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Sonito: o goleador que não virou carpinteiro

Ápson David Manjante, ou simplesmente Sonito, tal como é conhecido no mundo do futebol, é o nome do melhor marcador do Moçambola, edição 2012, com um total de nove golos em apenas 11 jogos. No pretérito fim-de-semana, este mesmo jogador voltou a acentuar a sua veia goleadora ao marcar, num só jogo, quatro golos no histórico resultado de 7 a 1 que a Liga Muçulmana alcançou perante o Lobi Stars da Nigéria, na segunda “mão”dos dezasseis-avosde- final da Taça CAF. Como que a satisfazer uma curiosidade, o @Verdade, nesta semana, visitou a residência daquele atleta, para, junto da família e de amigos, saber o que esconde o Ápson por detrás do Sonito.

Ápson David Manjante nasceu a 10 de Agosto de 1985 no bairro de Bunhiça, município da Matola, no seio de uma família humilde e trabalhadora. Foi na modéstia casa feita de madeira e zinco que encontrámos os avós maternos do jogador, Francisco Lázaro Macie e Crizalda Manecas Mangue, a mesma em que Sonito nasceu, cresceu e deu os primeiros passos no mundo do futebol.

Tal como muitas crianças moçambicanas, Ápson Manjate não teve a sorte de ser criado e uma educação exemplar dos pais, pois foi entregue aos cuidados dos seus avós. Ainda assim, não faltou nada que lhe fizesse lembrar os seus verdadeiros progenitores.

Segundo relatos da família, o jovem jogador estudou na Escola Primária de Bunhiça antes de rumar para a escola da Mesquita Mahometana, ainda no mesmo bairro. Contudo, porque o futebol depressa lhe invadiu as veias, Sonito foi obrigado a abandonar a vida académica.

Para Crizalda Manecas, a avó, a escola nunca foi o forte deste jogador que, vezes sem conta, era encontrado com uma bola feita de saco e plásticos, o famoso xingufo, no lugar dos livros. O campo do Bazar de Chissano, como é vulgarmente conhecido o recinto que está mesmo à frente da sua antiga casa, foi o local que gerou aquele que hoje é conhecido como o goleador do futebol moçambicano.

Em termos práticos, Sonito mostrou inclinação para o futebol aos seus oito anos de idade, quando jogava sem parar ao lado de amigos do bairro. Esta conduta, segundo afirma Francisco Lázaro, não era muito bem vista no seio da família, que queria que o neto apenas estudasse.

Na vida estudantil, ainda que tivesse uma maior simpatia pelo futebol, Sonito sempre foi um bom aluno, conforme assegura Macie. Porém, o “prédio falso” desmoronou em 2007 quando ele constituiu uma nova descoberta para o futebol moçambicano, pela porta do Grupo Desportivo de Maputo, quando frequentava a 10ª classe.

O seu empresário era o seu próprio avô. “Eu assumi a responsabilidade de gerir a carreira do Sonito no Desportivo de Maputo. Não acreditava muito nele, mas vi que não perdi meu tempo quando o seu trabalho começou a ser valorizado. Depois foi chamado pelo Ferroviário de Maputo e por fim foi convidado pela Liga Muçulmana. Mas senti-me orgulhoso e realizado, na verdade, quando foi convocado pela primeira vez à selecção nacional” confessou Francisco Macie.

“Não vi nenhum problema. Foi uma escolha que fez e que hoje está a dar os seus frutos” respondeu assim Francisco Macie, quando questionado sobre se não estava arrependido por ter permitido que o jogador trocasse os livros pela bola. Uma curiosidade revelada por esta fonte dá conta de que Sonito, antes de ser futebolista, em tempos livres, era o seu ajudante de carpintaria, profissão que deveria ter seguido caso não fosse convidado para jogar no Desportivo de Maputo.

“Eu disse-lhe que soubesse aproveitar o futebol uma vez que um dia poderá ficar sem pernas. Graças a Deus, ele comprou um terreno, está a construir uma casa e tem uma família, com uma esposa e uma filha lindas, por cuidar”, confirmou Francisco Lázaro Macie.

Os grandes momentos de Sonito para a família

Segundo revelou Crizalda Manecas Mangue, a família Macie nunca viu com bons olhos a “profissão” de futebolista de Sonito. Aliás, mesmo depois de Francisco ter assinado o termo de compromisso na qualidade de empresário do jogador no Desportivo de Maputo, a indiferença sempre reinou no seio da mesma.

Contudo, as coisas mudaram no Domingo, 02 de Março de 2008, quando Sonito, por volta das 18 horas, chegou à zona a exibir um cheque gigante no valor de cinco mil meticais. Era o prémio de Melhor Jogador da Taça de Honra daquele ano, o que serviu de primeiro sinal para o futuro que não se esperava de Ápson.

E o momento mais alto, que fez a família acreditar que Sonito era de facto um jogador de futebol, foi quando ele foi chamado à selecção nacional e, para registar o momento de estreia, marcou o único golo que deu o empate aos “Mambas”contra Angola, em jogo a contar para a fase de qualificação para o CAN-Interno de 2009. Para além de ter emocionado a família, aquele jogador foi recebido como um herói por amigos e vizinhos do bairro, que na mesma noite organizaram um jantar, diga-se, de gala.

“Ele é muito calmo e fechado”

A fama de Sonito é algo que incomoda Manecas David Manjante, irmão mais novo daquele jogador. Tudo porque as pessoas passaram a interpelá-lo na rua, como se ele fosse o irmão.

Segundo Manecas “as pessoas quando olham para mim, só vêem o Sonito. Ainda hoje, um colega da faculdade perguntou-me o que a Liga prometeu ao Sonito caso marcasse golos, e o que deram depois de marcar os quatro golos, o que para mim é muito chato”.

“Sou irmão de Sonito mas não somos amigos. Ele é uma pessoa muito fechada e de difícil relacionamento”, revelou Manecas para a seguir acrescentar: “ele tem um carácter muito pesado, se calhar porque é meu irmão mais velho. Porém, eu não sou assim com o meu mais novo”.

Falando com alguma emoção, Manecas lembrou que “quando éramos pequenos, lutávamos muito. As nossas brigas eram comuns. Gostava daquilo e tenho muita saudade. Hoje ele ajuda- -me a pagar a minha formação superior e estou grato por isso”.

“A barraca de Sonito”

É no quiosque da Nácia João, defronte de casa dos avós e bem ao lado do campo em que deu os primeiros toques na bola, que Sonito se diverte ao lado de amigos e familiares. No entanto, por inocente desconhecimento, a proprietária daquele estabelecimento não sabia – antes da nossa visita – que ele é um jogador de futebol.

“Para mim ele sempre foi uma pessoa comum e da zona. Olhava para ele como se fosse um vizinho, um amigo. Nunca pensei que fosse um jogador tão importante”, sublinhou Nácia.

“O Sonito é uma pessoa muito calma. Nunca foi de confusão e abandona os amigos caso haja algum distúrbio. Bebe socialmente e nunca foi de se exceder no álcool. Se não está com os seus irmãos, está sempre com os amigos”, disse a fonte. Soubemos, ainda, que Sonito gosta de jogar bilhar naquele estabelecimento.

 

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