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Os (sinuosos) caminhos do festival nacional

Os (sinuosos) caminhos do festival nacional

A um mês da realização do VII Festival Nacional de Cultura, os certames de apuramento dos grupos culturais para o evento continuam intensos. Aliás, eles têm sido a prova de que (apesar de serem bons) nem todos os artistas se poderão fazer presentes na capital do norte. É que os trilhos com destino a Nampula são sinuosos…

Há guerra em tudo, na vida, nas artes, na luta pela liberdade e independência, por exemplo. A vida é um conflito em que os mais fortes se sobrepõem aos fracos. Talvez seja por essas razões que algumas manifestações artístico-culturais (de, pelo menos, duas colectividades que se dedicam à arte na província e cidade de Maputo) têm um antecedente histórico guerreiro.

Trata-se dos grupos “Xigubo das Forças Armadas” e da “Associação Cultural Nyuku Wa Mudrimi” que exploram as danças tradicionais moçambicanas Xigubo e Muthine. Entre 11 e 15 de Julho, altura em que a cidade de Nampula acolherá artistas idos de diversas partes do país, estas formações terão a sorte de se exibir perante todos os moçambicanos.

Sob o ponto de vista histórico, em relação ao Xigubo sabe-se que é uma dança guerreira de origem zulu. Actualmente é muito praticada na região sul de Moçambique. Por exemplo, nos arredores do subúrbio de Maputo há vários agrupamentos de arte e cultura que se dedicam à referida manifestação de dança, arte e cultura.

Além de ser um tipo de dança tradicional, o Xigubo é uma forma de celebração por meio da qual as tribos do sul do país expressavam as suas glórias em diversas actividades como, por exemplo, agricultura, pastorícia, muito antes da colonização portuguesa em Moçambique.

Porque nos dias que correm as comunidades urbanas e suburbanas se debatem com vários problemas sociais como o HIV e SIDA, por exemplo, os bailarinos utilizam esta forma de dança para emitirem mensagens de combate ao mal, ao mesmo tempo que exaltam alguns valores da cultura e tradição africana que são as causas do seu movimento de acção e representação.

Muthine

Por sua vez, o Muthine é outra forma de dança guerreira que remonta aos tempos da migração Mpfecane, há mais de dois séculos. Semelhante ao Xigubo, esta manifestação cultural é muito popular no sul de Moçambique, com destaque para a província de Maputo nos distritos de Marracuene e Matutuine que são as regiões nos quais foi originada.

Ela é preferencialmente praticada por homens vigorosos como meio de treinamento militar para o combate ao inimigo, bem como para celebrar as suas vitórias em batalhas militares.

Fontes da Associação Cultural Nyuku wa Mudrimi, praticantes da respectiva dança e que foram apurados para o VII Festival Nacional de Cultura, consideram que o marco histórico do Muthine foi a batalha de Marracuene (conhecida por Gwaza Muthine) ocorrida a dois de Fevereiro de 1895, opondo tropas coloniais aos guerreiros nativos da província de Maputo liderados por personalidades históricas como Mwamathibjana, Mabjaia, Matsolo e Maguigwana Cossa.

Em Marracuene, presentemente, a prática da dança é dinamizada pela Associação Cultural Nyuku Wa Mudrimi criada no ano 2004 e que é constituída por 15 membros.

Em conversa com @Verdade, os integrantes da referida agremiação congratulam-se pelo facto de terem sido apurados para o Festival Nacional de Cultural. Até porque para o efeito tiveram que superar um forte concorrente que explora a mesma modalidade de dança proveniente do distrito de Matutuine.

Consideram que a existência de mais um grupo a explorar esta forma de arte é um facto positivo porque o Muthine, como uma expressão de dança, está em vias de desaparecimento. É por essa razão que trabalham no sentido de contrariar a tendência, o que passa por desencadear acções que contribuam para a sua divulgação e promoção como forma de perpetuá-la no espaço e no tempo.

