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Forte tributo às obras do Palco!

Forte tributo às obras do Palco!

No Palco, a primeira mostra fotográfica de Yassmin Forte pode não ser uma autêntica forma de revelar a pujança com que a nossa produção artístico-cultural tem estado a acontecer nos dias que correm. No entanto, em relação a um segundo aspecto, a artista é meritória: quantas recordações e nostalgias uma simples foto pode conter…

Fomos visitar No Palco, como se convencionou chamar a primeira mostra fotográfica da jovem fotógrafa moçambicana, Yassmin Forte. As telas que expõe são (verdadeiras) obras de arte perante as quais as pessoas que, em certo grau, vivem e convivem continuamente com os palcos, os artistas, os instrumentos de fazer arte, as manifestações artísticas e culturais, têm uma relação de proximidade. Tais obras originam a recordação de algo ou de algum lugar onde em determinado tempo qualquer pessoa pode ter estado.

Em seguida, as mesmas fotos atraem a nossa atenção. Algumas prendem a nossa vista à tela. Fazem-nos pensar. É como se tivessem uma profunda relação connosco. Com a nossa actividade, incluindo as razões e o porquê da realização de cada um dos eventos sobre os quais reportámos.

Em tudo isso, como a nossa missão, muitas vezes, é a de reportar e (invariavelmente) criar pontos de vista em relação aos mesmos acontecimentos, recordamo-nos dos eventos que nos marcaram (em todos os sentidos), assim como de outros com base nos quais, perante as fotos que Yassmin colocou em montra, debalde, reconstruímos uma profunda vontade de regressar no tempo para reviver a mesma experiência. Isso é nostálgico.

O que se pretende comentar é que as fotos de Yassmin Forte, como se pode perceber, podem servir para narrar a experiência de qualquer cidadão, músico, actor, coreógrafo, malabarista, fotógrafo, médico, ou um simples repórter sociocultural como, por exemplo, aconteceu no momento em que se escreveu o texto que o estimado leitor lê. São obras que retratam o dia-a-dia da pessoa moçambicana, dos seus feitos no campo das artes dramáticas – as quais decidimos chamar artes do palco – que, em grande medida, contribuem para a construção social do nosso país.

“Como uma máquina fotográfica pode captar e revelar – perante o público – histórias de vidas humanas de forma tão original como acontece No Palco?”. Talvez, essa seja uma questão que cada pessoa que visite a exposição patente na Galeria do BCI Fomento – Espaço Joaquim Chissano, em Maputo, se coloque.

A verdade, é que, ao que tudo indica, nas obras de que estamos a falar há muitos outros elementos (sobre a autora) envolvidos além dum simples duplo click do dedo no aparelho. Na exposição prevalece uma profunda relação entre a fotógrafa – a quem preferimos chamar artista – e os momentos, as peripécias da dinâmica artístico cultural e da boémia maputense.

“Talvez um contacto de anos, desde quando Yassmin Forte era uma pessoa de tenra idade, uma adolescente de sete anos, altura em que o seu pai, outra figura devota à fotografi a, lhe ofertara uma máquina fotográfica. Pequena, cometendo todos os erros necessários para o aprendizado, Yassmin deu os primeiros passos de uma actividade que além de bens materiais vale-lhe a satisfação do ego”, é como se pode definir a relação que se tece entre a artista e as suas criações.

Kampfumo Festival

De qualquer modo, se quisermos falar sobre o passado que na mesma exposição é narrado, podemos encontrar – entre os mais avultados eventos que se têm realizado em Maputo – o ousado Kampfumo Festival que aconteceu em princípios de Dezembro do ano passado.

Indubitavelmente, aquele evento – em que, maioritariamente, participaram artistas moçambicanos – provou que a cidade de Maputo reúne algumas condições para acolher movimentos culturais e artísticos de grande envergadura.

Músicos idos de diversos pontos do continente africano e do mundo acorreram ao terreno baldio anexo à estação dos Caminhos-de-Ferro de Maputo que, ao abrigo da mesma iniciativa, foi inaugurado como um novo destino e ponto difusor das artes, a música em particular, na capital moçambicana.

Em relação ao Kampfumo Festival, as memórias sobre uma iniciativa ousada, dinâmica e pujante que se propôs ser em termos de movimentos de animação cultural e de entretenimento, que instalou na Cidade das Acácias, são sempre fragmentos memoráveis em relação ao respectivo evento. Mas, diga-se, o mesmo já não se pode referir em relação à afluência do público maputense. Talvez precisemos de um programa de formação de públicos para os eventos.

Festival Marrabenta

É assim como se chama um outro movimento artístico- -musical sobre a qual Yassmin Forte desenha o seu percurso fotográfico No Palco narrando os feitos notórios que – em princípios do ano em curso – a iniciativa levou a cabo. E aqui pode-se considerar o facto de a mesma iniciativa ter realizado, 40 anos depois, a exposição da peça teatral de Lindo Nlhongo sobre o lobolo e as trinta mulheres de Muzelene.

