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ONG quer abrir clínica

A Organização da Mulher Educadora de Sida (OMES) na província central moçambicana de Manica, pretende montar uma clínica nocturna para atender exclusivamente as trabalhadoras de sexo e seus clientes na região fronteiriça com o Zimbabwe.

O projecto, que conta com a parceria do Ministério da Saúde (MISAU), prevê a instalação da clínica em Machipanda até finais de 2010, na principal fronteira terrestre entre os dois países, que dista cerca de sete quilómetros do centro da cidade de Manica. A responsável da organização explica que as trabalhadoras de sexo temem ser reconhecidas ao entrarem nas unidades de saúde, o que provocaria preconceito no seio das comunidades.

“Esta é a hora de colocar uma clínica nocturna em Manica. Notamos que algumas prostitutas ainda não aderem aos postos de Aconselhamento e Testagem de Saúde por receio de discriminação e uma clínica nocturna seria o ideal” afirmou Maria clara Paulom coordenadora da OMES em Manica. O projecto ainda depende de financiamento por parte dos parceiros externos. Em 2006, a OMES foi obrigada a interromper, por falta de fundos, um programa de prevenção de HIV para trabalhadoras de sexo e camionistas de Inchope, considerado o principal cruzamento económico e sexual da província.

Esteira do comércio de diamantes

“A maioria trabalha à noite e de dia passamos a dormir. Se houver uma clínica no nosso horário de trabalho acredito que haverá candidatas ao teste”, disse ao “Plusnews” a trabalhadora de sexo, Virgínia Tshemo, 22 anos. A descoberta de minas de diamantes do outro lado da fronteira, no Zimbabwe, tornou Manica um centro de comércio de ilegal das pedras. O comércio de sexo na cidade acontece na esteira da riqueza trazida pelos diamantes, que também são negociados à noite. Estrangeiros e trabalhadoras de sexo lotam as hospedarias da cidade. “Eu prefiro actuar aqui (em Manica) porque tenho facilidades de comunicação (uso de Shona e inglês, línguas faladas no Zimbabwe) e ganho por cada cliente o triplo que é cobrado noutras regiões de Moçambique e do Zimbabwe”, disse a trabalhadora de sexo, Mary Mambondin, 27 anos.

A fugir da crise

Como Mambondin, muitas zimbabueanas cruzam a fronteira entre os dois países para fugir da crise económica e agrária do seu país de origem. Um número crescente delas acaba por ter que recorrer ao sexo comercial para sobreviver. As dificuldades financeiras tornam essas mulheres ainda mais vulneráveis ao HIV, sobretudo porque o sexo com camisinha custa 200 meticais (sete dólares americanos), ou seja a metade do custo do sexo desprotegido, cotado na cidade a 400 Meticais (13,7 dólares americanos). Com uma seroprevalência calculada em 23 por cento, o distrito de Manica é um dos mais afectados pela epidemia na província de mesmo nome, devido à sua localização geográfica, que coincide com o corredor que liga Zimbabwe, Malawi e Botswana – países cujas taxas de seroprevalência são das mais altas do mundo e muito acima da média nacional de 15 por cento.

Activistas

A prática da prostituição ainda é ilegal em Moçambique, apesar do Inquérito Nacional sobre a Prevenção de SIDA de 2006 ter mostrado que o sexo comercial é prática comum, com 46 por cento dos entrevistados recorrendo ao sexo comercial, principalmente no centro e norte do país. Estima-se que existam cerca de 30 mil trabalhadoras do sexo no país. Por isso, organizações como a OMES estão a tentar recrutá-las como novas aliadas na resposta à epidemia.

 “Com o aumento galopante da prostituição em Manica era difícil fazer vista grossa à realidade. Há vários estrangeiros solteiros e com algum poderio económico, devido ao comércio ilegal de minerais e isso atrai as prostitutas” disse Maria Clara Paulo, coordenadora da OMES em Manica. Um projecto da OMES está a transformar as trabalhadoras de sexo em activistas de SIDA desde 2007 e começou com uma “intervenção de emergência” próxima à fronteira. Nestes dois anos, 130 trabalhadoras de sexo já se tornaram activistas, sendo que 70 delas são naturais do Zimbabwe. Hoje elas trabalham para a OMES nas áreas de fronteira – uma manobra estratégica, segundo Paulo, já que os clientes da região preferem as prostitutas zimbabweanas. “Temos resultados encorajadores.

Algumas das trabalhadoras de sexo seropositivas reduziram o número de parceiros diários, uma vez que precisam de se manter estáveis e fisicamente saudáveis”, disse Paulo. Paralelamente, uma iniciativa de formação em gestão de negócio está a ajudá-las a criarem uma independência financeira e ter possibilidade de negociar o uso de preservativo. “Nas entrevistas de recrutamento as prostitutas revelaram que não tinham bases familiares estáveis, tendo o sexo como único sustento.

Para não as tornar mais vulneráveis, em caso de não ter cliente, elas têm pelo menos que comer, proveniente do pequeno negócio. Mas atingimos um pequeno número delas por falta de fundos”, disse Paulo. Para Mambondin, a iniciativa de transformar trabalhadoras de sexo em activistas trouxe benefícios na sua profissão “pois travou a onda de trocar muito dinheiro por sexo desprotegido. Agora ninguém (entre as activistas) aceita sexo sem camisinha”.

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