Saindo da sombra do seu lendário irmão, o presidente cubano, Raúl Castro, conquistou um triunfo diplomático e um aumento na aprovação popular com o acordo que põe fim a décadas de hostilidade aberta com os Estados Unidos. Para muitos cubanos, a restauração das relações diplomáticas e a promessa do presidente dos EUA, Barack Obama, de anular as sanções económicas contra a ilha comunista despertaram a esperança de um futuro mais próspero.
Tão importante quanto isso, em troca de um prisioneiro norte-americano e dezenas de cubanos pouco conhecidos, Raúl obteve a libertação de três espiões cubanos amplamente saudados em casa como heróis que ficaram presos injustamente nos EUA durante 16 anos.
O pacto com Obama nesta semana desencadeou manifestações de apoio na capital Havana. Cada vez mais manifestantes entoam “Viva Raúl!”, uma mudança significativa em um país dominado há tempos pelo vulto de seu irmão mais velho, Fidel Castro.
Enquanto isso, não se vê nem ouve falar de Fidel, recolhido em sua vila de Havana desde que se aposentou.
Raúl, de 83 anos, assumiu como presidente em 2008, dois anos depois de Fidel se afastar com problemas intestinais, e embora tenha promovido uma série de reformas económicas favoráveis ao mercado, até agora vinha sendo um líder discreto, a quem claramente faltava o carisma de Fidel. Mas agora mais cubanos valorizam seu estilo de liderança.
“Raúl Castro está fazendo coisas que Cuba precisa. Muitas pessoas não acreditavam nele, mas seu trabalho está à vista. Ele está a mudar o país sutilmente, sem discursos, e sem se gabar disso”, disse José Fernández, professor de matemática de 55 anos.
Como Fidel está aposentado e raramente é visto, qualquer aumento na popularidade de Raúl ajuda a legitimar o governo comunista enquanto os cubanos se adaptam às suas reformas econômicas e, a partir de agora, ao novo relacionamento com os Estados Unidos.
Raúl mostrou-se mais constante, organizado e empreendedor que seu intempestivo irmão mais velho. Muitos cubanos presumem que Raúl consulta Fidel para tomar grandes decisões, mas ninguém sabe o papel exato do líder da revolução cubana.
A imagem dos espiões libertados voltando para casa e abraçando Raúl e dos seus familiares no aeroporto dominaram a mídia estatal.
“A sua popularidade cresceu desde aquele momento”, afirmou Carlos Alzugaray, diplomata cubano aposentado. “Ele foi pragmático, dando a Obama o espaço que precisava para fazer isto acontecer, deixando que Obama aparecesse de maneira favorável. Ele foi muito esperto nisso”.