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Quem prefere a guerra no lugar do amor?

Quem prefere a guerra no lugar do amor?

Depois de alguma ausência na sua terra natal, quando esteve na Noruega, a realizar a sua nova formação académica, o actor, dramaturgo, docente e músico moçambicano, Dadivo José, não ignorou as vicissitudes – sobretudo a tensão político-militar – que se operaram no seu país. Por essa razão, no seu retorno ao cenário artístico local, chega com uma proposta informal, típica de da época em que, aos seres humanos, nada mais interessava senão o usufruto da vida: “Vamos fazer amor”.

Aos moçambicanos que se encontram na diáspora, diariamente, chegam informações lamentáveis de acordo com as quais os seus compatriotas estão a experimentar um tipo de crise que, não se harmonizando com o estágio actual do desenvolvimento da nação, também não tem nenhum fundamento. Por exemplo, o transporte dos cidadãos, na cidade capital, faz-se em condições desumanas. É penoso saber que basta haver uma chuva miúda para – na urbe de todos nós – as estradas ficarem alagadas, denunciando o velho e crónico problema da disfunção do sistema de saneamento do meio.

A par destas peripécias, também chegaram aos nossos concidadãos, os que vivem lá, no velho continente, nas Américas ou mesmo na Ásia, que, de igual modo, se implantaram actos de criminalidade sem precedentes: a onda de raptos e dos “engomadores” – aqueles que torturam e abusam sexualmente das suas vítimas, fazendo o saque dos seus bens materiais que, ao longo de vários anos, conquistaram com muito esforço, sem poder defender-se dos malfeitos. Esses são, certamente, alguns exemplos de actos hediondos que a nossa memória se esforça por apagar.

Tudo isto, como é óbvio, não deixa nenhum moçambicano de “gema” ou de qualquer outra estirpe, aqui, ou a viver na diáspora, em paz. Por isso, a par de muitos outros, durante a sua estada na Europa, Dadivo José – não os podendo ignorar – acabou por ser “abalado” por esta realidade. Não é obra do acaso que, na sua primeira aparição aos palcos nacionais, o músico propõe um concerto para “abafar” este clima de desamor: é que, na verdade, “o país precisa de amor”, diz. É, portanto, com o referido propósito – colocar, ainda que de forma metafórica, “o país a fazer amor” – que amanhã, 8 de Março, a partir das 22 horas, no palco do Café e Bar Gil Vicente, em Maputo, Dadivo José realiza o concerto intitulado “Vamos fazer amor”.

Trata-se de um espectáculo cuja realização – além da pertinência que possui – não é movida por um motivo leviano: “As pessoas precisam de purificar os corações de modo que possam ter uma maior tolerância umas em relação às outras, do que a que se tem manifestado”, afirma o actor ao mesmo tempo que acrescenta o seguinte: “Realizo este concerto propondo à sociedade moçambicana a necessidade de fazer amor. Nós precisamos de descobrir a essência dessa palavra. Se nos amarmos uns aos outros, seguramente, teremos o cuidado de não fazer nada que magoe o outro”.

A tensão político-militar que se vive no país é, certamente, a grande razão que moveu Dadivo José a escolher o conceito “Vamos fazer amor” para a sua actuação artística. Mas, será que tal ideia-chave é a única nesse contexto? Ou seja, será que só depois de se estar num contexto de conflito é que se deve fazer amor? Será que, para nós, os moçambicanos, o amor, em si próprio, não é suficiente para nos mover a perpetu¬á-lo?

Há muitas questões que se podem levantar sobre esta temática. Dadivo José acredita que um indivíduo que esteja bem, ou que esteja em paz de espírito, está em condições de tolerar todas as adversidades que existem. Ou, no mínimo, ela tem um pouco de humildade para poder ouvir, a fim de perceber a preocupação de outrem. Além do mais, e por todas estas razões, “as minhas mensagens tendem muito para o amor”.

Trata-se, por outro lado, de um concerto que algumas pessoas, que acompanham a carreira do artista, aguardam com grande ansiedade a exposição de composições como, por exemplo, Murandziwa, Ntombi, Morri incluindo Combati Um Bom Combate, que também é o título de uma peça teatral gótica dos nosso tempos, no entanto, tudo feito em nome do amor. De todos os modos, a sua experiência acumulada mostra-nos, igualmente, que uma homenagem a um e outro músico moçambicano no seio daqueles cujas obras moldaram o sentido musical de Dadivo José – na infância – não faltará. “O que pretendo fazer é uma espécie de tributo àqueles músicos moçambicanos que sempre me inspiraram quando eu era miúdo”.

Para um artista de palco, com uma acentuada capacidade de improviso e um domínio singular sobre o público, perguntas relacionadas com a sua preparação – depois de algum tempo de ausência nos palcos – para a actuação, são, à partida, meio exageradas. De qualquer modo, apesar de possuir uma carreira teatral de mais de 20 anos, tempo durante o qual também apreciou e compôs obras musicais, Dadivo José responde-as da seguinte maneira: “Se eu não estiver preparado, então, preciso de descobrir isso.

E a única forma de fazê-lo é enfrentando o ‘tribunal’ do Café e Bar Gil Vicente, na presença de um jurado que é um público exigente em relação à necessidade de ouvir boa música. Certamente e com toda a humildade, estaremos preparados e abertos para ouvir as críticas que se nos serão direccionadas, em relação ao ‘show’. Além do mais, só falha quem faz alguma coisa”.

Dadivo José é um artista multifacetado – é actor, músico, docente universitário e consultor – o que enriquece as suas actuações, tornando- as uma espécie de um “workshop”. Olhando para as várias facetas que o compõem, bem como a relevância de cada uma, é natural que se indague que discurso essas entidades – unidas ou associadas – podem (ou estão a) produzir para a consciencialização da sociedade em relação à relevância do papel das artes no desenvolvimento de uma nação.

“Prefiro que, no espectáculo, a gente faça amor através da música. É muito melhor – por vezes – deixar a música discursar por si própria. Como se diz na gíria brasileira, não consigo fechar a ‘matraca’, mas vou tentar ficar calado a fim de me concentrar, unicamente, no acto de tocar e cantar produzindo o que as pessoas esperam ver e ouvir. Esta posição não prejudica, obviamente, aqueles intervalos em que o artista deve dizer uma e outra palavra”.

Além do mais, Dadivo José explica que – no seu reportório musical – há certas obras cuja melhor percepção, por parte do público, carece de alguma explicação. “As minhas músicas são geradas (ou retiradas) a partir de um contexto teatral, o que, algumas vezes, provoca uma confusão até para as pessoas que tocam comigo. Portanto, é preciso esclarecer que essa composição surge de uma situação dramática que, por essa razão, segue um curso diferente das outras formas de música”.

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