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Timbila Muzimba em festa de cristalização!

Boas massalas levam-nos a uma (boa) “Makhara”!

Se por um lado a humanidade, em geral, pode congratular-se com os sete anos que em 2012 se completam desde que a Timbila – um instrumento de música tradicional Chopi – foi declarada seu património universal, por outro, nós, os moçambicanos, temos mil e umas razões acrescidas para celebrar. É que aqui, no País da Marrabenta, a festa é pela idade de cristal dos timbileiros…

Quando nos finais da década de 1990, alguns jovens oriundos de um bairro suburbano da cidade de Maputo, Unidade 7, decidiram criar uma das mais maiores orquestras da música tradicional moçambicana, os Timbila Muzimba, poucos acreditavam que o colectivo poderia evoluir.

Tal cepticismo não era obra do acaso. Havia diversas razões que moviam as pessoas a tal comportamento. Dentre elas, a principal era o mito que existia entre a necessidade de conservar algumas práticas tradicionais num ambiente suburbano em que a juventude estava/é constantemente sujeita a conviver com inúmeras dificuldades sociais, com destaque para a criminalidade e a pobreza.

Nos dias que correm, quando em relação aos Timbila Muzimba se disser que foi a referida ousadia que além, de alguns ganhos materiais, valeu a celebrização da tradição e cultura Chopi entre outras civilizações humanas, ninguém ousaria recusar.

Ao longo dos 15 anos da sua existência como colectividade artístico-musical, “embaixadores” dos valores culturais moçambicanos que são, os Timbila Muzimba realizaram digressões em diversas partes da terra onde, em certo sentido, continuam a anunciar, divulgar e promover a cultura moçambicana e, por extensão, africana no seio de outras civilizações humanas.

Tocam e cantam a música dos seus ancestrais, transformando-a sem desprovê-la de uma profunda nostalgia que preenche o ego de qualquer ouvinte por meio das suas criações musicais, sempre que realizam um concerto.

De qualquer modo, dizer Timbila Muzimba, para muita gente, pode não ser nada mais do que uma forma simplista de resumir histórias de vidas humanas ancoradas à música por diversos motivos e afinidades. Afinal, quem são os constituintes da referida orquestra vibrante?

Trata-se de Cheny Wa Gune, Lucas Macuácua, Celso Durão, Tinoca Zimba, Alex, Arlindo, Osório e Matchumi. Ainda que não seja necessário precisar a região de onde cada um deles é originário, a verdade é que eles são a metáfora do regionalismo moçambicano. Afinal, alguns nasceram no Sul, uns no Centro e outros no Norte do país.

De qualquer modo, como (estando em Maputo, desde a criação do conjunto) os Timbila Muzimba não abandonaram o também lendário bairro de Unidade 7, muito recentemente, o @Verdade reservou parte do seu tempo para visitá-los.

Como tudo começou

Há 15 anos, os jovens que integram os Timbila Muzimba eram (simples) bailarinos e tocadores de Timbilas. Com as suas composições musicais, eles animavam as cerimónias locais do seu subúrbio.

Referem que realizar tais trabalhos culturais é um privilégio que lhes foi legado pelos seus avós e progenitores sem nenhuma pretensão, muito menos uma ideia clara de que tal acto poderia originar uma incontornável orquestra musical.

O único desiderato deles, provavelmente o mais importante, era que a partir daquela instrução se fecundassem, repercutissem e perpetuassem os seus hábitos, costumes e tradições culturais pelas gerações vindouras.

Talvez seja por isso que, presentemente, ainda que a lógica mercadológica das indústrias culturais lhes incite para a necessidade de adequar a sua actuação cultural aos seus ditames como meio de garantir algum sucesso, os Timbila Muzimba por nada traem os ensinamentos emanados dos seus ancestrais. É como se eles, uma vez que são antepassados, se tivessem transformado em deidades.

Acredita-se que, porque criada nos finais dos anos 1990, as hipóteses de a orquestra Timbila Muzimba não ser bem-sucedida eram reduzidas. Nem vale a pena referir a pujança e vibração de colectividades artístico- culturais suas contemporâneas, como a Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) a Banda Ghorwane, os Grupos de Teatro Mutumbela Gogo e Gungu, os Kapa Dêch, por exemplo, para perceber o facto.

Os Timbila envolveram-se no mesmo movimento e, através de criações musicais que se impuseram no espaço social moçambicano, conquistaram um lugar cativo no cenário das artes e cultura moçambicanas.

“Só o facto de estarmos juntos, unidos, desde a formação da banda (já) é um grande motivo para celebrarmos. É quase impossível manter uma colectividade artística unida e unificada no nosso país, sobretudo em tempos de crise como tem acontecido nos últimos anos.

Como se pode perceber, devido ao cenário que se estabeleceu – a carestia de vida animada pela crise financeira internacional – nos últimos anos tem sido difícil realizar concertos musicais por parte das bandas”, afirma Matchumi que acrescenta que “os 15 anos são o reflexo do trabalho realizado, incluindo algumas formações que tivemos e que ainda realizaremos”.

