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Um adolescente chefe de família

Um adolescente chefe de família

Quando um pai perde a vida, o futuro das crianças fica incerto devido a privações de ordem diversa a que elas ficam sujeitas. E para não cair nesse mar de incertezas, José César José, de 16 anos de idade, apostou na actividade de mototáxi e, com os rendimentos daí decorrentes, garante o sustento da família do qual passou a ser respectivo chefe. Além de despesas dos irmãos relacionadas com a compra de material escolar, ele ajuda financeiramente a sua mãe que está a frequentar o curso de enfermagem no Centro de Formação de Saúde de Mocuba.

José César José não gozou do carinho paterno porque o seu progenitor perdeu a vida, vítima de doença, quando ele tinha apenas três anos de idade. O desaparecimento físico do seu pai deixou a família abalada e, nalgum momento, chegou a concluir que não fazia sentido continuar a viver sem o seu procriador. Porém, à medida que ia crescendo, ganhava novas aspirações. Com o andar do tempo, percebeu que para ter sucesso na vida era necessário que fosse sentar-se no banco de uma escola. Foi nessa perspectiva que começou a frequentar o ensino primário. Devido às dificuldades por que passava, o adolescente viu-se obrigado a abandonar os estudos, pois a sua mãe não tinha dinheiro para comprar uniforme da escola.

Volvidos alguns meses, a progenitora conseguiu adquirir uniforme e ele voltou à escola. “Naquela época a minha mãe batalhou muito para que eu pudesse voltar a estudar. Mesmo com vontade de ir à escola, as condições de vida não me permitiam. Quando a minha mãe conseguiu comprar o uniforme, parecia que eu tinha nascido de novo. Voltei a conviver com os meus colegas e a aprender dos professores”, contou.

Segundo conta, na altura em que terminou o ensino primário, a sua mãe envolveu-se com um homem, tendo passado a viver maritalmente com ele. Refira-se que a sua progenitora pretendia juntar-se a alguém capaz de a ajudar nas despesas de casa e custear a educação dos filhos. Porém, a realidade mostrou que o homem que acabava de o conhecer não se importava com os filhos da esposa. Por causa disso, ela decidiu romper com o casamento. “A minha mãe separou-se do meu padrasto porque ele não queria viver connosco. Na altura, a minha irmã mais velha estava no Instituto de Formação de Professores de Alto – Molócuè”, disse o interlocutor.

Passados alguns anos, José ingressou no ensino secundário. A sua irmã, que na altura trabalhava numa escola primária na vila municipal de Alto Molócuè, desembolsou algum dinheiro para as despesas de matrículas e material escolar. Quando o adolescente prosseguia os estudos, na altura frequentava a 9ª classe, a irmã do adolescente rompeu o compromisso de continuar a ajudar nas despesas escolares dos irmãos mais novos. Nesse período, a mãe voltou a casar-se com outro homem, mas com o mesmo objectivo, o de sustentar a sua família. Por sorte, o novo marido aceitou apoiar os miúdos pelo amor que sentia pela esposa.

O novo padrasto de José tinha uma motorizada avariada. Quando o adolescente se apercebeu de que o seu pai tinha um motociclo avariado, pensou em recuperá-lo e através dele ganhar dinheiro. “Entrei na estrada para garantir o sustento dos meus irmãos. Mesmo com medo de ser vítima de um acidente de viação, tive que superar os obstáculos e seguir em frente”, disse. Como mototaxista e estudante, José, passou a exercer as suas actividades por turnos. Durante a manhã, fazia-se à estrada e, no período da tarde, ou seja, das 12 às 17h00 assistia às aulas na Escola Secundária de Mocuba. Actualmente, está a frequentar a 10ª classe. Nos fins-de-semana, dedica-se inteiramente ao trabalho.

Com a carga horária duplicada, o adolescente passou a enfrentar dificuldades de harmonizar os estudos com o seu trabalho. Contudo, para ele, a boa-nova surgia na medida em que ganhava pelo menos 100 meticais por dia, para além da quantia para a compra de combustível para outra jornada. Com o valor que José amealha diariamente, sustenta os seus três irmãos e a sua mãe, incluindo o padrasto, e consegue igualmente suportar as despesas escolares, nomeadamente uniforme, material escolar, fotocópias, entre outras preocupações.

Mais tarde, a sua progenitora decidiu ingressar no Instituto de Ciências de Saúde de Mocuba para cursar enfermagem. Com a ajuda do seu filho e do esposo, aquela mulher conseguiu ocupar uma das vagas disponíveis. Nos momentos em que o centro de formação exige a reprodução de material didáctico, com destaque para livros, brochuras, entre outras fotocópias, José é que suporta os custos e o seu marido cobre as despesas quando o seu descendente não se faz às ruas para trabalhar. “Quando perdemos o nosso progenitor, devemos ajudar as nossas mães, no sentido de apoiá-las a superar a dor”, apelou.

Mototáxi: uma actividade bastante concorrida

Na cidade de Mocuba, a actividade de mototáxi torna-se um mecanismo de sobrevivência para os cidadãos que não têm a oportunidade de ocupar algum lugar em instituições públicas e privadas. Os transportes semicolectivos de passageiros são ineficazes para responderem à demanda da população naquela região. Refira-se que a nível da cidade de Mocuba, existem três autocarros que ligam o mercado central ao bairro Aeroporto. Estima-se que centenas de cidadãos praticam a actividade, sendo grande parte deles trabalhadores de alguns empresários que dispõem de uma frota de motociclos. Diariamente, eles geram receitas que variam entre 300 e 500 meticais.

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