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Ser professor é ser moldador do aluno

Ser professor é ser moldador do aluno

O nível primário ou básico compara-se a uma chave de ignição de um carro: ou o aluno começa bem e avança, ou começa mal e não avança. Este nível de ensino é a fase de formação da criança. Daí que a responsabilidade recai, regra geral, sobre o professor.

São 10 horas. Estamos na Escola Primária Completa 19 de Outubro, algures no Município da Matola. Hélder Lucas é professor deste estabelecimento de ensino. Exerce a profissão de professor primário desde o ano 2000, uma carreira que, segundo ele, se afigura de “muita responsabilidade”, visto que “não é fácil trabalhar com crianças pois estas precisam de muita atenção e paciência”.

A situação torna-se mais difícil, uma vez que no país ainda persistem dificuldades no espectro do ensino: desde numerosos alunos numa sala de aulas e a precariedade das escolas, até à falta de salas de aulas, o que leva as crianças a estudarem debaixo das árvores e expostas à intempérie.

O professor Hélder lamenta o facto de, nos últimos tempos, “o professor ter perdido alguma consideração por parte da sociedade”, o que, segundo ele, não acontecia nos tempos remotos, por volta dos anos 70 e 80, em que se via aquela figura como um pai indispensável na educação e no futuro do aluno.

Passagem automática não pode ser uma mera soma de classes

Na opinião de Hélder Lucas, o novo currículo na vertente da passagem automática no ensino primário, é “boa, mas é preciso perceber que se o aluno não reunir as mínimas condições de progressão, este fica retido”, para depois acrescentar que os pais e/ou encarregados de educação devem aproximar-se das escolas ou professores para se inteirarem sobre novo currículo.

“Tem havido má interpretação. Os pais e/ou encarregados de educação estão convictos de que, pela passagem automática, os seus educandos vão progredir, esquecendo-se das consequências que podem advir numa classe com exame”, comenta.

Já para Moisés Pessoa, professor primário, ser professor significa “acima de tudo uma grandiosa responsabilidade” que se circunscreve no facto de estar a lidar com crianças em classes iniciais, sobretudo as da 1ª e 2ª classe. “As crianças, particularmente da 1ª classe, estão desprovidas do hábito de estar na escola e é por isso que fogem da sala de aula. Isto implica que nós, os professores, temos de estar sempre ao lado delas para melhor controlá-las”, ressalva.

Pessoa afirma que o professor primário deve incutir ao aluno a vontade de estudar, pois é nesta fase que se o aluno desperdiça os estudos, poderá ter dificuldades nos níveis subsequentes. “Muitos problemas com que vários estudantes se debatem no ensino secundário ou superior, como o fraco domínio da leitura e da escrita, é corolário do fracasso havido nas classes anteriores ou níveis iniciais do ensino, como o primário”, aponta.

Embora reconheça os crónicos problemas que o professorado enfrenta no país, desde as condições precárias de algumas escolas, bem como o mísero salário ou problemas de atraso no pagamento, Pessoa apela aos seus colegas de profissão a estarem cientes do próprio processo de ensino e da realidade do país, pois só assim se poderá sobremaneira ter melhores e futuros quadros no país, o que contribuirá para o almejado desenvolvimento de Moçambique.

Este professor lamenta o facto de alguns encarregados de educação se afastarem da responsabilidade que têm, de acompanhar os seus educandos. “Quando o aluno não sabe ler ou escrever, os pais apontam o dedo ao professor”, desabafa.

Pessoa diz ainda que “a verdade é que quando há problemas, há também os responsáveis. A culpa não pode morrer solteira”.

Para Vitória Luís Sacate, com 23 anos na profissão, ser professora do ensino primário significa “ser um moldador do Homem novo”, uma vez que este nível de ensino é tido como a base e ponto de partida da formação de um indivíduo. “Isto implica que o professor tem de ter uma preparação sólida e uma maior responsabilidade em lidar com os petizes”.

A professora Vitória diz que a forma como os pais e encarregados de educação olham para a passagem automática é “extremamente deplorável”. Segundo a professora, os encarregados de educação têm uma ideia errada em relação a este modelo de passagem e, como resultado, pouco ou quase nada fazem para melhorar o aproveitamento pedagógico dos seus educandos.

“Nós não devemos preocupar-nos com a mera soma de classes dos nossos educandos, mas com o que estes colheram durante o ano lectivo”, adverte.

A professora Vitória, à semelhança de outros professores entrevistados pela nossa reportagem, diz que “a política de passagem automática é boa, se bem entendida e interpretada”. Para tal, o Ministério da Educação deve ou pelo menos devia divulgar os traços preconizados no decreto sobre as passagens automáticas.

Na Escola Primaria Completa do Alto-Maé, na cidade de Maputo, os professores também têm a mesma visão. Para a professora Judite Boné, com 34 anos na profissão, ser professora do ensino primário é “um grande prazer”.

A professora Judite afirma que se o aluno tiver mau aproveitamento escolar no nível básico, isto irá reflectir-se nos níveis posteriores.

Quanto às passagens automáticas, a professora também afirma que há erros de concepção tanto por parte dos pais como dos alunos. “Nos exames grande parte dos alunos chumba por falta de domínio das matérias dadas durante a sua aprendizagem, uma vez que foram progredindo de uma classe à outra, mesmo sem bases para o efeito”, diz.

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Ir à escola sem comer

O Governo, através das estruturas da educação, introduziu a política de dois turnos para o ensino primário, o que pressupõe que o aluno fica mais tempo na escola do que em casa. Mas “há casos de crianças que saem de casa sem se terem alimentado por falta de condições e permanecem horas a fio na escola sem lanche”, advertem os professores que afirmam ainda ser esta uma das razões do fraco aproveitamento escolar.

Os professores dizem que esta medida é “infeliz”, uma vez que veda a possibilidade de outras crianças terem acesso à escola. “Muitas crianças ficam sem vagas. O segundo turno devia acolher essas crianças, para que elas tenham também o direito à Educação”, comentam.

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