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Bitonga Blues: Olá Mbuli, meu grande amor

Sei que me vais perdoar como sempre perdoaste a minha preguiça de te amar. Sei também que vais chorar quando fores a ler esta carta que te escrevo num computador que nem é meu. Vais chorar porque sempre que lês os disparates que ando a escrever nos jornais deste país, apertas os meus textos no teu peito e te comoves.

Nunca te vi nesse gesto, mas a tua irmã já me disse várias vezes que choras muito de emoção e de saudades quando lês as minhas coisas. Ela disse-me que ainda me amas, que me queres muito, mas que não sabes como fazer para me reconquistares. Oh, Mbuli! Eu também sinto saudades tuas, muitas saudades.

Ainda me lembro do dia em que me ofereceste aquele lencinho, que guardo até hoje no fundo da minha mala, escondendo-o das amantes que de vez em quando tenho arranjado por aí. Não quero que elas descubram que tenho um tesouro no meu quarto. Um tesouro oferecido por ti naquele dia que chorei no teu peito quando me disseste que me amavas e que eu te castigava muito. Mbuli, meu grande amor, o convite para o teu aniversário – ao qual nem fui – que me enviaste no mês passado, também está guardado no fundo da minha mala, ao lado do teu lencinho castanho claro, com tracinhos castanhos escuros. Como é lindo!

De vez em quando pego nele com delicadeza, como se estivesse a acariciar a tua face de veludo, que nela gostava também de passar ao de leve os meus lábios. Quem me entregou o convite foi a tua irmã, a Madalena. Ela voltou a dizer-me que ainda me amas muito e que não sabes o que fazer para me reconquistares. Chorei quando ela me disse isso, porque eu também ainda te amo muito nesta minha preguiça danada. As amantes que tenho levado ao meu quarto não entram no meu coração. Fico com a impressão de que elas vêm afastarme cada vez mais de ti e eu sofro com isso. Não sei o que fazer. O pior é que estás sempre a falar de mim e, cada vez que falas de mim, o amor que sinto por ti renasce como uma lavra que nunca dorme.

Toda a gente que nos conhece, quando me encontra depois de ter estado contigo, levanta-me as feridas de amor que tenho por ti. Cada um deles me diz: estive com a Mbuli, ela está cada vez mais linda. Ela ainda te ama, mas não sabe o que fazer para te reconquistar. Oh, Mbuli, eu também não sei o que fazer para te reconquistar. Também te amo muito, meu grande amor. Estou cansado das amantes que de vez em quando tenho encontrado por aí e levo ao meu quarto. Faço um esforço tremendo para fazer amor com elas, porque não as amo.

Contigo eu não sofro, Mbuli. Contigo tudo é natural, tudo é amoroso, tudo é gostoso, tudo é um sonho. Com elas não, é um castigo. Mbuli, meu grande amor, quando me disseram que estavas grávida de um indivíduo que anda por aí, fui imediatamente comprar uma corda de nylon para me enforcar, mas depois vim a saber que tudo aquilo era mentira. Eu disse à tua irmã Madalena que tinha comprado uma corda de nylon, aliás ela mesma te disse. Sei também que disseste à tua irmã que, se eu me tivesse enforcado, tu também farias o mesmo, porque nunca estiveste grávida de ninguém. Nem de mim.

Aliás de mim ficaste grávida uma vez, como resultado do amor que nos une até hoje. Só que o bebé não chegou a nascer, porque decidimos interromper a gravidez para proteger os teus estudos. Foi há muito tempo, Mbuli! Se o bebé tivesse nascido, teria hoje 20 anos. E tu nunca mais quiseste entregar esse lindo corpo a mais ninguém, por causa de um vagabundo como eu. Um preguiçoso imprestável como eu. Sei que estás para vir a Maputo onde eu vivo e trabalho, abandonado. Sem ti. Cercado de amantes e prostitutas.

Oh, Mbuli! Quem me dera se viesses! Mas vens mesmo? Se vieres eu serei outra pessoa. Vou compartilhar contigo todas as minhas paródias. Vou comprar um fato novo. Farei a barba. Comprarei um bouquet de flores e, ao fim da tarde, vou-te esperar na terminal da “Junta”. Sei que continuas linda, linda demais. A tua irmã Madalena e todos aqueles que te vêem na cidade dizem que pareces uma mensageira de Deus e dizem também que eu já não te mereço. Na verdade pode ser que eu já não te mereça, sobretudo por causa do sofrimento por que te fiz passar durante este tempo todo.

Mas eu vou comprar um fato novo, fazer a barba e comprar um boquet de flores para te esperar na terminal da “Junta”. Amo-te muito, Mbuli e sei que me vais receber nesses braços delicados porque tu, na verdade, amas-me sem limites, mesmo sabendo que sou um preguiçoso imprestável. Vem, amor! Vem! Eu já não sou propriamente um jovem, mas tenho uma grande capacidade de renascer.

E só tu é que me podes renascer. Vou dizer a todas as amantes que tenho levado ao meu quarto para não me procurarem mais. Vou comprar um colchão novo, lençóis novos, fronhas novas. Deixarei o lencinho que me ofereceste em cima da cama, e o convite que me enviaste para o teu aniversário, para, quando entrares, veres que ainda te amo.

Beijo grande, Mbuli.

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