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SELO: Desconfiança e ressentimentos corroem os liames duma boa convivência entre os homens – Por Rabim Chiria

Eu nasci e cresci num ambiente em que se falava da confiança e da desconfiança como um valor, pese embora sejam dois conceitos antagónicos e com significados diferentes. E, ao longo do meu percurso académico, entrei em contacto com alguns textos filosóficos, sobretudo, os escritos de Edgar Morin, que retratam a complexidade da vida do Homem. A leitura deste autor fez-me perceber que a confiança e a desconfiança são ambos valores, não obstante sejam valores complexos. Neste caso, uma confiança e desconfiança demasiada colocariam em risco a boa convivência entre os homens.

E diferentemente da desconfiança temos o ressentimento. O ressentimento revela, definitivamente, uma moral negativa para a sociedade. O ressentimento é uma constelação de afectos, que envolve a mágoa, a raiva, a inveja e o desejo de vingança (Kehl). Porém, quando o ressentimento estabelece uma relação de intercessão com a desconfiança, a convivência civilizada dos homens fica corroída e, por seu turno, a desconfiança assume eternamente uma conotação negativa, fazendo emergir, deste modo, um “ressentido desconfiado”.

O ressentido desconfiado não esquece a mágoa do passado, sempre queixa-se do passando em nome de um ganho que pretende alcançar no presente. A missão do “ressentido desconfiado” é acusar o outro, como o promotor da má convivência, eximindo-se da sua responsabilidade. Aliás, o “ressentido desconfiado” atribui ao outro a responsabilidade do sofrimento colectivo. O filósofo Scheler chama isso de auto envenenamento psicológico. O ressentido desconfiado é um assassino que não se conhece como tal. Num ambiente da ignorância, ele encarrega a culpa ao outro. Ao em vez de reconhecer o seu erro e reconciliar com o outro, ele faz o contrário: reaviva a sua incapacidade para reagir duma forma impotente ao agravo cometido pelo segundo.

O afecto da desconfiança e ressentimento que faz emergir o ressentido desconfiado é a principal característica da sociedade moçambicana, que acolhe grupos políticos com promessas de inclusão e bem-estar de todos cidadão, mas isso não se materializa. A liberdade dos indivíduos e o respeito pelos direitos humanos são oficialmente reconhecidos em Moçambique, mas não são alcançados na prática. Porém, a sua falta deve ser encarada como uma privação dos cidadãos. E mais do que isso, a dignidade que o povo moçambicano tem, não pode ser vista como uma conquista do libertador, mas, sim, como um dom divino. Não há nenhuma interferência directa do libertador na dignidade dos moçambicanos. A desconfiança e o ressentimento são a principal causa do impasse gerado entre forças políticas na solução dos problemas que originam o descontentamento social. E, em Moçambique, o ressentimento e a desconfiança, está a oscilar entre as acções activas do maior partido da oposição (Renamo) e, entre as retaliações reactivas, ressentidas do Governo da Flelimo, que por sua vez, não resultam nenhum efeito, para além de criar revoltas e descontentamento no seio dos moçambicanos.

E outra coisa, quando o derrotado deixa de se identificar como derrotado em uma competição, e passa a identificar-se como vítima ou vencedor, também se torna ressentido, e havendo uma associação de ressentimentos entre as duas forças antagónicas, a desordem social é inevitável. Mais uma vez, “a desconfiança e o ressentimento corroem os liames duma boa convivência entre os homens”.

O ressentido não se rende, ele fica acusando a força antagónica, até o último suspiro dos inocentes. A sua reivindicação é incompreensível, não luta para construir, mas, sim, para destruir e, não só, queixa-se insistentemente, acusa o outro insistentemente, com a intenção de se colocar no lugar de inocente. Esta é uma atitude que ilustra incapacidade de auto-crítica e a ausência de reconhecimento nas derrotas sofridas.

Em Moçambique a coisa que gera ressentimento é a promessa não cumprida. Quando falo da promessa não cumprida, refiro-me da igualdade, a política de inclusão e, a equidade na atribuição dos direitos e benesses. A minha proposta que tenho é seguinte: “tem que se gerar uma confiança no seio dos moçambicanos, mormente os principais grupos políticos, demo que, as suas promessas se cumpram por si só, ao invés de se guerrear por isso”.

O progresso numa sociedade não se faz guerreando, mas sim pelo fortalecimento dos lanços horizontais dos cidadão e dos principais grupos políticos (porque são irmãos do mesmo sangue), então, não há razão para o confronto. Em Moçambique é imperioso que se retome o verdadeiro sentido da convivência civilizada e, o verdadeiro sentido da acção política para modificar as condições estruturais da sociedade moçambicana.

Tenho dito muito obrigado,

Por Rabim Chiria

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