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Sul-africanos veneram a língua portuguesa!

O Coordenador do Programa do Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Camões – ao nível da África Inglesa, no contexto da região Austral –, Rui de Azevedo, considera que a realidade desenvolvimentista instigada pelas constantes descobertas de recursos naturais em Moçambique tem alimentado um forte impacto cultural na terra do Rand. Em resultado disso, nas antigas colónias inglesas, presentemente, aprender a língua portuguesa está a tornar-se um novo culto.

O coordenador do Programa do Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Camões, ao nível da África do Sul, Zimbabwe, Suazilândia e Namíbia, Rui de Azevedo, considera que apesar do fraco poder económico de Moçambique – país onde o português é o idioma oficial – as constantes descobertas de riquezas naturais que ocorrem têm estado a incrementar a apetência dos cidadãos dos demais países da região de aprender e dominar a língua.

Dados estatísticos apresentados pelo coordenador indicam que, presentemente, nos quatro países há cerca de 3600 estudantes, 2600 dos quais se encontram no país de Nelson Mandela.

De acordo com Rui de Azevedo, a pressão que alguns cidadãos dos países falantes da língua inglesa têm exercido, nomeadamente África do Sul, Zimbabwe, Namíbia e Suazilândia, ao nível da África Austral, no sentido de aderirem ao português, pode ser explicada com base em duas razões principais: “o notável poderio económico em constante elevação de Angola, por um lado, bem como o facto de Moçambique estar a atravessar uma espécie de época dos descobrimentos em relação às riquezas naturais que detém, por outro”.

Em contacto com @Verdade, Rui de Azevedo revelou que nos dias que correm existem 3.600 estudantes da língua portuguesa – que se distribuem pelos quatros países – os quais são leccionados por 36 professores.

Entretanto, onde a demanda da formação para o domínio da língua portuguesa é maior é na República da África do Sul, nação em que as cifras indicam haver cerca de 2.600 estudantes, dos quais 51 porcento são constituídos por cidadãos nativos, ao passo que os demais são luso-africanos.

Recorde-se de que, com a excepção de Moçambique e Angola, países falantes da língua portuguesa, por razões histórico- coloniais, na África Austral quase todos os países têm o inglês como língua oficial.

Neste sentido, a preocupação de Portugal no sentido de expandir o seu império colonial – ainda os finais do século XIX, foi levado ao extremo através do Projecto do Mapa Cor-de- -Rosa reprovado na Conferência de Berlim –, é presentemente materializada pelo antigo colonizador de Moçambique e Angola através dos Institutos Camões instalados nos países em referência.

Na África do Sul, por exemplo, para além de escolas afins, o Instituto Camões tem desempenhado um trabalho notável de instrução focalizando os seus esforços nalgumas cidades estratégicas como Joanesburgo e Cabo.

Deste modo, pela relevância peculiar que os sul-africanos encontram nos estudos da língua de Camões, a África do Sul é o país que possui o maior número de professores do universo dos 36. Ou seja, individualmente, países como Suazilândia e Zimbabwe possuem apenas dois professores que ministram aulas da mesma língua ao serviço do Programa do Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Camões.

É por essa razão que a mesma instituição realiza esforços no sentido de apoiar cada vez mais os países com défice de docentes, sobretudo através de programas de formação de professores. Paralelamente a isso, no Zimbabwe e na Namíbia decorre um curso de leitores da língua portuguesa.

Constranger a demanda

Perante a contínua evolução da demanda em relação ao ensino da língua portuguesa, o continente africano debate- -se com a inexistência de um programa e/ou instituição para a formação de professores que prestem serviços do ensino do idioma.

Em resultado disso, os poucos quadros que, estando ao serviço do Instituto Camões trabalham como docentes, têm-se revelado insuficientes. Trata-se de uma escassez que, no entender de Rui de Azevedo, tem constrangido a crescente procura pelos serviços de ensino da língua.

“O Instituto Camões é a única instituição que tem suportado a demanda dos estudantes pelo curso linguístico, o que acarreta elevados custos financeiros. Uma das estratégias que se tem estabelecido é o apoio cada vez maior cedido aos professores localmente existentes através de programas de formação. Pensamos que isso é importante porque, ao que tudo indica, na África do Sul o uso da língua portuguesa tem um futuro risonho. O número de falantes do português continua a evoluir como acontece na Namíbia”, considera Rui de Azevedo.

