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Um fundo (quase) impossível

Um fundo (quase) impossível

Para os que já começaram a beneficiar do Fundo para o Combate à Pobreza Urbana, o sentimento é de satisfação. Mas, para outros, é uma experiência desagradável, pois o excesso de burocracia e critérios de atribuição duvidosos são os principais entraves.

Há cinco anos que Felisberto Macamo, de 30 anos de idade, se dedica ao comércio informal. Nunca teve um trabalho formal. Vendeu recargas de telemóveis ao longo das artérias da cidade de Maputo, mas, hoje, dispõe de uma pequena mercearia no bairro 25 de Junho (Choupal), Distrito Municipal Ka Mubukwane, onde mora. O seu objectivo é ampliar o negócio. Mas falta-lhe o essencial: dinheiro.

Aliás, a falta de financiamento é o seu maior obstáculo para a materialização do seu desejo. Ouviu falar da existência dos “sete milhões” para as cidades, e decidiu tentar a sorte. Mas a sua experiência não foi boa. Além de uma lista infindável de exigências, ficou a saber que se estava a dar prioridade aos projectos agro-pecuários, o que acabou por fazer com que desistisse da ideia. E ficou aborrecido com a situação.

Ao contrário de Macamo, no Distrito Municipal Ka Mubukwane, os mutuários do fundo destinado à redução da pobreza urbana falam de satisfação. A título de exemplo, Dulce Chiponde, de 50 anos de idade, conta que a sua vida já não é a mesma, desde que optou pelo negócio de criação de frango para abate.

Solteira e mãe de três meninas, das quais duas são já casadas, a paixão pelo negócio de frango começou ainda na infância, quando cuidava de galinhas da capoeira do seu pai. Com o andar do tempo, foi-se intensificando e, presentemente, tornou-se na sua fonte de rendimento.

Quando ficou a saber da existência do fundo para as zonas urbanas, Dulce não pensou duas vezes. Procuro inteirar-se do mesmo, até porque via uma oportunidade de ampliar o seu negócio de venda de frangos. Beneficiou de 75 mil meticais, reembolsáveis em 24 meses, sendo que, por mês, pagará pouco mais de 3 mil meticais.

O reembolso do valor que solicitou à administração do município de Maputo começará em Outubro do próximo ano (2012), ou seja, ela tem pouco mais de um ano para potenciar o seu negócio sem se “preocupar” com as amortizações.

Dulce iniciou esta actividade por volta de 1998, mas, em 2000, teve de interromper. Motivo: parte do lucro do negócio investia na construção da sua casa. Depois de 10 anos, retomou, graças aos subsídios de aposentadoria no Aparelho do Estado, concretamente no Ministério da Agricultura, onde trabalhou por pouco mais de vinte e cinco anos.

O negócio começou com apenas 100 pintos. Hoje, está em constante crescimento. A alocação dos “sete milhões” aos distritos municipais foi a sua bóia de salvação. “O Governo está, com este projecto, a cumprir com o seu papel de desenvolver a vida dos moçambicanos”, disse.

Com uma capoeira para quinhentos pintos, Dulce está disposta a dar início à actividade, o mais breve possível. E não quer que lhe falem em fracasso. “Quem conhece o trabalho que faz, não falha, por isso não tenho medo de nada”, adiantou.

Projecto de criação de frangos para abate

Dulce submeteu um projecto de criação de frangos para abate. E considera suficiente o valor que recebeu. Ela espera vender cada frango a 120 meticais. O lucro por cada animal será de 21 meticais.

Os restantes 91 serão destinados às despesas de cada animal, durante os 45 dias da incubação. Este valor subdivide- se em vacinas, antibióticos, vitaminas, carvão para manutenção de uma temperatura equilibrada para a sobrevivência dos pintos, e energia eléctrica.

O mesmo valor cobre o salário do único emprego do aviário que, para Dulce Chiponde, que auferirá um salário mensal de 3 mil meticais. Para 100 pintos, despendem- -se cinco sacos de 50Kg de ração, dentro de 45 dias, o que significa que cada pinto consome pouco menos de três quilos deste produto durante os dias de incubação.

