Os promotores envolvidos no julgamento do general sérvio Ratko Mladic descreveram, esta Quinta-feira, cinco dias de terror na cidade bósnia de Srebrenica, durante o massacre de mais de 8.000 homens e meninos muçulmanos desarmados, cometido por tropas sob o seu comando em Julho de 1995.
Mladic, de 70 anos, ouviu as acusações de costas para o público, um dia depois de ser advertido por fazer um gesto ameaçador para a plateia, passando a mão sobre a garganta.O massacre de Srebrenica, parte da guerra que levou à independência da Bósnia (1992-95), foi a pior atrocidade na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
O facto mobilizou as potências ocidentais para que bombardeassem as forças servo-bósnias, apressando o fim do conflito.
“Isso foi e continuará a ser genocídio”, disse o promotor Peter McCloskey, mostrando granuladas imagens de corpos à frente dum galpão onde cerca de mil presos foram abatidos.
“A evidência deste crime é avassaladora … Vamos focar em vincular o general Mladic e os seus homens ao crime.”
Mas os sobreviventes temem que Mladic, que segundo os seus advogados já sofreu três derrames e um infarto, morra antes de ser sentenciado pelo Tribunal Penal Internacional para a Ex-Jugoslávia, assim como aconteceu com o ex-dirigente sérvio Slobodan Milosevic.
A defesa alegou que a promotoria não apresentou adequadamente as acusações, e solicitou um adiamento de seis meses antes da próxima etapa do julgamento. Os juízes acataram a tese da defesa, mas não se manifestaram sobre o adiamento.
A promotoria diz que o massacre foi parte dum plano estratégico de limpeza étnica, concebido por Milosevic e pelo líder servo-bósnio Radovan Karadzic.
Entre as 11 acusações imputadas a Mladic estão as de genocídio, homicídio, estupro, cárcere privado e terrorismo.
Elas dizem respeito também aos 43 meses de cerco a Sarajevo, em que 10 mil pessoas morreram, e ao estabelecimento de brutais campos de prisioneiros.
Assim como Karadzic, que também está a ser julgado no tribunal de Haia, Mladic pode ser sentenciado à prisão perpétua.
McCloskey disse que a promotoria pretende convocar várias testemunhas, inclusive 11 sobreviventes do massacre, e também verdugos do Exército servo-bósnio.
“Em apenas cinco dias, as forças de Radovan Karadzic e Ratko Mladic expeliram a população de Srebrenica e Zepa e assassinaram mais de 7.000 homens e meninos muçulmanos”, afirmou.
Segundo ele, quase 6.000 corpos foram retirados de valas comuns e de locais secundários de zonas montanhosas, onde os cadáveres foram enterrados novamente numa tentativa de ocultá-los.
Os seus restos têm sido identificados por exames de DNA.