A Síria aceitou, esta Terça-feira (10), uma proposta russa para abrir mão das suas armas químicas e ser poupada de um ataque norte-americano, mas sérias divergências entre Estados Unidos e Rússia podem obstruir uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que sele o acordo.
A Casa Branca afirmou que continuará a buscar autorização do Congresso para um ataque à Síria, enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que o plano só dará certo se Washington e os seus aliados descartarem a opção militar.
Em nota divulgada pela TV russa, o chanceler sírio, Walid al-Moualem, disse que o governo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, está comprometido com a iniciativa de Moscovo.
“Queremos aderir à convenção sobre a proibição de armas químicas. Estamos preparados para observar as nossas obrigações em concordância com tal convenção, inclusive fornecendo todas as informações sobre essas armas”, disse Moualem. “Estamos preparados para declarar a localização das armas químicas, parar a produção das armas químicas e mostrar essas instalações (de produção) a representantes da Rússia e de outros Estados membros da Organização das Nações Unidas.”
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que a proposta deveria ser avalizada pelo Conselho de Segurança da ONU “a fim de ter a confiança de que isso tem a força que deveria ter”. Moscovo já vetou três resoluções do Conselho que condenariam o governo sírio pelo conflito em curso há dois anos e meio no país.
Em declarações pela TV, Putin disse que a nova proposta “só poderá funcionar se ouvirmos que o lado norte-americano e todos os que apoiam os Estados Unidos nesse sentido rejeitam o uso da força”. Falando ao Congresso, Kerry e o secretário de Defesa, Chuck Hagel, disseram que a ameaça de accção militar é crucial para obrigar Assad a abrir mão das armas químicas.
“Para que essa opção diplomática tenha chance de sucesso, a ameaça de uma acção militar dos EUA – a ameaça credível e real de acção militar dos EUA – deve continuar”, disse Hagel à Comissão de Serviços Armados da Câmara dos Deputados. As autoridades dos EUA disseram que Kerry e Lavrov vão se reunir na Quinta-feira em Genebra, na Suíça.
Os EUA querem atacar a Síria como punição pelo suposto uso de armas químicas contra civis, a 21 de Agosto. Assad nega ter usado essas armas, e a Rússia diz que também há dúvidas sobre a autoria do ataque. Os EUA e os seus aliados continuam cépticos sobre a proposta russa, e o presidente norte-americano, Barack Obama, tentou manter a pressão sobre a Síria ao manter a busca por apoio do Congresso para um possível ataque militar, enquanto explora uma alternativa diplomática.
A França quer uma resolução de cumprimento obrigatório do Conselho de Segurança da ONU que forneça uma estrutura para controlar e eliminar as armas e diz que a Síria teria de enfrentar as consequências “extremamente graves” se violasse tais condições. Grã-Bretanha e Estados Unidos disseram que iriam trabalhar na formulação de uma resolução rápida.
O Conselho inicialmente convocou uma reunião a portas fechadas a pedido da Rússia para discutir a sua proposta de colocar as armas químicas da Síria sob controle internacional, mas o encontro foi cancelado mais tarde, também a pedido dos russos. As autoridades francesas disseram que o seu projecto de resolução foi elaborado com o objectivo de garantir que a proposta russa tenha força, ao permitir uma acção militar se Assad não colaborar.
“Foi muito bem jogado pelos russos, mas não queríamos que mais alguém fosse à ONU com uma resolução fraca. (A resolução) está nos nossos termos, e os princípios estão estabelecidos. Coloca a Rússia numa situação em que não pode dar um passo atrás, depois de dar um passo à frente”, disse uma fonte diplomática francesa.
A Rússia, no entanto, deixou claro que quer assumir a liderança. O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse ao seu colega francês que Moscovo irá propor um projecto de declaração da ONU apoiando a sua iniciativa de colocar as armas químicas da Síria sob controle internacional, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado.