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SELO: Pátria penhorada – Por Benedito Machipane

Suas Excelências Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, dignos dirigentes dos partidos Frelimo e Renamo, eu, Benedito Estêvão Machipane, cidadão moçambicano, estou angustiado com a guerra.

Excelências, agradecemos, eternamente, pela INDEPENDÊNCIA NACIONAL e pela DEMOCRACIA MULTIPARTIDÁRIA. Obrigado Frelimo e obrigado Renamo.

Percebemos a pertinência da guerra de libertação e pela democracia, pois, hoje, vivemos estas conquistas que, aliás, corremos o risco de perdê-las. Estas lutas derramaram sangue de heróis, na altura chefes de guerrilha, soldados e civis. Os milhares de litros de sangue que Moçambique já bebeu são muitas e, por isso, chega de revoluções armadas, chega de ausência de fraternidade.

Perguntem-se, Suas Excelências! Quem guerreia? Porquê guerreiam? Para quê guerreiam? Qual é o nome desta guerra?

Senhores Nyusi e Dhlakama, não sabemos porquê e para quê desta guerra, mas nós os moçambicanos e outros sabemos quem é que está a lutar: São as forças do Governo da Frelimo e do partido Renamo. Não é a sociedade moçambicana. Isto é, não é o povo, do qual vós fazeis parte, que está em conflito.

Vós arrastais o povo para o caos e a desgraça. Esta tensão não faz parte dos nossos interesses sociais, ou seja, não são as nossas diferenças etnico-religiosas e raciais que nos inquietam, porque em Moçambique temos uma congregação Católica ao lado duma Protestante, ou duma Mesquita, ou anda duma Envangélica, ou mais ainda duma Pentecostal ou Zione.

Uma criança muçulmana estuda numa creche cristã e vice-versa. As congregações religiosas quando entendem oram em conjunto pela PAZ, que os senhores nos tiram. Mesmo o ateu e o pagão comungam a paz e harmonia.

Aqui no país e em qualquer outro canto do mundo um curandeiro é vizinho dum médico e um machope é amigo de makonde. Um massena casa-se com um machangana, um hungwe vive com um mandau e um matswa vive com um nyanja.

Um bitonga une-se com um mashuabo e tudo com tudo mesmo… Um branco convive com um preto, um mestiço vive um com chinês e um preto, branco e indiano também juntam-se. Muçulmano casa-se com um cristão… Logo, não somos nós, o povo ou a sociedade quem luta. Nesta história nós ficamos de luto.

Nós os cidadãos comuns não temos armas e nem grupos armados. São as ideologias políticas que nos trazem este luto. Governem-nos do jeito que nós somos e queremos, e não do vosso jeito, nem de modelos importados, afinal, somos o vosso patrão.

Perguntem-nos o que é que nós queremos. Vejam quem nós somos e não façam coisas alheias a nós em nosso humilde e cobiçado nome, “MOÇAMBICANO”, sem no mínimo realizarem um referendo para captarem a nossa opinião de modo que não alinhemos todos numa asneiras.

Excelências, se nós os moçambicanos fôssemos como os outros povos, tais como os quenianos, ou mesmo os sul-africanos, cujas veias deixam correr o ânimo pela violência – e envolvem-se directamente em conflitos eleitorais ou questões políticas – se calhar teríamos um país dividido em facções armadas ou estaríamos totalmente “gangsterizados”.

O povo não tem cores partidárias e religiosas, nem raciais e étnicas, e tão-pouco nada a ver com as vossas intrigas. O povo só está angustiado com a vossa guerra que só vós mesmos sabeis porquê. Não nos arrastem para a miséria. Desarmem-se, senhores, porque o povo está desarmado e quer produzir para sair das “multicrises”. Deixem-nos produzir, senhores beligerantes.

Lembro-me de um dos ex-mediadores (não me vem à memória quem foi entre os doutores Couto e Rosário, ou o Dom Sengulane) terá dito que “a Frelimo sem o Estado é igual à Renamo sem as armas”. Será que isto é jogo de “Tom & Jerry”? Curiosamente, o senhor general Dhlakama é actor nas três guerras: a primeira na Frelimo e as outras duas na Renamo.

Conversem, porque nós o vosso patrão já dissemos CHEGA. Não matem os nossos irmãos, fazeis vós mesmos grandes duelos como nos tempos dos “cowboys” ou atirem os socos e sapatos na Assembleia da República como fazem os ucranianos. Ou citando o “Gungu”, vão ao estádio da Machava num ring para vermos as vossas reais capacidades musculares. Mas aconselho, usem os CÉREBROS porque é conveniente, barato e pacífico, e aí nós vamos aplaudir Vossas Excelências com excelência!

Organizemo-nos e não depenemos Moçambique e os moçambicanos!

Por Benedito Machipane

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