-me até à medula, todavia, como tinha colocado esta visita na minha agenda, não encontrei outra alternativa senão continuar a descer até encontrar o tenebroso “buraco”.

A maré estava vazia e via-se, nitidamente, o fundo para onde eram lançados, amarrados dentro de sacos de sisal, os homens cujo crime cometido havia sido a reivindicação da sua liberdade. São rochas afiadas, feitas espigas mortíferas, prontas a receber os desafortunados. A placa que nos indica o “Buraco dos Assassinatos” – como o próprio monumento – está também negligenciada. As letras quase que não se vêem. E se os nossos compatriotas mortos no Tofinho fazem parte da nossa história, há que valorizá-los em toda a sua dimensão.

Monumento aos heróis perde essência

Já falámos em muitas ocasiões sobre a valorização da nossa urbe e continuaremos a fazê-lo com a fé de que um dia alguém fará algo por este nosso desiderato. Aliás, é, também, sobre o monumento aos heróis moçambicanos, na cidade de Inhambane, construído na zona onde está localizada a primeira esquadra da Polícia, que nos pretendemos debruçar.

Acima de tudo, pensamos que um lugar desta magnitude deve ser instalado num sítio que lhe outorgue, logo à partida, a dignidade que merece. Ora, segundo os munícipes, devido ao local onde o monumento foi construído, este perdeu completamente a sua postura, por estar cercado – quase sufocado – por moradias. E para agravar esta situação, alguém ergueu um edifício para a prestação de serviços na entrada da praça, em frente à esquadra, o que retira toda a estética desejável.

O que nos espanta ainda é que o ilustre presidente do município, Benedito Guimino, passa por ali sempre que se assinala alguma efeméride. O senhor governador também. Contudo, nenhum deles já se dignou a tomar uma atitude para contrariar aquilo que para o citadinos e outros entendidos na matéria fere o ordenamento territorial. Ainda sobre a Praça dos Heróis Moçambicanos, a edilidade de Inhambane, em coordenação com as entidades governamentais, devia pensar noutro lugar para tão elevado empreendimento histórico.

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