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Purificação de viúvos e poligamia preocupam em Gaza

A prática tradicional de purificação da viúva (ou viúvo), localmente designada “kutxinga”, através de relações sexuais desprotegidas, bem como a poligamia aberta, continuam a constituir, na província de Gaza, dois dos principais factores de risco que concorrem para o incremento de casos de infecções de transmissão sexual (ITS), incluindo o HIV/Sida.

A fraca prática da circuncisão masculina e quase insignificante poder de decisão da mulher na negociação do sexo são apontados como outros dos factores que minam os esforços do sector da Saúde na redução das ITS, segundo revelou o responsável do programa do HIV/Sida na Direcção Provincial de Saúde de Gaza, Diniz Chavane, em entrevista ao jornal Diário de Moçambique.

“Mas temos também outros factores, como, por exemplo, o alto índice de analfabetismo (cerca de 38,5 por cento da população), fraco acesso à informação, negligência dos doentes e o facto de a província partilhar fronteiras com países de alta seroprevalência na África Austral, nomeadamente África do Sul e Zimbabwe”, acrescentou a fonte.

A incidência das ITS em Gaza, no período entre Janeiro e Setembro de 2011, foi maior na população com idade a partir dos 20 anos, com 40.164 casos, destacando-se por ser a faixa etária sexualmente mais activa. Verifica-se aqui o predomínio do sexo feminino, com 30.007 casos (cerca de 75 por cento).

“Nas crianças menores de 15 anos houve redução de casos de ITS comparativamente ao ano passado, sendo 208 casos verificados em nove meses de 2011, contra os 273 registados em igual período do ano passado, facto originado pelo início precoce da actividade sexual sem a observância das medidas de prevenção (uso do preservativo), bem como da fragilidade das famílias na educação sexual dos adolescentes”, segundo a fonte.

Revelou que o sector de saúde em Gaza tem estado a desenvolver diversas actividades, a destacar as campanhas de aconselhamento e testagem em saúde (ATS) nas comunidades e nas unidades sanitárias.

Explicou que tais serviços estão a ser integrados gradualmente noutros serviços de atendimento, nomeadamente serviço materno-infantil, enfermarias, banco de sangue, gabinetes de consulta, entre outros.

“O ATS está a ser garantido pelas actividades de capacitação dos técnicos de saúde em matérias de HIV a vários níveis, e não só. Foram introduzidos novos instrumentos de recolha de informação, bem como a reciclagem de mais técnicos, incluindo os de saúde oral, para que estes também contribuam nesta actividade”, observou Chavane.

Segundo ele, o número de doentes em tratamento anti-retroviral (TARV) passou de 27.975 (em Janeiro de 2011) para 33.757 (em Setembro), sendo 68 por cento do sexo feminino e sete por cento correspondente a menores de 15 anos.

O índice de abandono ao TARV continua preocupante, tendo sido no período em referência de 1.662 adultos e 181 crianças. Outros 415 seropositivos, entre crianças e adultos, viram suspenso o tratamento anti-retroviral alegadamente devido à ocorrência de reacções adversas aos medicamentos, conforme referiu a fonte.

Houve um incremento do número de óbitos em 67 casos, ou seja, 885 casos registados entre Janeiro e Setembro do corrente, contra 818 casos registados em igual período do ano transacto, disse Chavane, para depois observar que a maioria das mortes “deu-se nas comunidades e é constituída por doentes que haviam abandonado o TARV”.

Refira-se que o sector da Saúde em Gaza conta com 126 unidades sanitárias, das quais 20 oferecem tratamento anti-retroviral. As autoridades de Saúde em Gaza têm estado a empreender esforços no sentido de alargar o acesso dos cidadãos ao tratamento anti-retroviral, especialmente na região norte da província, actualmente menos beneficiada.

A fonte acrescentou que outro dos desafios do sector é continuar a estabelecer estratégias para a inclusão de pacientes ao TARV, como é o caso dos que vivem longe das unidades sanitárias e sem condições para se dirigirem às consultas regulares.

Referiu-se, igualmente, ao estabelecimento de estratégias para a melhoria da adesão das mulheres grávidas seropositivas, acompanhamento de crianças expostas e melhoria no TARV pediátrico.

Com uma população estimada em pouco mais de 1,2 milhões de habitantes, Gaza é a província com maior taxa de seroprevalência no país, cerca de 25,1 por cento, o correspondente a mais de 328 mil cidadãos vivendo com o vírus de HIV/Sida, segundo um relatório publicado no ano passado.

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