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Transportadores de Maputo e Matola “desorientados” pelos buracos

Transportadores de Maputo e Matola “desorientados” pelos buracos

Os buracos, que de pequenos passam a crateras sob o olhar desinteressado e ante a incapacidade dos municípios de Maputo e da Matola, voltam a causar insatisfação nos operadores privados de transporte de passageiros, vulgo “chapa 100”, e “incitam” à greve neste sector em virtude da má transitabilidade e danificação de viaturas, o que chama a atenção para que os edis das duas autarquias, David Simango e Calisto Cossa, e os membros das assembleias municipais tomem a peito este problema que ameaça martirizar os munícipes em caso da paralisação geral – que se entrevê – dos serviços de transportes.

Em pouco mais de um mês, os “chapeiros” efectuaram cinco interrupções nas suas actividades e, além de terem causado transtornos e desespero na vida de muita gente, emitiram um aviso para os gestores das duas autarquias sobre o que pode acontecer nos próximos tempos caso a situação prevaleça. Na cidade de Maputo há buracos que já passaram de rasos a fundos em todos os lados e que somente obras de grande envergadura podem evitar o caos a que se assiste, diariamente, por exemplo, nas avenidas do Trabalho, Marginal, Marien Ngouabi e na Rua da Beira (em frente ao mercado de Mavalane). Questiona-se a capacidade interventiva dos gestores duas autarquias para resolver o problema.

Na capital do país, o cenário angustiante propiciado pelos buracos é amplamente visível na medida em que quase que não existe estrada sem este mal que apoquenta os transportadores semicolectivos de passageiros. Uma das provas disso é a Rua do Rio Limpopo, entre a Assembleia da República e o Instituto Nacional de Segurança Social. Quem por ali passa leva as mãos à cabeça. E algo diferente não se poder dizer em relação à Avenida Fernão Magalhães, entre a Filipe Samuel Magaia e Karl Marx, onde os buracos que martirizam os automobilistas somam anos mas não são mexidos.

Aliás, até a Rua de Kassuende, que depois de estar tremendamente esburacada, beneficiou – não se sabe por grito de quem a edilidade decidiu resolver o problema – de obras de reposição do asfalto, em Março passado, está a degradar-se novamente em menos de um ano. Na Avenida Julius Nyerere acontece a mesma coisa, pese embora a reconstrução ainda esteja em curso.

Ainda na Avenida do Trabalho – nas proximidades da empresa Entreposto – há uma rua que dá acesso ao Hospital Geral José Macamo, mas está uma lástima. Os buracos que ali existem confundem-se com as crateras e transformaram- se em poças de água. As últimas chuvas pioraram a situação. Na Avenida Guerra Popular, o caos é de tal sorte que parece que as autoridades municipais capitularam ou padecem de “incapacidade de gestão” das rodovias. Os buracos em quase toda a extensão da via multiplicam-se e aumentam de profundidade à medida que o tempo passa.

Na Matola, as avenidas Josina Machel, da União Africana (vulgo Estrada Velha), 4 de Outubro, 25 de Setembro e Rua da Vidreira são igualmente uma lástima. Os munícipes, os “chapeiros” em particular, já não têm ideia de quantas vezes ouviram promessas de que as mesmas seriam reabilitadas. Todavia, o tempo passou e as acções que deviam ser feitas para melhorar a vida dos que pagam impostos não passaram de letra-morta. O estado daqueles locais vai de mal a pior e os problemas mecânicos dos veículos agravam-se em cada viagem.

À semelhança do que se passa em Maputo, com a chuva que caiu nas últimas semanas, a falta de manutenção e a baixa qualidade das artérias agravaram o estado deplorável dos buracos e suscitaram desassossego nos transportadores semicolectivos de passageiros. Estes defendem que o facto de as vias a que nos referimos, nas duas cidades, constituírem um itinerário obrigatório estabelecido nas suas licenças de trabalho, não têm maneiras de fugir daquele caos, a não ser que queiram ser multados, pois, para isso, os gestores das duas autarquias agem sem complacência.

