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Tertúlias Itinerantes debatem simbologia das culturas moçambicana e portuguesa

Tertúlias Itinerantes debatem simbologia das culturas moçambicana e portuguesa

Foto de Fim de SemanaO desconhecimento mútuo entre as culturas moçambicana e portuguesa foi o principal ponto de convergência durante a tertúlia do 10º sub-tema do III ciclo “Fluxos de comunicação intercultural no espaço de língua portuguesa: debater o desconhecimento mútuo no contexto da era global”, realizada na quinta-feira, dia 22 de Novembro, no Centro Cultural português (Instituto Camões), na cidade de Maputo.

Sara Laísse, uma das painelistas deste 10º sub-tema, defendeu a importância dos rituais ligados ao nascimento das crianças, sua abordagem na cultura e tradição bantu e religião católica apostólica: “Os modos de fazer são diferentes, mas a essência que é a função, é o que se pode perceber durante o ritual de passagem e os símbolos que são iguais”.

A painelista referiu que a natureza humana é a mesma, os hábitos é que se mantêm diferentes. Por isso, a discussão sobre uma eventual superioridade cultural não faz sentido. A tradição pode explicar como estabelecer os rituais ligados ao nascimento das crianças tanto na cultura bantu, como nas culturas cristãs.

Na sua abordagem, Sara Laísse disse ainda que a interdição das culturas tradicionais durante o período da colonização, por se considerar profanismo naquela época, significa que no final do dia a tradição católica também vai buscar as culturas (baptismo), o que era considerado profano por parte da cultura bantu, daí a necessidade da continuidade dos vários momentos (rituais) como o “ku txula vitó” (dar nome), defendendo a não continuidade da mutilação genital.

Eduardo Lichuge, igualmente orador desta edição, trouxe para o debate a música na cultura chope por entender que existe falta de conhecimento sobre esta tradição, quer da parte portuguesa, quer moçambicana.

Na sua dissertação, Eduardo Lichuge sustentou que o colonialismo foi um fenómeno que matou a cultura, barrando a tradição africana no contexto da colonização. Mas hoje, a partir deste instrumento pode conhecer-se melhor a cultura chope, por esta ter-se reinventado de várias formas, através da resistência à “aculturação”.

Eduardo terminou a sua intervenção louvando Venâncio Mbande que elevou a timbila, uma manifestação cultural moçambicana chope, a património mundial e lamentou o pouco estudo sobre esta manifestação. Por sua vez, Lurdes Macedo e Rosa Cabecinhas, investigadoras do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (Portugal), igualmente painelistas deste 10º sub-tema, enfatizaram o desconhecimento entre ambas as culturas, sobretudo por parte dos jovens estudantes, apontando o dedo à falta de uma informação completa que integre as várias versões sobre história e cultura durante o período colonial.

Em sua opinião, esta é uma lacuna que trespassa toda a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). A título de exemplo, Lurdes Macedo referiu a falta de informação sobre o trabalho do percursor da noção de “cultura da língua”, Jorge de Sena, especialista em Luís de Camões (que concluiu a escrita e a revisão d’Os Lusíadas na Ilha de Moçambique) que colaborou em projectos literários com autores moçambicanos como José Craveirinha ou Lindo Lhongo, tendo inclusive visitado Moçambique em 1972.

A apresentação do 11º sub-tema será realizada a 27 de Novembro, na Universidade Politécnica, sob tema “Dinâmicas culturais em Moçambique: seu impacto na promoção do turismo”, na qual participarão vários aristas moçambicanos. Esta tertúlia, que encerrará o III Ciclo, faz parte do programa cultural do Congresso Internacional sobre Cultura e Turismo.

Importa referir que esta iniciativa, que combina uma componente de investigação académica com a promoção do debate na sociedade civil, é coordenada por Sara Laisse, docente da Universidade Politécnica, Eduardo Lichuge, da Universidade Eduardo Mondlane e Lurdes Macedo, investigadora da Universidade do Minho (Portugal).

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