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Remar contra as drogas

Remar contra as drogas

Às vezes, é uma questão de decisão. Noutras, a família tem de intervir. Toxicodependentes irredutíveis transformamse totalmente, num sinal demasiado visível de que “há sempre uma luz no fim do túnel”. Este desejo de desandar o caminho para à toxicodependência está a ser posto em prática, há 13 anos, na ONG Reabilitação de Marginalizados(REMAR). Contudo, a luta não é fácil e até hoje foram reabilitadas pouco mais de 100 pessoas…

O consumo da droga e do álcool tem levado muitas pessoas à desgraça, loucura e, nalguns casos, à morte. Tudo começa de uma pequena brincadeira ou de uma simples curiosidade: as pessoas buscam a felicidade ou a coragem nas drogas e no álcool, outros querem sentir a sensação de estar sob efeito da droga.

Quando dão por si, já estão viciados e custa-lhes aceitar que aquela brincadeira ou curiosidade transformou-se num vício. A solução que lhes resta é perpetuar o vício até onde ele permitir porque, acreditam, não existe cura para a toxicodependência. Este facto deve-se à falta de conhecimento da existência de centros de reabilitação para este grupo.

Aliás, para eles – e até familiares -, pensar numa possível reabilitação e retorno ao convívio social é quase um mito pois quem está no mundo das drogas (i)lícitas passa a ser visto como uma má influência ou como um inimigo da sociedade, devido ao seu comportamento.

Foi a pensar neste grupo que a organização não governamental REMAR criou, em 1998, o centro de reabilitação de toxicodependentes, localizado numa área verde algures no bairro Costa do Sol, na cidade de Maputo. Existem também centros nas cidades de Xai-Xai e Beira.

Estes centros acolhem, actualmente, mais de 100 – entre adolescentes e adultos- toxicodependentes que estão à busca de uma recuperação, algo nada fácil. A associação recebe, em média, duas pessoas por dia e está aberta a qualquer hora do dia, quer seja de dia, quer seja de noite.

Muitos dirigem-se aos centros por vontade e iniciativa próprias, mas há casos de toxicodependentes que são levados pelas suas famílias. A recuperação só é possível se a pessoa tiver força de vontade, é uma busca contínua! O tratamento não tem um tempo determinado – depende dos progressos que a pessoa registar – e não envolve medicamentos. Aliás, não é permitido o uso de qualquer tipo de medicamento, a menos que este tenha sido recomendado por um médico. A base do tratamento é a terapia ocupacional.

Há desistências e fugas durante o tratamento

No centro da Costa do Sol estão 47 toxicodependentes em reabilitação. São, na sua maioria, viciados em álcool e drogas. Os primeiros dias no centro não são fáceis, primeiro, pelo isolamento a que estes são submetidos e, segundo, pela “luta que têm de travar” com a vontade e a ansiedade de consumir a droga e/ou o álcool, motivo que os levou ao centro.

Quando chegam ao centro, – por vezes numa fase avançada da toxicodependência – eles são colocados numa sala denominada “sala de ressacados”, onde, durante uma semana, têm de aprender a viver sem a droga.

Segundo o responsável do centro, Pedro Nelson, “alguns chegam a gritar e tornam-se violentos devido à falta da droga (há pessoas que não conseguem ficar uma hora sem fumar um cigarro ou consumir álcool ou droga), o que os faz desistir do tratamento ou fugir do centro – pulando o muro – sem dar nenhuma satisfação. Não é fácil deixar de consumir drogas”.

Fases do tratamento

A reabilitação tem, ao todo, três fases. A primeira (desintoxicação e recuperação) consiste na desabituação física e psíquica das drogas ou do álcool, conforme for o caso, e no reconhecimento do problema. Ainda nesta fase, são desenvolvidas actividades ocupacionais tais como agricultura e pecuária. Na segunda fase (reabilitação) são tratados e discutidos os problemas que levaram o indivíduo à toxicodependência e são desenvolvidas actividades segundo a profissão e talento de cada um.

Já na terceira fase (reinserção), aos indivíduos são dadas responsabilidades sobre as outras pessoas (recém-chegados ao centro), dando margens de confiança, o que lhes ajuda a recuperar a sua auto-estima. São também envolvidos em actividades compatíveis com a sua profissão/aptidão dentro da própria organização.

Nem sempre a reabilitação é bem sucedida

Para além de casos de desistências e/ou de fugas, o centro tem registado casos de “pacientes” que, depois de terminarem o tratamento, têm necessidade de retornar ao centro porque tiveram uma recaída alegadamente porque “não resistiram à tentação”, outros porque trocaram a droga pelo álcool.