Mas, a par disso, podemos associar a participação das Mahotella Queens, as rainhas da música sul-africana que possuem uma ligação umbilical em relação a muitos acontecimentos nacionalistas moçambicanos como, por exemplo, as resistências de grupos étnicos nacionais, a origem de alguns géneros de dança e estilos musicais, incluindo a Marrabenta.

Lutar contra a violência

Um outro evento digno de menção é a luta que as mulheres moçambicanas, africanas e de quase todo o mundo, dirigidas pela célebre cantora moçambicana Dama do Bling, realizaram durante o mês de Abril dando corpo a uma campanha a qual chamaram Pare Com a Violência.

Na ocasião, a nossa opinião foi engendrada no sentido de testemunhar que efectivamente, no dia-a-dia, as mulheres experimentam situações penosas que derivam da violência doméstica que reina na família. Aliás, na sua sociedade, a moçambicana, supostamente tradicional e machista, o baixo nível de formação sociocultural e de educação é apontado como sendo o factor que as torna frágeis. Mas, mesmo assim, de um atributo não perdem orgulho: elas são a mulher moçambicana. E, em Abril, altura em que Dama do Bling promoveu o seu Divas Show, as mulheres moçambicanas lutaram pelos seus direitos.

Em tudo isso, é importante notar que a fotografia de Yassmin nos move a recordar-nos de todos os esses acontecimentos, incluindo o seu contributo – na verdade a tributo do movimento cultural e das artes – na construção de uma sociedade moçambicana cada vez melhor. Convenhamos, então, que se afirme que a sua produção fotográfica nada mais nos diz que um conjunto de fotos altamente seleccionadas e com histórias.

Cobra de diversas cores

Nas artes, muitos aspectos – como, por exemplo, os temáticos, a fonte de inspiração dos artistas, a compreensão dos seus movimentos – nem sempre são compreensíveis imediatamente. O último concerto de Salimo Muhamed, “Cobra de diversas cores”, que Yassmin Forte teve a oportunidade de fotografar, é apenas um exemplo.

Em tudo isso, é impressionante notar que, diante da foto, é como se existisse uma forte sinergia entre o tema que Salimo Muhamed propôs para o seu show e a forma como os artistas em palco se comportaram. Talvez, não exista uma forma capaz de explicar isso de modo que seja percebido.

Ora, se entendemos que a escrita pode ser uma metáfora da linguagem então convenhamos que ela é poderosa, mas também tem limitações. Por isso, uma forma de contornar eventuais incompreensões – decorrentes dos limites da escrita – é ir contemplar as obras na galeria. A mostra encerra amanhã no espaço já aludido.

Ficámos com a impressão de que em relação ao caso vertente de Salimo Muhamed, efectivamente a mostra de Forte terá ampliado a discussão que o artista lançara em relação ao tema “Cobra de diversas cores” – como chamou o seu último concerto – acerca do qual, nas edições passadas, tivemos a oportunidade de escrever algo.

Humilde mas significativo

Comentando acercada da exposição diante da qual realizou uma espécie de crítica à arte, o conceituado escritor moçambicano Francisco Noa considera que a exposição de Yassmin Forte representa “um humilde mas significativo tributo que uma arte, a fotografia, presta a outras artes, neste caso, a música, o teatro e a dança”.

Na verdade, na fotografia desta jovem mulher a arte está ao seu próprio serviço. Para nós, é como se os espectáculos tivessem sofrido uma metamorfose, uma transformação, passando de um estágio dinâmico, o show, para outro estático, o visual, conservando, no entanto, todas as qualidades que constituem as artes do palco.

Talvez seja, igualmente, por essas razões que Francisco Noa considera que “cada um dos momentos surpreendidos pelo olhar fotográfico da autora vai muito além do que está ali cristalizado, como se de uma pequena interrupção se tratasse em relação ao curso dos eventos.

Isto é, cada fotografia, cada artista retratado leva-nos a sentir e a perceber tudo o que parece envolver a fracção de realidade retida em cada instantâneo.

Assim, se não são os movimentos cadenciados e harmoniosos dos dançarinos que enchem a nossa vista, são os sons arrancados em cada instrumento, ou as vozes e as canções que se enlevam e ecoam na nossa imaginação” (sic).

Quem é Yassmin Forte

Formada em Relações Públicas e Jornalismo, Yassmin Forte trabalha no ramo de Marketing na Rádio Moçambique, onde trabalho há meia década. Realizou um curso de fotografia no ano passado, altura em que começou a trabalhar intensamente na área. No entanto, a sua relação com a fotografia começou muito antes da referida formação. As suas obras podem ser adquiridas no Centro Cultural Franco-Moçambicano, entre outros espaços de Maputo.

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