Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Toma que te dou: Há uma necessidade urgente de condecorar os nossos heróis das artes

Devia ser agora em Nampula. Lembrei-me disto quando há cerca de duas semanas apareceu na TVM o Xadreque Mucavele (Ximbomana), com um aspecto bonacheirão, sereno, e sem mágoas no coração. O Ximbomana não foi ao programa do Gabriel Júnior para reivindicar fosse o que fosse. Não tinha farpas para lançar, nem pela boca, nem pelas mãos. Tinha harpas, que espalhou por aquele lugar que Gabriel Júnior “inventou” para dar alegria ao povo.

 

Cantou para gáudio da nostalgia, e para os corações que irão dizer palavras a este músico, com toda sinceridade. Com abertura. Fiquei comovido quando Ximbomana se recusou a queixar-se de alguma provável injustiça que tenha sofrido durante a sua carreira, embora numa das suas canções de emblema nos faça recordar as atrocidades da PIDE/DGS. Ximbomana agiu com humildade, que veio a saber-se ser uma atitude de sabedoria.

 

Porque quem age com humildade, age com sabedoria. Ximbomana mostrou-se superior àqueles que se deviam sentar e fazer um levantamento dos músicos que alimentavam as nossas almas quando mofávamos com carapau e repolho e farinha amarela e um peixe execrável que foi baptizado de Pedro Ben, por causa dos olhos esbugalhados. Ximbomana faz parte dessa gesta de ouro, que passava por de cima da fome e da guerra, cantando revoltas e alegrias e sonhos. Este músico faz parte desse tempo sagrado em que, outros como ele, eivavam os nossos corações.

Não eram assim tantos que estavam no pedestal do povo, mesmo assim tenho medo de citar alguns nomes que me vão ocorrer na memória, mas não resisto em trazê-los para esta arena: Salvador Maurício, Gimo Remane, Zeca Alage, Pedro Langa, Zena Bacar, Salimo Mohamed, que chegou um vertiginoso tema que leva o nome de Xantima i Bodlela, em apelo para que os protagonistas dessa guerra estúpida e desnecessária se sentassem à mesa e falassem. São chamados ainda para esta vitrina de ouro o Jaimito Mahlathini, Arão Litsuri, João Cabaço, Hortêncio Langa, Pedro Ben, Alípio Cruz, Astra Harris, Djambo 70, só para citar alguns exemplos.

Moçambique devia sentir-se orgulhoso de ter aqueles filhos queridos que sempre se mantiveram de pé, mesmo em frente às balas e à fome, e muitos deles estão a vegetar na sarjeta, sem nada, na maior parte das vezes, para comer.

Quem vos disse que heróis são apenas aqueles que pegaram em armas e combateram ou o colonialismo, ou participaram na horrenda guerra dos dezasseis anos?

Estes músicos foram verdadeiros heróis porque enquanto as armas troavam, eles iam ao palco, por vezes viajando nas estradas cheias de perigo de morte para dar alegria ao povo que, por via da música, esquecia os momentos bastante duros e mortíferos por que passava.

O povo exulta sempre quando aparece um Ximbomana e outros que já passaram pela Televisão com a finalidade de cantar, e não para conspirar. E como é que, em o povo exultando, estabelece-se um silêncio total de quem direito?

Temos músicos neste país que são uma verdadeira instituição, e é importante que se reconheça isso. Os que estão à frente da organização do Festival Nacional da Cultura deviam lembrar-se disto para as próximas realizações.

O Ministério da Cultura, por sua vez, devia pensar nesta questão de suma importância, porque é inquestionável que estes músicos merecem, no mínimo, uma condecoração. Esses músicos estão a desaparecer um por um, seguindo, antes de nós, o caminho que espera todos os seres vivos.

E depois de eles partirem vêm os políticos tecer discursos da praxe e tudo termina por aí. O que eu acho é que estes actores importantes da nossa Cultura deviam ser condecorados agora, num acto público, enquanto vivos, porque o que eles fizeram não pode ser menosprezado.

Eles realizaram um trabalho de inegável valor político-cultural e intelectual. E há quem queira ignorar isso, ou fazer de contas que nunca se fez nada de dimensão patriótica como o fizeram esses músicos que hoje passam por aí, como anónimos.

Condecorar estes músicos será prestar uma vénia à nossa História, à Cultura moçambicana.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!