As paralisações que custaram a dor dos munícipes

Só em Janeiro passado, centenas de transportadores das cidades de Maputo e da Matola paralisaram as actividades por quatro vezes, deixando milhares de cidadãos sem meios para se deslocarem a vários destinos como forma de manifestar o seu agastamento em relação à degradação das estradas e tentar “obrigar” os gestores municipais a reabilitarem as mesmas vias.

Em Maputo, no dia 27 do mês passado, alguns condutores de “chapa” das rotas Museu-Malhazine, Museu-Zona Verde, Museu-Zimpeto, Museu-Missão Roque, dentre outras, foram agredidos pela Polícia quando paralisaram os serviços em contestação do estado em que se encontra a Avenida do Trabalho. O nosso jornalista que se encontrava no local não escapou das investidas da mesma corporação. As paragens ficaram abarrotadas de cidadãos que aguardavam horas a fio pelo transporte, o qual só voltou a circular horas mais tarde. Houve gente que não se fez ao trabalho devido ao problema.

Claúdio Matsena, transportador da rota Museu-Malhazine, não escondeu a sua insatisfação perante a situação uma vez que é obrigado, diariamente, a esquivar-se dos buracos, que tomaram de “assalto” a Avenida do Trabalho, para evitar avarias constantes da sua viatura. De acordo com o nosso interlocutor, o município pouco ou quase nada faz para manter as estradas transitáveis, com enfoque para a via na qual circula.

Os operadores impediam a circulação de outras viaturas singulares, situação que causou congestionamento nas avenidas do Trabalho e de Moçambique, concretamente nas zonas do mercado da Malanga e do Bagamoyo, respectivamente. Ainda por causa dos buracos, nos dias 30 e 31 de Janeiro, na Matola, os transportadores da rota Machava-Socimol, que usam a Avenida Josina Machel, e os da rota da Cidade da Matola, através da Avenida da União Africana, deixaram muita gente sem “chapa”.

Na manhã da última terça-feira (04) os transportadores semicolectivos de passageiros da rota Costa do Sol-Anjo Voador paralisaram as actividades, também, devido aos buracos que, paulatinamente, e perante o olhar impávido da edilidade de Maputo, “assaltaram” a Avenida Marginal, sobretudo a partir das imediações do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano para o terminal da Costa do Sol, o que está a dificultar a transitabilidade e concorre para a danificação dos seus carros. Para mostrar a sua insatisfação por causa dos buracos, os transportadores impediram, por algum tempo, a circulação de outras viaturas singulares, o que causou congestionamento na via.

Devido ao mesmo problema relacionado com as vias de acesso esburacadas, que é característico em muitas artérias das cidades de Maputo e da Matola, na semana passada, outro grupo de transportadores paralisou as suas actividades devido aos buracos, que a cada dia aumentam de número e de dimensão na Avenida do Trabalho, uma das vias através das quais se entra e sai do centro da cidade da capital do país para os bairros tais como os de Michafutene, Zimpeto, Malhazine Benfica, Zona Verde.

Neste momento, a Avenida Marginal está em condições precárias de transitabilidade, principalmente por causa das últimas chuvas que caíram em Maputo. De acordo com os operadores, a interrupção de actividades na manhã desta terça-feira serviu para tentar forçar à reabilitação daquela via uma vez que a situação tende a tornar-se crítica, além de concorrer para a danificação das suas viaturas.

Em consequência dessa interrupção do embarque de passageiros da Costa do Sol para Anjo Voador e vice-versa, centenas de cidadãos ficaram horas a fio enfileirados nas paragens à espera de “chapas”. Alguns não se fizeram aos seus postos de trabalho. Zélia Dansoko, residente no bairro da Costa do Sol, permaneceu na fila duas horas mas não pôde chegar ao seu destino, pois todos os motoristas haviam parqueado as suas viaturas. Os alunos também não escaparam à crise de transporte. Inocência Chaúque, estudante numa das escolas do centro da cidade de Maputo, foi de “chapa” da Costa do Sol para a Praça dos Combatentes, e deste último ponto tomou outro meio de transporte para o Museu com vista a não perder as aulas.

