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Tornar-se produtor de música para alimentar a família

Desde criança, Arsénio Marques (Achien) – um artista nativo da província de Nampula – é dependente de música. No entanto, se nos dias que correm se dedica àquele ramo, fá-lo para sobreviver. Durante muitos anos, cantar e dançar em público era par si um mistério…

Tudo começou nas brincadeiras com os seus amigos. Quando Achien voltava da escola cantava nas ruas e alguns locais de maior concentração de pessoas como, por exemplo, nos mercados e nas paragens, imitando músicas de outros artistas como forma de mostrar o talento que possuía.

Com os seus companheiros mais chegados, em 1999, foi à Casa de Cultura onde começou a aprender a tocar alguns instrumentos musicais como piano, guitarra e, igualmente, passou a cantar, com o objectivo de concretizar o sonho de se tornar um grande artista. Em 2002, Achien integra a Banda Mitodjetcho a fim de ganhar espaço na praça e mais habilidade vocal e aprimorar a sua “relação” com os instrumentos musicais.

De 26 anos de idade, o músico diz que passou a pertencer à Banda Mitodjetho através de um elemento do grupo que o convidou em reconhecimento do seu talento, expresso nas actuações da Casa da Cultura. Para ele, integrar aquele conjunto foi o realizar de um sonho.

Com aquela Banda Achien diz que visitou alguns países da Europa, em 2005, como, por exemplo, Holanda e Itália, onde foram actuar ao vivo e gravar o primeiro trabalho discográfico. Quando regressou, em 2005, o grupo pensou em gravar mais temas que poderiam compor o segundo álbum. Foi nos estúdios da GM-Produções, onde o artista se apaixonou pelo trabalho de produção musical.

Em cada composição que a colectividade gravava, Achien dava o seu apoio com base no conhecimento informático adquirido na Casa da Cultura, ao mesmo tempo que aprendia as técnicas da produção musical, o que levou a GM-Produções a convidá-lo a fazer parte da sua equipa.

De acordo com as suas palavras, quando lhe fizeram a proposta, ficou feliz mas, dias depois, enfrentou algumas dificuldades na conciliação das várias actividades que tinha. “Quando passei a fazer parte da GM – Produções em 2007 tudo me parecia difícil, mas com o tempo comecei a dominar o trabalho e a ter as minhas próprias formas de produzir uma música em menos tempo”, refere.

Achien afirmou ainda que com a ajuda dos colegas do trabalho, no dia-a-dia melhorava a sua actuação, ganhando novas experiências e conhecimentos. Passou a ter mais confiança do proprietário da produtora, incluindo alguns músicos. Alguns trabalhos discográficos de certos artistas conceituados de Nampula como, por exemplo, Janeiro, Amadinho e Geny contaram com a sua colaboração.

Com os conhecimentos, passou a ser concorrido pelas produtoras musicais locais em Nampula. O seu desejo é permanecer na organização onde diz ter “nascido”. Entretanto, com o passar do tempo – rendendo-se à onda crescente de convites –, em 2009, o músico acabou por passar a trabalhar para a DO-Studio.

Naquele estúdio, em resultado do seu trabalho, as condições sociais de Achien melhoraram. Afinal, além de produzir música, passou a dar alunas de produção musical na Casa da Cultura. “Não quero dizer que vivo da música, mas sim do trabalho que faço na produção e na Casa da Cultura consigo sustentar o meu agregado familiar”, considera.

“Passei por muitos estúdios desta cidade, mas ainda não concretizei o meu sonho – tornar-me um empresário do sector. A insuficiência de meios financeiros é o principal entrave. Tenho que comprar os equipamentos necessários para tal. Até 2015 quero ter o meu estúdio de gravação”, afirma, e acrescenta: “Digo até 2015 porque mantive alguns contactos com alguns produtores nacionais e estrangeiros que me prometeram apoio em termos de equipamentos, sobretudo na aquisição da mesa de som”.

Aquele produtor lamentou o facto de nos últimos tempos se assistir, em todo o país, à prática da contrafacção de produtos artístico-culturais. Achien diz que existem instituições do Governo que deviam defender os direitos dos artistas, mas estas não fazem nada. “Por exemplo, em Nampula, conheço casas e estabelecimentos comerciais onde se gravam discos, e as autoridades municipais desta cidade nada fazem para pôr cobro a isso”, afirma.

Por outro lado Achien culpa os próprios cantores que logo que acabam de gravar as suas músicas lançam- -nas imediatamente nas rádios comunitárias existentes na praça. É que alguns locutores de má-fé distribuem e expandem a música antes do próprio artista.

Para si, o combate à pirataria passa pela punição exemplar dos seus autores, afinal, “o que se verifica na actualidade é que temos muitos agentes que sobrevivem através da gravação de discos piratas. O Governo não toma medidas contra os infractores, que são os que matam a nossa cultura”.

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