É preciso deixar a Av. de Trabalho, atravessar o quintal da Universidade Lúrio e perder-se entre os coqueiros que ladeiam a principal avenida que dá acesso ao Bairo Piloto – uma zona recentemente “invadida” pelos munícipes de Nampula, na maior parte jovens, que não tendo conseguido um pedaço de terra dentro da zona de cimento e bairros circunvizinhos, ali encontraram a solução.
Piloto ainda está em construção, daí que boa parte das casas foram construídas à base de material precário. Por um lado, porque os proprietários são jovens sem emprego por isso sem qualquer base fi nanceira sólida para erguer uma casa melhorada. As manchas brancas que aparecem aqui e acolá são edifi cações de pessoas que têm poder económico e desejam abandonar as apinhadas residências nos bairros vizinhos da cidade ou pretendem livrar-se das despesas de renda nas “fl ats” que até então ocupam. Em suma, é uma zona onde falta muita coisa como electrifi cação pública ou água nos fontenários.
À semelhança de muitas outras regiões, no Piloto a vida não é nada fácil para quem nada faz para honestamente ganhar dinheiro. Daí que os jovens procurem a todo o custo desenvolver alguma actividade.
Foi lá que encontrámos Elisa Joaquim, uma personalide que tudo faz para alegrar os residentes daquele bairro aos fi ns-de-semana com sua tradicional bebida “cabanga” muito apreciada pelos consumidores. Elisa participa igualmente nas associações sócio-económicas das mulheres do bairro.
A Reportagem da @Verdade encontrou-a na sua residência. Elisa explicou-nos como consegue atrair tão grande clientela para o consumo da “cabanga”. “Olha meu fi lho cabanga é uma bebida apetitosa e é de fabrico tradicional feita a partir de farinha de milho”. Ela é preparada da seguinte maneira: Depois de semergulhar o farelo de milho este é fervido durante algumas horas até cozer completamente. Posto isto, deixa-se arrefecer a papa de farelo. Seguidamente, é coada, separando-se o farelo da papa. O passo seguinte é depositar numa panela de barro e açucarar. É sempre bom coar no período da tarde para poder fermentar perante a noite. No dia seguinte já está pronta a servir.” Normalmente, Elisa produz 50 litros e, nos dias de festa, chega a fabricar 500 à 600 litros.
“Com um balde de 20 litros consigo uma receita de 300 meticais, obtendo um lucro de 100 meticais, porque gasto 200 meticais na compra de lenha, farelo e açúcar.” Por mês Elisa chega a comprar duzentos quilos de farelo de milho na fabrica de farinha que se localiza na vizinhança. Às vezes compra milho no comércio local para actividade de preparação da bebida, arrecadando outra parte para consumo familiar.
Joaquim, não está apenas ligada a vida caseira, participa também em diversas actividades no bairro. “ Faço parte duma associação de mulheres que fazem xitique, participo no grupo cultural do bairro”. Actualmente este grupo tem sido muito solicitado para varias actuações nas cerimónias do bairro e na cidade no geral.
Elisa Joaquim tem 28 anos de idade e é solteira. Teve dois consortes que a abandonaram. Possui três fi lhos, completou apenas a 8ª classe, pretendendo continuar com os estudos no próximo ano.