Timbila Muzimba

A denominação Timbila Muzimba resulta de uma fusão de dois substantivos comuns, em que o primeiro é referente ao instrumento e o segundo que significa corpo humano.

Em harmonia com a origem etimológica e o valor semântico do nome do agrupamento, os Timbila Muzimba pautaram por explorar os ritmos originados pelo instrumento combinando-os a outras sonoridades produzidas no sul do país, enriquecendo-os com fortes fundamentos da vivência e tradição Chopi.

O trabalho que fazem em relação ao domínio e constante inovação no aspecto sonoro tem movido o grupo a realizar pesquisas acerca da conjugação de ritmos e instrumentos musicais para a produção de composições musicais admiráveis e com padrões de qualidade apreciados em diversos cantos do mundo.

Num processo em que o auxílio e o apoio da família são muito importantes, “começamos por praticar a dança e a tocar a música Chopi. O tempo passou e, provavelmente, em resultado disso, a nossa paixão e a afinidade em relação à nossa cultura evoluiu de modo proporcional. Recordo-me de que alguns dos nossos tios eram produtores da Timbila e nós, nessa altura, ainda que adolescentes, gostávamos de participar em eventos culturais, praticando a dança e a música”.

A partir de Agosto do ano de 1997, os mesmos jovens idos de diversas colectividades culturais decidiram formar a banda Timbila Muzimba. Desde lá a esta parte, muitos jovens que se associaram ao colectivo, por diversos motivos, acabaram por se afastar do mesmo.

Talvez seja devido a essa profunda ligação que possuem com os instrumentos musicais Chopi, incluindo a própria cultura, que Matchumi não consegue dissociar a Timbila da existência humana: “A Timbila é como se fosse a nossa alma e tocá-la pouco difere de falar a nossa língua, o Chopi”.

Refira-se, então, que apesar das facilidades que o desenvolvimento tecnológico tem criado ao mundo artístico e aos artistas, as dificuldades que se lhes impõem não são diminutas, muito em particular para quem tem a música como a garantia da sua subsistência.

Por essas razões, os Timbila Muzinba apostam na qualidade das suas obras como o principal elemento de atracção de consumidores no mercado das artes. “Como se sabe, ainda que se possa escutar, a música chopi é essencialmente para cantar e dançar. Em virtude disso, os nossos concertos são contagiantes de modo que os nossos públicos, muitas vezes, diante dos mesmos, encantados pela emoção que transportamos, perdem a noção do tempo”, considera Matchumi.

Com apenas dois trabalhos discográficos, nomeadamente Conta Própria e Warethwa, publicados nos anos 2003 e 2008 respectivamente, os Timbila Muzimba encontram-se, presentemente, a preparar o terceiro álbum.

Mas em relação ao comentário de Matchumi, nada mais nos resta senão considerarmos que, de facto, como se assistiu no último concerto do conjunto em Maputo, mesmo que de forma involuntária, o público vibra; os seus pés recusam-se a permanecer inertes, riscam o chão; os membros superiores do corpo movimentam-se, enfim, dançam, celebram a vida que o retumbar das Timbilas lhes dá.

“Mas como é que a música pode impelir as pessoas a um comportamento desta natureza?”, questionámos.

A verdade é que “transformamos algo na vida das pessoas. É como se fôssemos uma banda que, em certo sentido, ajuda as pessoas a resolver os seus problemas. Educamos a sociedade sempre que tivermos oportunidade. Preservamos a nossa cultura, ainda que isso não signifique isolarmo-nos do resto do mundo”.

Unidade 7

Profundo conhecedor do bairro onde reside, o nosso interlocutor, (que aventa a possibilidade de o seu agrupamento criar uma composição em sua homenagem), é testemunha de que a comunidade e os jovens do Unidade 7 não têm tido muitas possibilidades com vista a uma ocupação salutar, o que, facilmente, contribui para que comportamentos desviantes se tornem fecundos.

Refira-se ainda que, no seu parecer, situações como o consumo de drogas, o abuso do álcool, incluindo eventuais tendências para a prostituição, são vistos como comportamentos estimulados pela queda da moralidade e pelas insuportáveis diferenças sociais entre as pessoas mais desfavorecidas e os (supostos) bem-sucedidos ou simplesmente ricos.

Preocupados com esta realidade, os Timbila Muzimba têm realizado programas de formação de jovens em matérias de produção de instrumentos de música tradicional, como forma de estimular o seu amor (adormecido) pelas artes.

No âmbito do referido programa, foi formado um universo de 40 jovens (residentes dos bairros Unidade 7 e Hulene) que compõem uma orquestra musical. Em resultado do trabalho feito, o número de percussionistas está em permanente evolução.

É por essa razão que “nós gostaríamos de ter um centro cultural (próprio) onde possamos aplicar as nossas acções como forma de trabalharmos de modo mais sistematizado”, diz Matchumi a terminar.

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