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EDITORIAL: Quelimane, zona libertada da Frelimo

1. Não foi Lourenço Abubacar que perdeu. Foi todo o partido Frelimo, a sua poderosíssima máquina logística e os rostos mais salientes da sua estrutura dirigente que quase fixaram residência em Quelimane.

2. Não foi apenas uma vitória de Manuel de Araújo ou do povo de Quelimane. Toda a juventude nacional esclarecida e que não se revê na Frelimo, a classe intelectual apartidária e as massas das zonas urbanas pobres de todo o país apoiavam moralmente a sua candidatura e ansiavam com fé a sua vitória.

Com efeito, a eleição de Manuel de Araújo constituía um imperativo nacional para contrabalançar a prepotência, a insensibilidade e indiferença de um sistema que tende, nos últimos tempos, a olhar mais para o seu umbigo e a distanciar-se cada vez mais do povo.

3. A vitória de Manuel de Araújo nestas Eleições Intercalares estimula a emergência de mais jovens “aventureiros” que possam contrapor a imponência plástica de uma juventude subserviente ao sistema, alheias às aspirações do grosso da camada juvenil geral e repugnantemente virada para a prossecução de interesses egocentristas e clubistas.

4. Nunca se viu o povo de verdade, maioritariamente composto por jovens entre os 18 e os 30 anos, a celebrar efusivamente a vitória de um candidato da Oposição que, até há um par de meses atrás, era um indivíduo praticamente “desconhecido” na cidade de Quelimane.

5. O povo de Quelimane votou contra a mentira que já perdurava há mais de 12 anos. Aquele povo mostrou unidade e não se deixou impressionar pela “brigada de elite” vinda especialmente de Maputo para ajudar a perpetuar a marginalização eternizada dos bairros periféricos e a deterioração infraestrutural crescente da cidade de cimento.

Manteve-se vigilante e esteve nas ruas até ao último momento para assegurar que o sistema não lhes roubasse as únicas armas que lhes restavam: o voto e a dignidade.

6. Mensagem para os governantes: o povo mudou. É hoje composto maioritariamente por uma juventude que está cada vez mais esclarecida da sua condição marginalizada (muitos não têm como prosseguir os seus estudos ou a possibilidade de arranjar um emprego formal, vivem em bairros degradados e mal se alimentam), não têm nenhuma relação umbilical ou ideológica à Frelimo e têm estado a aprender pela televisão, nestes últimos tempos, como é que se faz uma revolução.

Dito de outra forma, Quelimane foi um golpe certeiro nos testículos da arrogância de um sistema excludente, distanciado do povo e que gravita em torno de si mesmo. Abriu-se uma luz no fundo do túnel da esperança, e a libertação presente dos libertadores do passado pode ser um facto à médio prazo, se a lição de Quelimane for devidamente aprendida e apreendida por outras regiões geográfi cas deste país.

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