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Uma Deusa de África em Gaza

Uma Deusa de África em Gaza

@Verdade visitou, recentemente, a província de Gaza e conversou com a activista artística e cultural da cidade de Xai-Xai, Deusa de África. Ela coordena as actividades do Grupo Cultural Xitende – que agora, preservando o nome, se tornou uma Associação – falou-nos sobre a dinâmica local, incluindo os planos da sua colectividade que trabalha na Casa Provincial de Cultura. Acompanhe…

@Verdade: A Associação Cultural Xitende é a revitalização de um grupo que já existia. Fale-nos desse processo.

Deusa de África: O Xitende já existia como um grupo que se dedica à literatura até à altura em que, em 2011, decidimos criar uma associação, a fim de não somente enaltecer o seu nome como também sublimar todos os artistas que passaram por aqui. O nosso objectivo é desenvolver actividades culturais na província de Gaza, divulgando as obras de artistas locais. Com a nossa colectividade, todas as pessoas que têm algum talento artístico- -cultural possuem algum espaço para exibi-lo. É desta forma que, continuamente, consolidamos a nossa identidade.

@Verdade: Quais são as principais actividades que o Xitende realiza?

Deusa de África: Temos uma actividade com qual se identifica o Grupo Xitende que são as Noites de Poesia. Ela decorre nos últimos sábados de cada mês, incluindo algumas datas comemorativas em que realizamos saraus culturais como forma de demonstrar às pessoas que estamos a par de todos os eventos históricos da província, assim como do país. As nossas actividades culturais aglutinam a poesia, as artes plásticas, a música e dança e outras manifestações. Felizmente, a avaliar pela demanda que os nossos eventos têm, sinto que conseguimos satisfazer as necessidades artísticas das pessoas que se encontram em Gaza. Deste modo, gradamos a gregos e troianos.

@Verdade: Quais são as dificuldades existentes na produção de eventos culturais, em Xai-Xai?

Deusa de África: Num meio social como o nosso, os desafios têm a ver com a falta de oportunidades para quem quer ser bem-sucedido. Empenhamo-nos pela transformação dos desafios, das dificuldades e das nossas insuficiências para a emergência e o sucesso do Grupo Cultural Xitende. Tendo em conta esta realidade, criámos uma colectividade cultural capaz de responder à demanda do povo gazense em termos de entretenimento.

Surgimos numa altura em que as pessoas não tinham o hábito de participar num espectáculo de teatro, de música ou de recital de poesia. Se bem que estas realizações também não existiam. Era mesmo muito difícil que as pessoas visitassem uma mostra de artes plásticas ou uma feira do livro. Mas, com o surgimento do Xitende, como também pelo impacto das actividades que temos estado a fazer, as pessoas têm estado a ganhar este hábito. Conseguimos conquistar o amor de todos os que abriram os seus corações para que o sentimento do Xitende se manifestasse.

Actualmente, a poesia é valorizada em Gaza. Nós, os artistas, temos estado a participar em festivais culturais nacionais e internacionais a representar a nossa província. Estamos a envolver personalidades políticas, académicos, estudantes e outros que se interessam pelos nossos eventos. Promovemos um tipo de actividades culturais em que cada pessoa – que se encontra em Gaza – dá o seu contributo para que se possa edificar uma cultura una.

@Verdade: Que resultados têm obtido com a vinda a Gaza de vários escritores, no âmbito das vossas actividades?

Deusa de África: Sempre que convidamos os artistas de outras províncias, temos o objectivo de promover o intercâmbio cultural – o que não seria possível sem a inclusão de pessoas que tenham outras experiências e visões. Tendo em conta tudo isso, decidimos interagir com um grupo de escritores com os quais nunca tínhamos tido a oportunidade de conviver e partilhar ideias. Referimo-nos a personalidades como Marcelino dos Santos, Paulina Chiziane, Pedro Chicana, Luís Cezerilo, Lília Momplé, entre outras. Conseguimos trazer aos estudantes uma diversidade de manifestações artístico-culturais, a fim de que tenham a oportunidade de consumir os produtos expostos pelo Grupo Xitende.

@Verdade: Já participou, com os seus textos, em várias revistas e antologias. Quando é que o seu livro será publicado?

Deusa de África: De facto, os meus textos estão publicados em muitas revistas e antologias – o que faz com que as pessoas tenham alguma expectativa em relação ao meu livro, que será publicado brevemente. Só não posso afirmar nada sobre a data. Gosto de surpresas. Não aprecio ser uma pessoa previsível. Então, a publicação do meu livro acontecerá quando menos se esperar. Não gosto de que as pessoas me chamem poetisa porque sou escritora e, como tal, escrevo textos poéticos e narrativos. Então, isso significa que, dentro em breve, irei publicar algumas obras.

@Verdade: Quais são os grandes desafios e ambições do Grupo Xitende neste ano?

Deusa de África: O nosso desafio é continuar a trabalhar. Provavelmente, começarmos a levar os nossos artistas para outros palcos fora da província de Gaza. Acho que só assim eles podem ser mais conhecidos. Precisamos de divulgar os produtos artístico-culturais de Gaza na diáspora. Entretanto, temos várias actividades que irão acontecer ao longo do ano como, por exemplo, o lançamento da Antologia de Lília Momplé.

Vamos trazer escritores como Chagas, que irá publicar o seu livro em Gaza, incluindo Luís Cezerilo que é considerado uma espécie de imperador de Gaza, estará connosco no Dia Mundial de Poesia. Iremos promover uma caravana cultural que irá envolver as escolas secundárias e de ensino superior da província de Gaza.

Penso que esta é uma forma de sairmos um pouco da Casa Provincial de Cultura, levando as nossas actividades a outros pontos da cidade, indo ao encontro de estudantes e académicos. Temos também os desafios de continuar a promover os nossos artistas locais, desta vez fora da província. Por outro lado, queremos continuar a produzir os nossos livros.

Temos uma antologia que será publicada pela Editora de Letras de Angola. Esta obra será publicada muito em breve. Temos vários desafios, mas o principal tem a ver com a divulgação e a promoção dos nossos artistas fora da província. Precisamos porém de mais espaço, e do carinho dos empresários a fim de que possamos dar continuidade aos nossos projectos.

É urgente que haja alguém que compreenda que precisamos de continuar a produzir os concursos de poesia, entre as escolas secundárias, como vínhamos a fazer antes de parar, por causa da insuficiência de recursos para a premiação dos estudantes vencedores. É importante que continuemos a fazer esse trabalho porque estes certames geraram uma nova dinâmica no ensino em Gaza. Os alunos preocupam-se em melhorar a sua relação com a língua em vários graus.

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