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Um convite para reviver o Balanço

Um convite para reviver o Balanço

O talentoso baterista, compositor e intérprete moçambicano, Deodato Siquir, que está radicado na Suécia, publicou, em 2011, o seu segundo trabalho discográfico intitulado Mutema, uma homenagem póstuma à sua mãe Berta Manjate. De todos os modos, a relação – amorosa – entre mãe e filho está indiscutivelmente traduzida no seu primeiro disco, Balanço, lançado em 2007. Particularmente, penso que – no contexto dos três concertos que realiza em Maputo – muitos dos seus admiradores irão segui-lo para experimentar um bom balanço musical. Deodato é extraordinário…

A música de Deodato Siquir é um “workshop”, uma aula sobre a vida. Não se pode falar sobre ela sem que, no mínimo, se tenha ficado demoradas horas a escutar as sábias palavras que emite. Mas mais do que isso, apesar de que os linguistas podem não estar de acordo com este ponto de vista, penso que as pessoas que planeiam seguir uma carreira artístico-musical deviam escutar, na verdade consumir, a obra deste compositor, intérprete e instrumentista.

Ele não fala sobre a música – fá-la. E, no referido processo de produção musical, consegue viciar a sua obra de uma rara metalinguagem: ou seja, ao escutar as suas criações, somos, naturalmente, convidados a inteirar-nos sobre a sua produção artística. Esta trabalho ensina-nos sobre a arte musical – e é a partir daqui que se manifesta a referida metalinguagem.

Não precisamos de ser peritos nesta forma da arte, a fim de perceber a musicalidade com que as suas obras nos brindam. Falo sobre a harmonia entre os instrumentos – incluindo a voz – com que se faz a sua obra que é um verdadeiro ‘design’. É ‘design’, sim, no sentido de que foi concluída e, por conseguinte, publicada. E? diante disso, não há espaço para extrair algum tipo de defeito. A única coisa que nos cabe fazer é contemplar e sublimar esta forma de trabalhar a arte.

Ao escutar tal música é como se estivéssemos a nutrir- nos de uma refeição amorosamente preparada por uma mãe para os seus filhos amados. Ela supre todas as nossas necessidades – físicas e espirituais. Mexendo com as nossas entranhas, a envolver-nos na musicalidade proposta, a melodia, como forma de arte, deve ser capaz de gerar – no ouvinte – os sentimentos que a composição, enquanto parte linguística, emite a fim de que a harmonia – desta vez, como linguagem universal – desperte o adormecido amor musical de certas pessoas.

Por exemplo, na composição Mamana, a necessidade de partir, diante da vontade de o artista permanecer na sua terra-natal gera uma incrível catarse entre a mãe e o filho. É que nesta obra – uma espécie de autobiografia – o intérprete argumenta o seu ‘abandono’ a Moçambique, sujeitando-se a condições climatéricas agrestes, a fim de melhorar a sua situação social e humana. Este tipo de migração, com estas motivações, é praticado por muitos moçambicanos. Por isso, este trabalho narra a vida e a história do referido povo.

A crítica favorável que a Imprensa produz em relação à obra de Siquir não é casual: Este homem nasceu para a actividade a que se dedica. E fá-lo por amor. Deodato é um trovador no verdadeiro sentido da palavra e, como tal, não permite que, como tem acontecido neste país, as necessidades básicas – as de subsistência – o induzam a criar uma arte (?) que, além de confundir as pessoas, nada mais gera na sociedade.

“Sem exagero (…), o reencontro do Deodato em Maputo será a entrega do bebé que nasceu em terras frias. Refiro-me ao seu primeiro CD intitulado Balanço, no qual apresenta temas de sua autoria de 2001 a 2007, gravados entre 2006 a 2007 no Ark Studio em Copenhaga, sob os cuidados dos engenheiros de som Phong Le e Minh Le. E foi masterizado por Jan Eliasson. A produção executiva esteve a seu cargo e de Carolina Vallejo”, refere o jornalista cultural Ouri Pota, num artigo publicado no seu blogue Mãos de Moçambique.

“Escutando com muita calma e várias repetições nota-se que, longe de casa, Deodato Siquir mata as saudades cantando a realidade da terra que o viu nascer. Canta a tristeza e a alegria numa melodia doce. As rimas dos seus poemas cantados e acompanhados pela sua banda, quer em Maputo, quer na Dinamarca, alegram a plateia presente assim como a virtual”, afirma o mesmo editor que sublima a obra de Siquir.

Por sua vez, no texto intitulado Um Baterista, a editora do http://mosanblog.wordpress.com/, Sandra Flosi, analisa a música de Deodato Siquir com base num ponto de vista antropológico: “Com a boa tradição de batuques que mexem com a gente, África só podia produzir bons bateristas. Deodato Siquir é moçambicano, radicado na Suécia e está a construir uma carreira de sucesso como cantor e baterista. O que ele faz com a bateria é coisa de ‘doido’. A mistura de Jazz com ritmos tradicionais africanos já tinha tudo para dar certo. Isso feito por um músico talentoso, como Deodato, deixa a gente de boca aberta. Para acompanhar a bateria, ele canta em português, tsonga e inglês”.

“O seu primeiro CD foi lançado em 2007, sob o título Balanço. Agora, 2011, ele lança Mutema, como homenagem póstuma à sua mãe, Berta Telma da Conceição Manjante, cujo nome tradicional era Mutema”. Nesta África talentosa e inspiradora – e, como é evidente, a sua arte testemunha esse facto – Deodato Siquir é uma pepita humana, uma referência que inspira e deve continuar a inspirar a juventude a gerar o melhor que há em si.

É desta forma que – nesta matéria – se formula o convite ao estimado leitor para participar nos dois restantes concertos de Deodato, a ter lugar, hoje, 14, no espaço Mbuva, localizado na Avenida de Angola, no bairro do Aeroporto. O outro espectáculo está agendado para domingo, 16, na casa de pasto Ambients Bar, situado no bairro 25 de Junho. O primeiro deste artista, no âmbito da sua presente estada em Maputo, ocorreu no dia 9 no espaço que acolherá a sua última actuação.

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