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Qualidade de educação: principal desafio do país

O Ministro moçambicano da Educação e Cultura, Aires Aly, disse na quarta-feira, em Maputo, que embora prevaleçam problemas de acesso à escola, o grande desafio do momento, à escala nacional, tem a ver com a qualidade da educação.

Falando na abertura do Seminário Nacional sobre Leitura e Escrita, iniciado na quarta-feira em Maputo sob o lema “Saber ler e escrever para aprender mais”, Aly reconheceu que em Moçambique ainda existem problemas (sérios) da qualidade de ensino e desempenho dos alunos. “Todos nós temos a consciência de que a luta contra a pobreza absoluta exige da educação, esforços adicionais porquanto qualidade do ensino é inadiável, é urgente e determinante para este combate e para o espaço que queremos ocupar no processo de integração regional”, disse o governante.

Segundo recordou o Ministro, o programa quinquenal do Governo (2005/ 2009) tem a educação como uma das suas prioridades e os seus principais desafios são a expansão do acesso à escola, melhoria da qualidade da educação e reforço e melhoria da capacidade institucional. “No âmbito do primeiro desafio, alcançou-se progressos significativos, ainda que as escolas não sejam ainda suficientes para todas as crianças em idade escolar. Contudo, o Governo está preocupado com a melhoria da qualidade do ensino com vista a cumprir com o segundo objectivo do programa”, disse.

Todos os intervenientes neste seminário de três dias foram unânimes em apontar diversas formas de manifestação da precária qualidade dos alunos do país, particularmente os do ensino primário. Na sua apresentação sobre o tema “Leitura e Literacia: uma questão de cidadania”, o académico Lourenço do Rosário, reitor da Universidade A Politécnica, considerou haver um conceito simplista de literacia em Moçambique. Ele disse, por exemplo, que saber ler não significa apenas conseguir decifrar as letras, mas compreender a mensagem e retê-la por muito tempo.

Segundo ele, quando as crianças lêem e não percebem o conteúdo da sua leitura desistem dessa actividade. Do Rosário insiste na necessidade de a aprendizagem dos alunos incluir elementos e práticas atraentes e úteis da sua sociedade local, envolvendo problemas concretos locais. “Se o aluno é de uma sociedade rural praticante da caça, então os elementos da sua aprendizagem e de leitura devem incluir aspectos de caça, se for agricultura, deve incluir agricultura”, disse ele.

Assim, dentre várias estratégias, Lourenço do Rosário sugeriu a necessidade de resgatar os heróis da ficção da mitologia tipicamente moçambicana para encorajar as crianças a lerem mais aprendendo aspectos da cultura local. O que acontece actualmente, segundo a fonte, é que milhares de crianças no sistema escolar formal, particularmente as do meio rural, aprendem aspectos alheios a sua realidade local, tanto da história, geografia, língua, entre outros. Ele lamenta que ao invés desses “heróis”, as crianças moçambicanas, sobretudo das zonas urbanas, crescem apenas conhecendo os heróis “Spider man”, “Piter man”, “Cinderela”, “Capuchinho Vermelho”, entre outros típicos da cultura ocidental.

“Depois essa crianças têm dificuldades em responder quem é Samora Machel, onde fica Machedje, figuras desportistas locais, entre outros”, disse ele, acrescentando que “nós temos capacidade de construir os heróis da nossa própria mitologia”. Por outro lado, a fonte sugeriu a criação de espaços educativos de lazer para os adolescentes como bibliotecas bem como a reintrodução do ensino préprimário, nível de ensino já inexistente no país há cerca de 20 anos.

“Não faz sentido porque o sistema pré-primário não faz parte da cadeia do ensino no país”, disse do Rosário, argumentando que este sub-nível de ensino serviria para colmatar as diversas situações dramáticas de pessoas sem conhecimentos básicos nem habito de leitura, escrita, exercícios simples de Matemática. Dentre vários objectivos, este seminário visa analisar as acções em curso no país no âmbito da melhoria da qualidade do ensino, avaliar a implementação do novo currículo escolar na primeira e segunda classes, partilhar experiências e identificar os possíveis constrangimentos bem como traçar um plano de acção imediato para se colmatar os problemas.

Além de quadros do Ministério da Educação ao nível central e provincial, participam também no evento académicos, representantes da Africa do Sul, Brasil e Namíbia bem como o público no geral.

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