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4º Dia da greve dos profissionais de saúde: MISAU continua a mentir

Apesar dos apelos, pressões, e até intimidações com recurso a ostensiva presença policial os profissionais de saúde moçambicanos mantêm-se firmes na sua luta por melhores salários e um Estatuto mais digno para todos os médicos, enfermeiros e outros auxiliares que trabalham nos hospitais, centros de saúde e postos médicos do nosso país.

Nesta Quinta-feira (23), quarto dia da greve o Ministério da Saúde (MISAU) acusou a Associação Médica de Moçambique (AMM) de não estar aberta ao diálogo. Mais uma, entre tantas, mentira na campanha de desinformação que tem sido levada a cabo através dos órgãos de comunicação pagos pelos impostos dos moçambicanos.

@Verdade está na posse de cópias da correspondência oficial trocada entre a AMM e o MISAU onde se pode ler, numa carta da Associação datada do dia 21 de Maio que os profissionais de saúde manifestam a sua abertura para a continuação das negociações, em resposta a uma missiva do Ministério de tutela.

A carta do MISAU foi enviada no dia 20 de Maio depois de Jorge Arroz ter abandonado a reunião com responsáveis daquele ministério.

Na sua resposta a AMM exige que a nova reunião de negociações envolva a comissão dos PSU e altos quadros do Governo.

Mais intimidações da polícia

Depois da polícia e FIR haverem impedido o encontro dos grevista nesta Quarta-feira, no jardim Nangade, os profissionais de saúde reuniram-se hoje defronte do Centro de Conferências Joaquim Chissano, na cidade de Maputo. O encontro decorreu sem sobressaltos apesar da presença policial que se fez ao local, mas manteve distância considerável em relação ao grevistas.

A Constituição da República de Moçambique foi usada pelos profissionais de saúde para legitimar a sua contestação. O número um do artigo 87 foi lido debaixo de uma ovação sonora da grevistas presentes. “Os trabalhadores têm direito à greve, sendo o seu exercício regulado por lei”, refere o texto da Constituição.

A tónica da mensagem, regra geral, incidiu sobre a necessidade de não se deixar intimidar. “A Constituição protege os nossos direitos e qualquer ameaça é contra este livro que não fomos nós quem escreveu”, dizia de um púlpito improvisado uma representante da Associação Médica de Moçambique.

Agentes disfarçados, contudo, infiltram-se no seio do pessoal de saúde para ouvir o teor das mensagens. @Verdade ouviu uma conversa entre o agente da PRM responsável pela acção no terreno e um dos polícias infiltrados entre os grevistas. O agente infiltrado tinha de ouvir a conversa. Essa, pelo que ouvimos, era a missão do homem naquela greve.

Uma hora depois a reunião terminou e os profissionais de saúde abandonaram, cada um para o seu lado, o local do encontro e com a convicção de que não se devem vergar as ameaças.

Silêncio das autoridades em Nampula

As autoridades do sector de saúde na capital norte do país, Nampula, estão em silêncio, sobretudo, quando são abordados para pronunciar-se sobre as últimas incidências resultantes greve dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde iniciada esta segunda-feira (20) a escala nacional.

A ronda que a reportagem do @Verdade está a fazer nas diferentes unidades sanitárias desta região não permitiu apurar o número dos casos graves que dão entrada nos serviços de urgência. Isso deve-se, por um lado, à falta de abertura dos responsáveis dos hospitais e por outro à monopolização no fornecimento da informação que os dirigentes máximos do sector em Nampula fazem.

“Não estou autorizado a falar ou comentar sobre as incidências sobre o estágio actual no que diz respeito ao atendimento porque fomos informados que quem deve prestar quaisquer declarações a imprensa é o director provincial ou a porta-voz”, disse o responsável do Banco de Socorros do Hospital Geral de Marrere.

Contudo, apuramos que naquela unidade sanitária apenas continua em funcionamento desde o início da greve o sector dos serviços de urgência e farmácia. Além da deficiência no atendimento que os doentes encontram nas consultas, os hospitais estão sem medicamentos para os doentes e muitas vezes as pessoas são obrigadas a recorrer as farmácias privadas e aqueles que não dispõem de condições financeiras para suportar as despesas preferem o tratamento tradicional ou por outra fazem a auto-medicação.

Entretanto, na maior unidade sanitária da região norte de Moçambique, Hospital Central de Nampula constatamos que o Banco de Socorros está a funcionar em todas as triagens incluindo a Farmácia, mas o Laboratório de análises não está a funcionar a cem por cento, ou seja, o pessoal desta área encontra-se momentaneamente presente e quando estão presentes trabalham a “faz de contas”.

Esta situação verifica-se desde o primeiro dia da greve dos profissionais de saúde e não sabemos se as consequências terão provocado danos humanos porque o atendimento não é completo. Mas o certo é que muitos casos graves, principalmente, relacionados com acidentes de viação entre outros, foram sendo ignorados pelo pessoal em serviço.

Por exemplo, a nossa reportagem deparou-se com um jovem que contraiu ferimentos graves num dos olhos e a área de oftalmologia está com as portas encerradas desde segunda-feira e ninguém mais podia atender este cidadão, tendo regressado para casa com as suas dores. Tentamos, sem sucesso, conversar com os responsáveis das áreas onde são prestados os serviços de urgência, mas a resposta tem sido a mesma que “não estamos autorizados a falar à imprensa”.

O director provincial de saúde, Mahomed Riaz, que devia estar em permanente contacto com os médias para dar a conhecer sobre o ponto da situação colocou o seu cargo à disposição através de uma carta dirigida ao Ministério da Saúde evocando motivos meramente familiares.

 

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