Miguel, Oldimiro e Cristélia, três das 29 crianças moçambicanas órfãs de pais com SIDA, ainda não conhecem os rostos de portugueses que os apadrinharam, mas já começaram a receber alimentação e vestuário. Apesar das despesas com o sustento de três filhos menores, John Alves, 37 anos, e a esposa foram dos primeiros casais a responder ao pedido de ajuda da associação “Eu e os Meus Irmãos”, uma organização não governamental portuguesa criada em Março com o objectivo de ajudar crianças órfãs de pais com SIDA, da província moçambicana de Inhambane.
“Uma família com três filhos tem sempre dificuldades, mas mais importante é incutir neles o espírito de solidariedade, sensibilizando- os para o facto de que existem outras prioridades além dos bens materiais que lhes damos”, explica o director comercial de uma multinacional. A família passou a contribuir todos os meses com 30 euros, o necessário à alimentação, vestuário, educação e saúde de cada uma destas crianças, neste caso Miguel Jacinto, jovem de 15 anos que vive apenas com mais dois irmãos, depois de perderem os progenitores. Apesar de… Pais de uma criança de dois anos e à espera do segundo filho, Joana e André Oliveira Martins, ambos de 30 anos, apadrinharam Cristélia, uma menina de 11 anos.
Apesar das dificuldades comuns de um casal em início de vida, “fomos pais há pouco tempo e ficámos muito sensibilizados para ajudar estas crianças poupando em gastos supérfluos”, explica Joana Oliveira Martins, professora do ensino básico. Livres de despesas com os dois filhos já adultos, Piedade Barreto, professora aposentada de 52 anos, e o marido também concluíram que tinha chegado a hora de ajudar os outros e manter a relação com crianças, neste caso com Oldimiro Catarino, um menino de oito anos, órfão de pai e que vive com a mãe e dois primos em grandes dificuldades de sobrevivência.
“Estas crianças têm todas e mais algumas necessidades, nomeadamente falta de alimentação”, conta Isabel Bento, uma das fundadoras e mentoras da associação, que passou a colaborar com uma organização não governamental moçambicana (Mahlahle), localizada na província onde vivem as 29 crianças apadrinhadas de um universo de quatro mil, todas órfãs de pelo menos um dos progenitores. Na província de Inhambane, “optou-se por não institucionalizar estas crianças, tendo sido criada a ONG, cujos responsáveis são na maioria mulheres da comunidade que se responsabilizam por elas”, explica.
Das quatro mil, foram seleccionadas nesta primeira fase cerca de 40, casos considerados dramáticos cuja ajuda se revela urgente, por haver crianças entregues à sua sorte e sem comida “durante semanas”. Além dos 30 euros mensais, os padrinhos, que ambicionam um dia viajar até Moçambique para conhecerem estes miúdos, começaram a enviar ajudas suplementares, como material escolar e roupa.
A associação está também a recolher fundos para instalar um furo de água potável, erguer uma escola profissional e construir um pavilhão de criação e abate de aves, destinado a ajudar na alimentação e sustento das crianças. A associação “Eu e os Meus Irmãos” foi criada em Março, na sequência de uma reportagem televisiva com o mesmo nome e que dava a conhecer a realidade destas crianças, da autoria da jornalista Cândida Pinto.