Como conquistar a clientela

Uma boa alimentação, associada à aplicação de vacinas, antibióticos e vitaminas, segundo Dulce, garantem um crescimento de qualidade para o frango e consequentemente atrai os clientes.

“As pessoas gostam mais das coxas do frango, e quando este é bem alimentado, estas partes desenvolvem-se mais”, conta.

Investir em estaleiro

Bento Cumbe, de 33 anos de idade, pai de três meninas, e residente no bairro George Dimitrov, ou simplesmente Benfica, herdou o estaleiro do pai. Esta actividade é uma tradição da família que perdura há cinco gerações.

Há 15 anos que se dedica ao negócio de fabrico e venda de blocos e ventiladores. Porém, não se limita a esta actividade. Ao lado do seu estaleiro, Bento tem uma cabina de telefone público e uma banca, onde vende produtos alimentares.

Seguindo o conselho do secretário do bairro, Bento Cumbe recebeu da Administração Municipal aproximadamente 85 mil meticais, dos 100 mil disponíveis para aquela área de actividade.

O valor recebido é reembolsável em 24 meses, numa amortização de 3.535 meticais mensais. No contrato celebrado entre o mutuário (Bento Cumbe) e a Administração de Ka Mubukwane, pode-se ler a dada altura que o valor só começa a ser cobrado a partir de Novembro do corrente ano, o que significa que tem três meses para começar a pagar a sua dívida.

“Faço este trabalho há mais de dez anos, tenho experiência suficiente e estou confiante de que tudo vai correr bem e vou reembolsar o dinheiro”, disse.

No seu estaleiro, Bento emprega duas pessoas – cada uma recebe dois mil meticais mensais. Antes de obter o financiamento, com este negócio, conseguia amealhar 15 mil meticais, e acredita que com o fundo o seu rendimento vai aumentar.

“Estou feliz, mas também estou comprometido com o Estado e comigo mesmo, porque este dinheiro não e só para mim, devo devolver para que os outros também possam ter”, comentou Cumbe.

Mercado garantido

Quanto ao mercado, Cumbe disse que o seu mercado já está garantido, pois tem os seus clientes e normalmente tem feito trabalhos por encomenda. De quando em vez, tem vendido os seus produtos ao mercado de Xiquelene (Praça dos Combatentes), pois lá, segundo afirmou, a procura é maior em relação a muitos mercados da cidade de Maputo.

Com o dinheiro, Cumbe pensa em ampliar o seu estaleiro no bairro George Dimitrov e, posteriormente, abrir um novo estaleiro em Boquisso, Distrito de Marracuene, onde dispõe de um terreno para o efeito.

Com efeito, vai empregar mais pessoas e tornar-se, segundo prevê, um grande empresário. Os seus sonhos vão mais além. “Eu estou a ser ajudado pelo Estado, por isso penso que também devo ajudar os outros que precisam. Quando tudo começar a correr bem, vou dar empréstimos aos outros, para que todos possamos ter uma vida melhor”, disse.

Qual é o objectivo da criação do fundo?

Na perspectiva de impulsionar o rápido desenvolvimento dos distritos de Moçambique e também descentralizar a economia do país, foi criado pelo Governo, em 2006, através do decreto 33/2006, o Fundo de Investimento em Iniciativas Locais.

Até 2010, os “sete milhões” eram apenas alocados aos 128 distritos do país. Neste ano (2011), o fundo foi estendido para as capitais provinciais e para os distritos municipais, com vista a colmatar o índice de pobreza que se verifica nestas zonas, a chamada pobreza urbana.

Para o caso do município de Maputo, foi introduzido nos cinco distritos municipais que outrora haviam sido excluídos do processo, nomeadamente os de Ka Mubukwane, Ka Mavota, Ka Maxaquene, Ka Chamanculo e Ka Pfumu, com excepção de Ka Tembe e Ka Nhaca, que desde 2006 já beneficiavam do fundo.

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