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Procurando @verdade: O Tempo do Metal

É minha sina gostar de coisas para as quais não tenho jeito nenhum. Tenho um amor desmesurado por música e a única coisa que faço decentemente é abanar a cabeça. Desejoso de participar no mundo maravilhoso do rock and roll, resolvi aderir ao estilo onde as minhas capacidades fossem apreciadas: o heavy-metal.

Nesta espécie de género musical, a tentativa de separar a cabeça do corpo constitui, como é sabido, parte fundamental. Sem mais, juntei-me a uma banda: O Verme e os Sistemas Nervosos. Este radical grupo musical pretendia fundir os mais variados géneros do heavy. Um pouco de trash, um temperozinho de death, uns riffs de speed e mais uns quantos sub-estilos de que não guardo memória. Aprendi o acorde de Mi, e era ver-me a abanar a cabeça como se eu fosse o Jardel, e o Drulovic fizesse centros de 2 em 2 segundos.

Infelizmente, esta minha aventura no mundo esplendoroso do rock não durou muito. Ainda tive uma fã da banda que se apaixonou por mim. Pelo menos foi como interpretei o facto de me estar sempre a apontar o dedo do meio e ter vomitado na minha direcção aquando dum fantástico espectáculo levado a cabo na Escola Secundária de Linda-a-Velha, na presença de uma multidão de três pessoas enlouquecidas com a nossa performance.

Mais ou menos por essa altura o meu cabelo começou a abandonar esta linda carinha e, já se sabe, abanar a cabeça sem ter uma bela trunfa a chicotear os costados não tem o mesmo efeito. Mais, um elemento de uma banda heavy careca é como um Ferrari verde alface. Para piorar a situação, os restantes membros da banda apareceram com um indivíduo que, além do acorde de Mi sabia também o de Lá, tinha uma melena vigorosa que avisadamente não lavava e era conhecido como o Ogre. Imbatível, portanto.

Como era tudo rapaziada amiga, e dado o meu empenho, ainda me propuseram ser o segundo vocalista. Não era função menor. Consistia em garantir alguns momentos de profundo impacto cénico onde, entre outras actividades, deviam ser dadas dentadas a ratos vivos e engolir aranhas. Alguém propôs um número com morcegos, mas aí fui inflexível: imitações do Ozzy, nem pensar. Além disso, os meus problemas digestivos não aconselhavam estas coisas. Ser o principal vocalista estava fora de causa. O titular era, não só dono de grande parte do equipamento, como era um verdadeiro mestre na arte de expelir gases intestinais.

Era um espectáculo: a música de repente parava, o Verme (grande nome e parte do nome da banda) levava o micro ao rabo e saía um som capaz de deitar abaixo um estádio. Dei assim por finda a minha carreira de estrela roqueira. Nunca me esquecerei, porém, da experiência: cada vez que chega o frio, a minha cervical lembra-me dos desmandos dos “Verme e os Sistemas Nervosos”.

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