As 33 crianças recuperadas de um suposto tráfico realizado por uma organização cristã americana no Haiti protegiam-se umas as outras no domingo e o medo em seus olhos comprovavam o drama da infância num país destruído. Uma menina de um ano, vestida de vermelho, ao lado de outros pequenos de 7, 4 e 5 anos, fixa o olhar nos adultos que se aproximam para ver como está e, ao mesmo tempo, aperta a mão do amiguinho a seu lado.
“Por motivos legais não se pode divulgar as identidades de nenhum desses menores”, advertiu à AFP Patricia Vargas, directora regional da organização não governamental SOS, que, no sábado, atendeu ao pedido do Instituto Haitiano de Bem-Estar Social para acolher este grupo de crianças vindo da fronteira com a República Dominicana. “A maioria possui família. Os maiores, de até 12 anos, disseram que seus pais estão vivos, e até forneceram endereço e números de telefone”, contou Patrícia.
Na fronteira entre as duas nações da ilha Hispaniola a polícia haitiana se deparou com um ônibus onde viajavam 33 meninos e meninas acompanhados de adultos americanos, sem qualquer documento legal para tirá-los do país. Enquanto brincam nas instalações do SOS Village, hoje uma espécie de oásis em meio à destruição da capital haitiana, a menininha de um ano continua apertando a mão dos amigos maiores que, com o olhar também desconfiado, tentam protegê-la, abraçando-a. No interior do SOS Village, organização encarregada de atender aos menores em situação de vulnerabilidade, dezenas de voluntários do Chile, da Guatemala e Costa Rica, entre outros, não escondem o espanto.
“Mesmo com elementos que nos levavam a suspeitar de tráfico de crianças, não deixa de ser um choque”, disse à AFP Georg Willeit, encarregado de mostrar o centro e zelar para que nenhuma pessoa faça perguntas a estes pequenos “traumatizados”. “Vários apresentam um sono agitado”, explicou Willeit pouco antes de abrir a porta de uma das dependências do centro, decorada como um lar, onde dormia um bebê no sofá. Três pré-adolescentes velavam por seu sono. O bebé chegou sábado com problemas de desnutrição e desidratação, pelo que teve de passar a noite no hospital.
Outros voluntários contaram à AFP que, depois do terremoto de 12 de janeiro em Porto Príncipe, vários pais se aproximaram da sede do SOS, com fotos, perguntando sobre o destino de seus filhos.
Entre os acampamentos de refugiados e as ruas cheias de escombros aparecem crianças de todas as idades que, às vezes, fogem da vista de seus pais, correndo de um lugar a outro, com a chegada de qualquer doação de alimentos, água ou barracas.