Martinho Pedro, um dos operadores naquela rota, disse ao @Verdade que o mau estado da via obriga os automobilistas a fazer “gincanas” com vista a esquivarem-se dos buracos, os quais agravam o estado mecânico de algumas viaturas. Segundo o nosso interlocutor, não há condições para se transportar pessoas uma vez que qualquer descuido pode culminar com um acidente de viação. “O município de Maputo tem consciência de que a Avenida Marginal está intransitável, mas mantém-se impávido e da forma como os buracos estão naquela via parece que não há nenhuma vontade de, pelo menos, minimizar o problema”, disse Jorge Langa, outro transportador.

ATROMAP ameaça suspender a circulação dos “chapas”

A Associação dos Transportadores Rodoviários da Cidade de Maputo (ATROMAP) ameaça paralisar, por período indeterminado, as suas actividades caso o município não tape os buracos que caracterizam as estradas desta urbe. Samuel Nhatitima, presidente da agremiação, considerou que a atitude dos “chapeiros” testemunha a sua insatisfação uma vez que são obrigados, diariamente, a mandar os seus veículos às oficinas devido aos buracos, os quais levam a que se faça manobras perigosas no sentido de se esquivar deles, colocando, assim, em risco a vida dos passageiros e dos transeuntes.

Para Nahtitima, a única forma de o município evitar que a greve aconteça é reabilitar as estradas, cujo estado de degradação está a reduzir o tempo de vida útil dos carros. Na sua opinião, o estado de abandono em que muitas vias de acesso se encontram resulta da falta de vontade da edilidade para sanar o problema, que perdura há muitos anos.

“O grande culpado do problema crónico do mau estado das estradas, na cidade de Maputo, é a vereação de infra-estruturas, que deixou de efectuar a manutenção periódica das estradas, contrastando com o que acontecia anteriormente quando tinha menos recursos financeiros”, desabafou Samuel Nhatitima, para quem com esta situação não se pode impedir o desvio ou encurtamento das distâncias regulamentares, apontados como uma das principais causas da falta de transporte.

Entretanto, para amainar a fúria dos transportadores, a Polícia Municipal de Maputo, prometeu iniciar a reabilitação da estrada dentro de uma semana, o que até hoje ainda não aconteceu. Aliás, Nhatitima afirmou que os “chapeiros” estão cansados de ouvir falsas promessas do município, as quais nunca são concretizadas, “apesar de pagarmos taxas exacerbadas regularmente”, concluiu.

Município de Maputo sem soluções imediatas

Carlos Diante, director dos Transportes no Conselho Municipal de Maputo, reconheceu ao @Verdade que as principais estradas que garantem a entrada e saída do centro da urbe estão em péssimas condições e dificultam a transitabilidade. Os buracos serão tapados nos próximos dias e este trabalho vai abranger, primeiro, as vias mais críticas, nomeadamente as avenidas do Trabalho e Marginal. Entretanto, ele não avançou datas concretas para o efeito.

Na sua opinião, os transportadores pecaram por optar pela paralisação de serviços sem antes consultar a entidade gere o sector com vista a encontrar-se um meio-termo para o problema. Aliás, o nosso interlocutor disse que a Avenida do Trabalho já estava em obras, as quais foram interrompidas devido ao mau uso do sistema de esgoto e sarjetas por parte dos utentes, o que fez com que a água transbordasse e agravasse a degradação do asfalto. Relativamente à Marginal, Carlos Diante explicou que serão tapados os buracos enquanto se aguarda pelo término das obras da Estrada Circular de Maputo, que abrange o troço.

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