Viver do que eles produzem

A base de alimentação dos pacientes provém da produção da horta localizada no interior do centro. Ali, é feita a produção de tomate, alface, couve, beterraba, cebola, feijão, banana, papaia e espinafre, fruto do esforço dos pacientes. Estão em construção capoeiras e currais para a criação de animais tais como patos, frangos, coelhos e porcos.

Toda a produção é destinada ao consumo interno pois só assim é que o centro consegue garantir as quatro refeições diárias que os pacientes têm, nomeadamente o mata-bicho, almoço, lanche e jantar.

O centro conta igualmente com o apoio de várias organizações e de pessoas particulares que, regularmente, oferecem produtos alimentares, ajudando-lhes, deste modo, a ultrapassar a principal dificuldade com se debatem: a alimentação.

A recreação como parte da reabilitação

Para além da terapia ocupacional, o centro tem a recreação como parte da reabilitação. Assim, as tardes de sexta- -feira, sábado e domingo – depois do culto – estão reservadas para a prática do desporto (futebol e basquetebol). Os pacientes podem optar por assistir à televisão, instalada numa das salas do centro.

Dificuldades

A principal dificuldade com que o centro se debate está ligado à alimentação. “Há produtos que o centro não pode produzir na sua horta, tais como óleo, arroz, açúcar, dentre outros”, disse o responsável.

Outro problema tem a ver com a falta de colchões e redes mosquiteiras. “Estamos na época do verão e algumas camas não têm redes mosquiteiras. Temos tido casos de malária no centro, embora sejam casos isolados”, conta.

Neste momento o centro “sobrevive” graças aos donativos de ajuda humanitária enviados por empresas europeias. Estas doações são constituídas por máquinas de costura, carpintaria, serralharia e de panificação, vestuário, calçado, tecidos e produtos alimentares que garantem a satisfação das necessidades primárias de todos que se encontram nos centros da Remar a receber ajuda.

Com estes donativos, a Remar criou pequenas empresas como forma de gerar receitas para o seu funcionamento. Um dos exemplos dessas empresas são as Lojas Remar, onde são vendidos alguns artigos novos e usados tais como livros, móveis, roupa e calçado. Os fundos provenientes destas empresas revertem a favor dos centros.

Internamente, a associação conta com o apoio de empresas tais como o Casino Polana, Escola Americana, Delta Trading, Brithol Michcoma, embaixadas, empresas e de outras organizações.

O que é a Remar?

A Remar (Reabilitação de Marginalizados) é uma organização não governamental que surgiu em 1982, na Espanha. A mesma dedica-se a trabalhos de cariz social. As suas actividades estão ligadas à assistência social a crianças órfãs, abandonadas, mães solteiras, toxicodependentes, doentes de HIV/Sida, viúvas e idosos, acolhendo-os gratuitamente e ajudando-os na sua reabilitação física e psíquica.

A Associação Remar encontra-se em Moçambique desde o ano de 1998 e conta com 13 casas de acolhimento (Maputo, Beira e Xai-Xai) para toxicodependentes, homens, mulheres e crianças.

Além dos adultos com vícios de droga e álcool que procuram a associação para ajuda, a Remar dedica-se particularmente à ajuda de crianças no que diz respeito à saúde, vestuário, alimentação, educação e formação.

Para todo o trabalho, a Remar conta com a ajuda de voluntários que, na sua maioria, foram ajudados a sair de situações precárias e que depois decidiram servir o centro.

Requisitos para ser admitido ao centro

1. O centro é gratuito mas a família, dentro das suas possibilidades, deve assumir as despesas inerentes à assistência médica, higiene pessoal e vestuário do paciente;

2. Efectua-se o registo completo tanto da pessoa assim como dos seus pertences no momento da sua admissão;

3. Para os menores de idade, estes deverão ser portadores de um termo de responsabilidade da família ou do seu tutor;

4. Não é permitido o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros;

5. Não é permitido o uso de nenhuma droga nem medicamento, e estes só com prescrição médica;

6. Durante a reabilitação, os pacientes não poderão ter dinheiro em sua posse;

7. Os pacientes devem assistir a todas as actividades e cumprir com o horário previsto para as mesmas (reuniões, refeições, trabalhos, tempos livres, etc.);

8. Deverá aceitar, em todo o momento, o acompanhamento de uma outra pessoa que fará o papel de monitor;

9. Não se admitem visitas de familiares ao centro e chamadas telefónicas durante os primeiros dois meses e 15 dias, respectivamente;

10. Assistir televisão só é permitido aos fins-de-semana e só com a autorização do responsável do centro.

Para mais informações contacte 846414767 ou 843673916.