Ainda de acordo com o coordenador do Ensino de Língua Portuguesa do Instituto Camões, a instituição que dirige estabeleceu protocolos de cooperação com o sistema nacional de ensino namibiano com a finalidade de garantir a formação de um número cada vez maior de professores da língua portuguesa que operam nas instituições de ensino secundário geral.

Rui de Azevedo considera que a estratégia tem sido bem-sucedida. Congratulando-se com o feito, o dirigente considera que nos dias actuais “estamos a negociar com as autoridades académicas de Joanesburgo e de Cape Town para apoiarem na formação de alguns professores de estabelecimentos de ensino locais, nos mesmos moldes. O que se pretende é capacitar os professores na língua portuguesa a fim de contribuírem na massificação e exploração do idioma no respectivo espaço social”.

Enquanto isso, nem todos os interessados em frequentar um curso da língua portuguesa podem fazê-lo na África do Sul. Ou seja, presentemente, a formação é mais direccionada às elites sul-africanas, sobretudo aos cidadãos residentes em Joanesburgo e na Cidade de Cabo.

De uma ou de outra forma, apesar do facto de na África do sul a língua que dinamiza a vida económica, política e sociocultural ser a inglesa, a expansão da língua portuguesa possui importância vital para o Instituto Camões e o Estado português em geral. “Queremos ter a capacidade de colocar os professores da língua portuguesa em locais recônditos, onde temos imensas dificuldades para chegarmos”, assegura Azevedo.

A raiz do problema

Se considerarmos que a aprendizagem da língua portuguesa – por parte dos cidadãos sul-africanos e/ou de outras nações africanas ex-colónias inglesas – é um problema, não haveria nada melhor que procurarmos saber a sua raiz, sobretudo numa época em que o inglês se impõe como um idioma internacional e, quase, uma chave para o acesso ao emprego, não somente nos países anglófonos, como em Moçambique e nas diversas partes do mundo.

Facto, porém, é que algumas cidades sul-africanas como Pretória, Cabo e Joanesburgo são verdadeiros espaços cosmopolitas: por lá encontram-se cidadãos de origem portuguesa, outros de descendência daqueles, ou seja, os chamados luso-africanos.

De qualquer modo, colocando à parte as nossas inferências, o coordenador do Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Camões, Rui de Azevedo, considera que a apetência que os sul-africanos nutrem pela aprendizagem da língua pode ser explicada por vários factores:

“Pais com uma visão futurista e que, interpretando os acontecimentos da África Austral – com particular destaque para a tendência desenvolvimentista de Moçambique e Angola – e que, por essa via, prevêem que tais países sejam, em relação ao futuro, um bom partido em relação à segurança económica e social; o facto de a África do Sul ser, como já explicado, também habitado por muitos cidadãos de origem portuguesa para os quais não existe uma segunda língua internacional para os seus filhos a não ser o português; e, acima de tudo, pelo facto de a língua portuguesa ser um instrumento que os aproxima das nações como Angola e Moçambique”.

Acordo Ortográfico

Entretanto, em resultado de Portugal, o país que coordena o programa do Ensino da Língua Portuguesa do Instituto Camões ao nível dos quatros países falantes da língua inglesa na África Austral já ter ratificado ao Acordo Ortográfico, a instrução do idioma é feita em consonância com os preceitos da referida convenção.

Na verdade, o problema é que quem fala sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não pode fazê-lo sem se referir às polémicas que o mesmo gera no seio da comunidade lusófona. É a par dessa realidade que Rui de Azevedo engendra o seu comentário:

“De facto, está-se diante de uma questão que alimenta debates controversos. Por exemplo, ao nível das nossas jornadas de formação tem havido prós e contras ao acordo. De qualquer modo, eu defendo a iniciativa do Acordo Ortográfico. Para mim, é um instrumento que nos possibilita internacionalizar a língua portuguesa, o que em certo grau facilitará não somente o acesso como também a sua compreensão por mais cidadãos do mundo”.

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