Um pedido do presidente Vladimir Putin por um novo livro que reconcilie diferenças sobre o passado da Rússia deixou-o frente a acusações de copiar os líderes soviéticos ao reescrever a história para fins políticos.
O ex-espião soviético pediu aos historiadores em Fevereiro que propusessem directrizes para novos livros escolares de história que fornecessem uma versão unificada dos muitos eventos difíceis na história russa e soviética.
Sempre será uma tarefa árdua num país onde os líderes comunistas como Josef Stálin apagavam inimigos de fotografias e viam a história como uma arma política. Mas não é a interpretação de eventos como as repressões em massa e os julgamentos-espectáculo na era soviética que está a provocar barulho.
As directrizes, esboçadas por historiadores escolhidos por Putin, não contêm críticas ao presidente, nenhuma referência aos protestos contra ele em 2011 e 2012 e nenhuma menção do ex-magnata aprisionado e inimigo do Kremlin, Mikhail Khodorkovsky. “Foi uma ordem política simples – justificar as autoridades governantes, explicar que elas estão a fazer tudo certo”, disse Vladimir Ryzhkov, historiador e ex-parlamentar da oposição.
Os críticos apresentam o plano como um projecto de vaidade para aumentar o crédito político de Putin depois dos protestos, que prejudicaram os seus índices enquanto ele prepara-se para um terceiro mandato presidencial. Alguns veem similaridades desconfortáveis com o passado soviético.
“A bênção de Putin a qualquer projecto nacional no ensino médio irá marcar uma nova versão da velha prática imperial soviética”, disse o historiador Mark Von Hagen, um especialista na Rússia da Arizona State University nos Estados Unidos.
“Temo que qualquer história aprovada por Putin e redigida por seu séquito de historiadores afirme o antigo… juízo de que a Rússia precisa de governantes autocratas fortes e de uma fé, a ortodoxia, uma cultura ‘multinacional’ que seja falsa e escrita em russo”.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse que o Kremlin estava agora a observar as directrizes e negou as acusações de que eram uma tentativa de interpretar o passado para se adequar à actual agenda política. “Não se pode reescrever a história”, afirmou Peskov.