Pedro António Nelson, 47 anos

É natural da cidade da Beira, Sofala. Fez o curso de Puericultura no Instituto de Ciências de Saúde, em Maputo, e trabalhou como educador de crianças. Foi quadro sénior do Ministério da Mulher e Acção Social, onde foi responsável pela Direcção Distrital da Acção Social de Gorongosa, na província de Sofala.

Está na Remar há mais de oito anos e chegou ao centro da Beira porque era viciado em álcool. “Durante a guerra civil eu passava a vida a beber porque não havia nada para fazer, senão fugir das balas. Bebia de tudo, não escolhia. Para conseguir comprar bebida eu passei a vender os meus bens, roupa, aparelhagem e outras coisas das quais me quero esquecer”, conta.

Devido ao seu comportamento e ao estado em que se apresentava ao seu posto de trabalho, foi afastado do cargo que ocupava – o de director distrital da Acção Social de Gorongosa. “Faltava ao trabalho, por vezes ia embriagado e disseram-me que já não podia mais ir trabalhar. Posso dizer que ainda sou funcionário do Estado porque não me passaram nenhum documento que diz o contrário, a minha desvinculação foi verbal”, revela.

Tal como os outros, os seus primeiros dias no centro não foram fáceis, “não conseguia dormir, por vezes sentia necessidade de fugir mas a minha vontade de deixar a vida que levava foi mais forte. Contei também com a ajuda dos responsáveis do centro”.

A bebida não só lhe tirou o emprego,mas tirou-lhe também a família, algo com que todo o ser humano sonha. “Separei- me da minha esposa por causa da bebida. Tenho dois filhos e eles sabem que estou num centro de reabilitação. Penso em voltar à minha terra, ao convívio dos meus filhos e familiares e à vida normal”, concluiu.

Hoje, Pedro é responsável do centro e serve de exemplo de superação para quem chega àquele local na esperança de um dia estar livre das drogas.

Daniel José*, 30 anos

Está no mundo das drogas há mais de 10 anos e chegou à Remar há dois meses. Conta que tudo começou de uma simples brincadeira, “consumíamos drogas tidas como leves – soruma/ cannabis sativa, – porque queríamos estimulantes para ir à discoteca, ganhar coragem para fazer certas coisas que não conseguíamos fazer lúcidos”, e, com o andar do tempo começou a tomar comprimidos (calmantes) misturados com gases.

“Chegou uma altura em que já não fazia efeito. Abandonei a escola na 10ª classe, em 2001, e fiz o curso de hotelaria, o que me obrigou a trabalhar de noite nos bares, discotecas e festas. Era habilidoso, servia de intérprete, guia e tinha contactos com prostitutas. Devido aos meus contactos, eu servia de ponte entre os vendedores da droga e os consumidores”.

A natureza do seu trabalho e os contactos que tinha com os fornecedores da droga levaram- no a consumir cocaína por diversão e, com o andar do tempo, já não sentia nada, como sempre. Começou a fumar pedras ou crack, uma mistura de cocaína com bicarbonato ou amoníaco. Foi o princípio da perdição.

“Saía do serviço com dinheiro – muito, diga-se – e ia directamente às “fontes”. É um mundo estranho, tu entras com dinheiro e sais sem nada. Penhorava documentos, telefones. A droga provoca uma ansiedade e vontade de querer mais, tira o sono, o apetite, tira tudo. Cheguei a perder alguns sentidos (paladar e o olfacto) por causa da droga. Aldrabei muita gente, endividei-me até ao pescoço”, diz.

A história estava só a começar. Depois das pedras, começou a beber e a fumar heroína pois, segundo conta, esta ajuda a atenuar a ansiedade de fumar a cocaína. Passou a trabalhar para a droga, convertia os seus bens em droga.

“Comecei a ser hostil, afastei-me da família. Tentei ir à igreja mas não conseguia largar o vício. Ficava retido por causa das dívidas que contraía com os fornecedores da droga. Aliás, estes já chegaram ao ponto de me ameaçar de morte e foram à minha casa penhorar alguns bens para podre cobrir as minhas dívidas”. Nessa altura contava com o apoio da mãe e da namorada.

A gota de água foi quando passou a retirar bens da casa da mãe, tais como jóias, o que o levou a tentar pôr termo à própria vida por duas vezes, “tomei muitos comprimidos e cortei-me o peito, as mãos, mas fui socorrido. A segunda foi um enforcamento”. As dívidas foram tantas que já nem conseguia pagar a renda da casa na qual vivia, o que o levou a “pedir” acolhimento à sua mãe.

Por ver que a vida que levava não lhe levaria a lado nenhum, Daniel decidiu ir buscar ajuda à Remar. “Vim por iniciativa própria, já não tinha auto-estima, orgulho e, pior, já não tinha vontade de viver. Num belo dia, levei a minha almofada, dois lençóis e algumas peças de roupa. Já no centro, chamei a minha família para lhe pôr a par da decisão que eu tinha tomado. Eles ficaram felizes porque não tinha sido forçado”.