N’Sope de Nampula

De acordo com os membros do Grupo Cultural Chipinpe de Nampula, um dos seleccionados para a fase final do VII Festival Nacional de Cultura, o N’Sope é uma variante da dança Tufo. A sua origem relaciona- se com a cultura árabe, mas representa a miscigenação de algumas práticas tradicionais do mesmo povo com outras da população de Nampula, com destaque para os povoados que habitam a costa moçambicana.

Esta dança manifesta-se por meio de saltos à corda praticados por mulheres, aos quais se associam alguns arranjos coreográficos complementados por um conjunto de instrumentos sonoros.

Refira-se que o N´Sope traduz alguma sensualidade da mulher macua que a pratica. Por isso, muitas vezes, é realizada nos momentos alegres como forma de celebrar a vida, o que pode ser deduzido pela animação estampada no rosto da figura feminina.

Invariavelmente, a face das bailarinas aplica-se o mussiro (uma loção de cor branca produzida tradicionalmente visando o tratamento da pele feminina) sendo que o seu corpo é adornado por um conjunto de bijutarias coloridas.

Acredita-se que o N´Sope contribui, de certa maneira, para a manutenção física e para o bem-estar do corpo da mulher, garantindo-lhe melhores condições de saúde.

Os classificados

A seguir apresentam-se os grupos que foram apurados das províncias de Nampula, Maputo e cidade de Maputo ao evento na considerada capital do norte de Moçambique.

Entre os sete distritos que, ao nível da província de Maputo, concorreram para garantir a sua presença em Nampula, o da Moamba não foi apurado em nenhuma modalidade artística. No entanto, o distrito de Magude far-se-á presente com a dança Makwai, o recital de poesia e a gastronomia.

Dos grupos da vila de Manhiça encontra-se a dança Xingomane e a música ligeira moçambicana como suas principais ofertas ao evento. A cidade da Matola irá exibir em Nampula o melhor da sua dança Makwaela, da moda e do canto coral, ao passo que o distrito de Boane só participará com a declamação de poesia.

O distrito de Namaacha apresentará a dança tradicional Ngalha, o teatro e a música ligeira moçambicana. Por fim, o distrito de Matutuine também apurado, irá exibir nos palcos de Nampula as danças Xigubo e Kwaia.

Cidade de Maputo

Em relação à cidade de Maputo, as únicas secções sobre as quais os membros de júri deliberaram pela negativa são a música ligeira e o recital de poesia. No cômputo geral, foram apurados os grupos Xigubo das Forças Armadas, Makwayela Wuchene, Marabenta Tintsumi, Coral Units Power, Teatro M´pala, e o desfi le de moda da estilista Beatriz.

Na capital do norte

Ao que tudo indica, a província de Nampula (que por sinal será a anfitriã do VII Festival Nacional de Cultura a decorrer de 11 a 15 de Julho) é que terá o maior número de participantes de todo o país. No seu certame para a selecção dos artistas e grupos culturais que representarão a província no evento foi apurado um total de 24 colectividades culturais de um universo de 64 inscritos.

Na dança, os representantes são provenientes dos distritos de Nacala-Porto, cidade de Nampula e de Lalaua; no recital de poesia foram apurados os concorrentes Feliciano do distrito de Malema, Aurélio de Murrupula e José André que é oriundo do distrito de Angoche; nas artes plásticas e artesanato foram aprovados os grupos dos distritos de Nacala- Porto, Nampula Rapale e Mussuril. Em relação à música ligeira e tradicional foram seleccionados os grupos Gilara, Viana de Nacaroa e Mogovolas.

No tocante à passagem de modelos, Nampula será representada pelos grupos Erati e Memba; Khupula Muno de Mogovolas, Ecuro Samuanene Muluko, Chitemba são as formações teatrais que escolhidas na secção das artes dramáticas; por fim, em relação ao canto coral o júri escolheu os grupos da Igreja Evangélica de Mecuburi, Lota de Memba e a Igreja de Ribaue, ao passo que na área da gastronomia foram apurados as chefes de cozinha Juzefa, Fernanda, e Lelo.

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