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Os clientes da EDM merecem um tratamento digno

Os clientes da EDM merecem um tratamento digno

Os citadinos de Nampula, Nacala, Maputo e Matola são apenas um exemplo dos milhares de moçambicanos que são sujeitos a dissabores pela empresa Electricidade de Moçambique (EDM) no acto do provimento de energia. É que, para além de serem privados do consumo de corrente sem um aviso prévio, os seus electrodomésticos avariam devido a oscilações que tendem a agravar-se cada dia que passa. O problema é maior do que se pode imaginar, pois até para comprar CREDELEC é outro bico de obra.

Em Nampula e em alguns bairros da capital do país os cortes sistemáticos de energia eléctrica deixam dúvidas de que aquela empresa esteja a trabalhar na melhoria da rede de abastecimento. São transtornos atrás de transtornos e diversos aparelhos danificados e em poucos casos os donos são indemnizados, o que leva os clientes a concluírem que a qualidade dos serviços e a energia fornecidas são baixos e longe de corresponder às expectativas.

Aquando da introdução do sistema de venda a crédito (pré-pagamento) de electricidade, vulgo CREDELEC, a firma estabeleceu que o serviço visa, dentre outras vantagens, “fortificar a boa relação EDM/cliente” e “eliminação de corte no fornecimento de energia por atraso/falta de pagamento”. Todavia, isso ainda não passou do papel para a realidade. A empresa não cumpre estas nem outras medidas.

Nas urbes de Maputo, Nampula e Nacala, a ineficiência da funcionalidade dos aparelhos instalados para prover recargas de CREDELEC chega a deixar os consumidores com os nervos à flor da pele. Nos postos de venda os utentes ficam horas a fio, além de serem destratados. Alguns consumidores consideram que existe uma má distribuição dos postos de venda nas cidades de Nampula e Nacala, o que está na origem das enchentes. Por exemplo, em Nampula funcionam seis lojas localizados em diferentes bairros da urbe.

Na sua ronda pelos postos de venda de energia, o @Verdade constatou que no Sipal e na sede da EDM, ambos localizados ao longo da Avenida de Trabalho, no Piquete, sito na Rua dos Combatentes, havia gente enfileirada acotovelando-se para comprar energia. Todos os dias, nas manhãs sobretudo, é assim, pois em cada lugar de comercialização só funciona um computador, que é deveras lento no processamento.

Nos postos de venda localizados nas avenidas Paulo Samuel Kankhomba e 25 de Setembro, nas imediações da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, nos bairros de Poeta, (vulgo bombeiros) e nas FPLM, as enchentes acontecem à tarde, apesar de o horário de funcionamento ser das 08h:00 às 22h:00, incluindo aos fins-de-semana.

Estes problemas devem-se, em parte, à instalação de locais de venda sem ter em conta o número de habitantes por cada zona. Os clientes da EDM em Nampula queixam igualmente do facto de ficarem dias às escuras devido a cortes sistemáticos. O sistema online de venda de energia é ineficaz. Madalena Alfredo, por exemplo, adquiriu uma recarga de CREDELEC no Sipal, sofreu descontos desnecessários das taxas de lixo e rádio mais de uma vez num mês e nunca foi reembolsada, apesar da reclamação apresentada à empresa. Carlos Momade já foi também vítima do mesmo erro.

Em Nacala-Porto, a situação é mais crítica. As longas bichas são frequentes e insuportáveis nos postos de comercialização de energia elétrica. Há relatos de corrupção à mistura, ou seja, alguns clientes subornam os vendedores para serem atendidos sem passarem pela fila. Segundo os utentes, este caos deve-se à insuficiência de lugares de venda e ao horário (das 08h:00 às 15h:30) inadequado fixado pela nova direcção da EDM.

Numa cidade em franco desenvolvimento como Nacala-Porto existem apenas cinco postos de venda de energia elétrica, nomeadamente a EDM sede, um posto na zona baixa sob gestão de um privado, outros dois na área alta da urbe – um dos quais nas bombas de combustível de um empresário –, e a quinta instalação localiza-se no bairro Mahuca. Nestes sítios, os funcionários não têm dó: quando forem 15h:30 encerram as portas, mesmo havendo clientes.

Os citadinos daquela cidade responsabilizam o novo director da EDM, Caetano Mondlane, pelo mau serviço prestado. Contactado pelo nosso Jornal, o visado desdramatizou a situação. Ele disse que há interesses pessoais nisso e acusou um empresário da praça de ser o fomentador das reclamações em questão.

“Temos cinco postos mas não constitui verdade que os mesmos não respondam à demanda porque nas manhãs ficam às moscas. As pessoas têm o hábito de se dirigir aos sítios de venda no final da tarde. Alguns consumidores que se acham de elite não se querem misturar com pessoas pacatas, usam todos os meios ao seu alcance para denigrirem a imagem da instituição, e são indivíduos identificados”, justificou Mondlane sem mencioná-los.

Para justificar a inoperância narrada pelos munícipes, o nosso entrevistado disse que afastou os funcionários que estavam afectos a três postos de venda geridos pela EDM alegadamente porque eram da confiança do antigo director, Carlos Jossai, a quem supostamente canalizavam os dois porcento do valor da receita que é atribuído aos proprietários das lojas que operam em estabelecimentos privados.

Relativamente ao horário, Mondlane explicou que somente os lugares geridos pela sua empresa obedecem ao horário da Função Pública. Os restantes encontram-se abertos 24h. “O que nos preocupa é reduzir os cortes no fornecimento de energia eléctrica, expandir a rede aos bairros e não a venda de energia porque, apesar de tudo o que se fala sobre Nacala, ainda tem o estatuto de um distrito”. Refira-se que a cidade de Nacala-Porto conta actualmente com cerca de 30 mil clientes, 80 porcento dos quais usam o CREDELEC.

Uma empresa que dá dissabores

Que há bastante tempo a EDM brinda os seus clientes com cortes sem informar com antecedência já é sobejamente sabido. O que é novidade é que a mesma empresa tenha vergonha de vir a público responder pelos seus actos. Entre a semana passada e esta – não importa a exactidão dos dias – o @Verdade dirigiu-se às instalações daquela empresa, sitas da Avenida Agostinho Neto, em Maputo, para perceber as motivações que estão na origem das enchentes nos postos de venda de CREDELEC e da inoperacionalidade de algumas máquinas em diversos pontos da capital do país e fora, sobretudo o que diz respeito ao cortes frequentes, o que não foi possível devido à burocracia instalada, à semelhança do que acontece noutras instituições do Estado.

Ao nosso jornalista foi sugerido que contactasse o Departamento de Relações Públicas a fim de obter esclarecimentos sobre o assunto em questão. Entretanto, no local, as pessoas supostamente indicadas para o efeito informaram, depois de tantas voltas, que era preciso submeter uma carta de pedido de entrevista, a qual não enviamos porque a EDM não pode, de forma nenhuma, burocratizar uma informação de interesse público.

Os gestores da EDM, cuja vocação é prover regularmente energia aos seus clientes, não sabem que dor acomete um cidadão cujo electrodoméstico, comprado com tanto sacrifício, foi danificado por causa de uma oscilação de corrente eléctrica, não sendo ressarcido por esse estrago. Eles não sabem ainda que sofrimento sente alguém que, de repente, fica privado de energia quando o sabe que recarregou o contador.

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