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Ucrânia: Revolução Laranja eclipsada pela política

A Ucrânia lembra sem grandes festejos, no domingo, o quinto aniversário da Revolução Laranja que a impulsionou no mapa político da Europa, em meio a muitas desilusões, a dois meses das eleições presidenciais.

A Revolução Laranja levou centenas de milhares de pessoas às ruas há cinco anos, para garantir a lisura do pleito presidencial que prometia mudar os rumos da nação. Desde aí, a Ucrânia tem tentado se abrir para o mundo, com o desejo muito claro de se afastar do passado soviético. Símbolos como a foice e o martelo, por exemplo, chegaram a ser arrancados da grande maioria dos prédios, e enormes bandeiras da União Europeia estão hasteadas nos edifícios dos principais órgãos do governo.

O presidente, Viktor Yushenko, herói deste movimento popular pró-democrático e pró-europeu, pronunciará um discurso para marcar a data, seguido de um concerto. A primeira-ministra Iulia Timoshenko, verdadeira musa da Revolução Laranja e que se tornou, depois, uma das mais ferozes adversárias de Yushenko, não tem nenhum programa específico de comemoração.

A imprensa e a televisão não parecem prestar muita atenção a este aniversário, ofuscado pelo pleito presidencial de 17 de Janeiro, o primeiro desde a revolução. Há cinco anos, centenas de milhares de ucranianos enfrentaram a neve nas ruas, esquecendo-se do frio, para se manifestarem, durante quase três semanas, a partir dos dia 22 novembro, até conseguiram ver anulada, por fraudes, a eleição do candidato do poder às presidenciais, Viktor Yanukovitch, apoiado abertamente pelo Kremlin.

Este elã popular pavimentou o caminho para Yushenko, então um opositor, pró-ocidental, que conquistou o “terceiro turno” eleitoral, ordenado pela Corte Suprema em meio à euforia geral. A Ucrânia, ex-república soviética ainda na sombra de Moscou, encarnava a esperança e o sonho democrático às portas da Europa, a que ela aspirava somar-se, sem atrasos.

Mas as expectativas se chocaram com uma dura realidade: as mudanças prometidas, como a aproximação com a União Europeia, a luta contra a corrupção, não se concretizaram, ao mesmo tempo em que os antigos aliados políticos “laranjas”, Yushenko e a sra. Timoshenko, tornavam-se inimigos jurados. A crise económica mundial, que abalou profundamente o país – a moeda nacional sofreu uma desvalorização de 40% no final de 2008, somou-se a uma imagem política desastrosa, aos olhos dos ucranianos.

“Eles não apenas pilharam o país e destruíram sua indústria, mas roubaram nossos sonhos”, desabafa Viktor Stoïan, um antigo simpatizante da Revolução Laranja, em Odessa (sul). Yushenko, que se candidata à reeleição, possui apenas 4% das intenções de voto, segundo uma pesquisa recente. Ironia da história, Yanukovitch é dado como favorito com 41% das preferências, seguido de Iulia Timoshenko (25%).

Paradoxalmente, foi a liberdade da imprensa, uma conquista incontestável da revolução, que contribuiu para a amargura geral. “Quando vemos a cada dia escândalos mostrando a verdadeira face dos políticos, acabamos por nos decepcionar”, comenta Irina Bekechkina, socióloga da fundação Iniciativas Democrática. “No começo, estavamos eufóricos; mas, agora, estamos desencantados”, resume o cantor ucraniano de sucesso, Sviatoslav Vakartchouk, que não lamenta, no entanto, ter apoiado a revolução, mesmo se enojado pelas brigas de poder. Ele chegou a abandonar em 2008 o mandato de deputado do partido presidencial.

No entanto, apesar da busca por uma nova identidade mais europeia, de preferência, a área de influência russa está mais presente do que nunca, apesar de os dois países viverem em conflitos. Na cozinha, a origem de pratos tradicionais da culinária russa, como o borsh, a sopa de beterraba, nasceram do outro lado da fronteira, na Ucrânia. E as matrioshkas (bonecas de madeira que se tornaram um dos símbolos da Rússia) são encontradas nas ruas de Kiev como artesanato local. A capital Kiev, de 15 séculos, que lembra a capital russa, não é tão monumental quanto Moscou.

As avenidas são menos largas, com as vias arborizadas. As cúpulas douradas das igrejas convivem com prédios de arquitetura soviética. Apesar de uma história de guerras e ocupações, a cidade conseguiu preservar importantes capítulos de sua existência.

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