“Os primeiros dias foram difíceis, o centro não é um hotel tal como eu pensava. Usava termos inadequados, era violento. Hoje posso dar graças a Deus porque estou a conseguir livrar-me do vício”, revela.

Hoje, depois de ter perdido (bons) empregos e boas amizades, o seu maior desejo é recuperar a confiança de três pessoas: o pai, a mãe e a namorada.

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8 respostas

  1. E estou a passar por um dilema , tenho um sobrinho já era orfão de pai dsd 2012 e em fev 2021 perdeu a mãe. Aluno do segundo ano de engenharia informática na unirovuma. Envolveuse c drogas desistiu d estudar dsd julho/22.
    Acolhi o na minha casa onde descobri a mudança de comportamento, durante o dia não sai d quarto, não ker tomar banho, agressivo, quer sempre dinheiro. Desaparecem m bens em casa, batedeira carregar de cel , flash,capulanas , telefones celulares, rodas d carro, macaco. E virou mentiroso. Tou/vivo em npl, sou viúva . Ele tem 21anos. Peço ajuda para internar no centro de reabilitação da remar em Maputo como faço. Posso viajar p mpt com ele.me oriente por favor.

  2. Boa tarde ,o meu filho e toxidependente
    gostaria que pudesse estar neste centro de reabilitacao porque estamos a passar mal pela situacao que se encontra ,nao se alimenta como deve ser,perde sono,nao aceita ir a escola e muito triste,
    Peco o vosso apoio por favor
    Ele tem 21 anos

  3. Boa Tarde Cristina !
    Ligue Para O Seguinte Contacto : 848212110.
    Contacto Do Responsavel Das Admissoes Ao Centro De Reabilitacao Da Remar !
    Paulo Ferrao

  4. tenho um sobrinho que precisa de reabilitação e gostaria de saber o que eu faco para levalo la quais sao os requisitos necessario?

  5. Bom dia aos Agentes da REMAR, Cidade de Maputo, eu sou Pai de um jovem de quase 25 anos, com 12a classe feita do ESG e com curso de Inglês bem concluído, onde fala e escreve, pois até trabalhou numa da Lojas de Revenda de material eléctrico de iluminação pertencente a uma Branca Sul Africana, que gosta muito do meu filho, mas devido aos abandonos sistemáticos no tempo de vigência de serviços na Baixa da Cidade de Maputo, teve que o dispensar e nos aconselhou a reabilitar este jovem de nome João Tomás Vilanculos, que se envolveu a droga denominada “Pitjo, que nem sei se estou pronunciando bem, cuja fonte é o Bairro de Mafalala.Nestes últimos dias ele tem nos roubado algumas coisas dentro de casa para vender e pagar o consumo dessa droga tão cara e maligna e toxicodependente.De Outubro a Novembro de 2022 lhe tirei em duas Celas, uma na Cidade de Maputo em KaMubukwana e outra em Tchumene na Cidade da Matola devido a roubos de bens alheios mal sucedidos. Assim, eu gostaria de recuperar o meu filho dessas drogas e se tornar homem no qual tenho meus olhos fixos nele pois é único homem herdeiro da minha casa e restantes são meninas que tenho com irmães dele, uma mais velha e outra e a mais nova dele. Ele já saí de casa e leva dias sem que conheçamos seu paradeiro.Peço ajuda, sou Pai dele, cujo meu nome sou Tomás João Vilanculos, residente do Bairro Zimpeto, DM-KaMubukwana, Cidade de Maputo, meus contactos: 842908844 / 825146267

  6. Bom dia agente da REMAR. Tenho um filho de 17 anos de idade que se droga desde 2021 e já é dependente de drogas. Desaparece bens como roupa dele e da família em geral, discos, flash, loiça, galinhas e tudo que achar para alimentar o vício que tem. Em fevereiro deste ano, lhe coloquei no internato das irmãs em gorongosa, foi girado por causa do uso das drogas, já não vai a escola, não dorme, e confusão todos os dias. Peço vossa ajuda para internar no vosso centro na Beira. Meu contato: 849198266/865713472 e 822214040

  7. Boa noite
    Tenho um irmão toxicodependente a mais de 10 anos, ele não se alimenta direito, perde sono e está a dar trabalho a minha mãe. Neste momento em que eu escrevo ele está sendo levado para o hospital central de ambulância em um Estado grave. Gostaria de saber quais os requisitos para o internar para que seja reabilitado. Estou na Beira. Meu contacto 864282655/ 853152575

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